Capítulo 80

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A marcha nupcial começou e Belle virou-se para ver Mog entrar na igreja de braços dados com Jimmy; seus olhos começaram a formigar com as lágrimas de emoção. Ela já tinha visto Mog com o vestido mais cedo, quando a ajudara a se vestir. Tinha fechado a longa linha de pequeninos botões nas costas do vestido azul-claro e colocado o chapéu azul e branco, que fizera, na cabeça de Mog.

No entanto, vê-la naquele momento, o rosto corado e o sorriso aberto como uma garotinha enquanto andava na direção do seu homem, era muito emocionante. Era início de setembro e fazia um glorioso dia quente de sol. Do lado de fora da igreja de All Saints, em Blackheath, as famílias estavam fazendo piqueniques e os idosos estavam sentados ao sol nos bancos.

E, mais à frente na rua, esperando que Mog e Garth virassem o senhor e a senhora Franklin, estava o Railway Inn, o pub dos sonhos deles. Já fazia três meses que Mog e Belle moravam em dois quartos na Lee Park, uma rua quieta e contornada por árvores , para que Mog e Garth pudessem se casar em Blackheath.

Garth e Jimmy continuaram no Ram's Head, não apenas para vencê-lo e esperar a finalização dos trâmites legais da compra do Railway Inn, mas pelo bem das convenções sociais. Em Seven Dials, as pessoas não se preocupavam muito, mas eles sabiam muito bem que começar um negócio em uma área respeitável exigia que eles fossem vistos como cidadãos respeitáveis também.

Belle havia pensado que ela e Mog achariam muito difícil se adequarem às tradições das esferas mais educadas da sociedade, mas, para a surpresa das duas, não foi tão complicado. Se perguntavam, Mog dizia que tinha sido governanta e Belle empregada da mesma casa.

Quando estavam sozinhas, elas com frequência riam disso, pois, em muitos aspectos, era verdade. Mog sempre fora muito bem educada e criara Belle para ser igual; assim, não havia muitas armadilhas para elas. A única coisa com a qual estavam achando muito difícil se acostumar era o senhorio e os outros homens que encontravam. Eles a tratavam como florzinhas delicadas, sem cérebro nem opinião própria.

Ainda assim, três meses sem muito a fazer além de passear, ler e costurar deram a elas tempo para estudar as classes médias, ajeitar seu comportamento de acordo com elas e ter um merecido descanso enquanto planejavam o futuro. Porém, enquanto observava Mog andar pela nave da igreja até o altar, onde Garth esperava com o padrinho, John Spratt, seu velho amigo, Belle sabia que Mog estava muito feliz por esse ócio forçado ter acabado.

Finalmente ela poderia transformar os quartos dos andares de cima do pub em um lar de verdade e ter Garth ao seu lado para sempre.

- Mog está linda - Annie sussurrou para Belle. - O chapéu dela parece ter vindo da Bond Street. Você realmente tem talento para criar chapéus. E está muito bonita também!

Belle brilhou com o elogio da mãe. Ela estava usando um vestido rosa-claro de seda artificial com babados na bainha e um chapéu branco, os dois feitos por ela mesma. Sabia que nunca seria tão próxima de Annie quanto era de Mog, mas as duas estavam se esforçando bastante. Depois daquele terrível dia com Kent, Garth tinha ido até a casa de Annie e insistido que ela fosse ver a filha e explicasse sua participação no acontecimento.

Belle viu então um lado diferente da mãe: uma mulher vulnerável que havia construído uma casca dura em torno de si, acreditando que, ao manter-se indiferente, poderia proteger-se de mais sofrimento.

Annie explicou que um homem que a conhecera no passado tinha se hospedado na sua pensão. Como esse homem já sabia bastante sobre ela, e parecia gentil, Annie contou para ele sobre Belle e disse que não a via desde que ela voltara da França.

Quando Annie ficou sabendo da carta que supostamente havia sido escrita por ela, percebeu que o hóspede devia ser parceiro de Kent, enviado com a única intenção de conseguir informações sobre Belle. Estava claro que ele passou a história adiante para Kent, que forjou a carta.

BelleOnde histórias criam vida. Descubra agora