Capítulo 39

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- Imagine ele com o pau na mão pensando em nós. - Polly riu.

Belle subiu para seu quarto e deixou as garotas se lavarem e se vestirem de novo.Sentou-se na cama e percebeu que estava confusa. Não em relação ao queacabara de ver, mas, sim, por todas as coisas que a vida havia colocado em seucaminho, pois certamente havia algum plano por trás de tudo aquilo, e ela queriaentender o que era.

Ela fora criada em um bordel, mas não sabia o que aquilo significava. Havia vistouma menina ser assassinada e sua mãe mentira sobre o culpado. Depois,ocorreram seu sequestro e os fatos tenebrosos em Paris. E então, ela conheceuEtienne, que lhe causara muito medo a princípio, mas de quem ela aprendeu agostar e até amar um pouco. Belle deveria ter se assustado por ter sido levadaaté ali para ser uma prostituta, mas não sentia medo.

Deveria estar assustadacom New Orleans, mas, ainda assim, gostava dali. Não se ressentia nem um poucopor Martha estar colocando-a em um trabalho pelo qual havia pagado para queela realizasse.

Seria por que ela nascera para ser uma prostituta? Seria possível que alguém
herdasse a disposição para tal trabalho da mesma maneira que se herda o nariz
ou a cor da pele da mãe?Em parte, ela julgava ruim que uma mulher vendesse o próprio corpo, mas poroutro lado, não se importava. Ela havia visto o prazer no rosto daquele homem,as garotas o fizeram feliz, então por que aquilo podia ser tão ruim?Mas havia outras coisas que também a deixavam confusa. Sentia falta de Mog esempre teria um lugar para ela em seu coração, mas sentia-se mais à vontade ali,com Martha e as garotas, do que em Londres. Por quê? Não seria algo desleal desua parte?Se Etienne tivesse tentado algo com ela,
Belle acreditava que não teria sido
capaz de resistir. Isso certamente era prova mais contundente de sua naturezadesajustada. Na verdade, parecia que ela não conseguia mais definir o que erabom ou ruim, pois tudo havia se misturado e borrado.Uma batida de leve na porta assustou Belle e ela ficou ainda mais surpresaquando Martha espiou.

- Posso entrar, querida? - perguntou ela.

- Sim, claro - respondeu Belle, sentindo-se esquisita por ter sido surpreendida. -
Eu já ia descer de novo. Sinto muito.

- Não se preocupe com isso - disse Martha, sentando-se na cama estreita. - Vocêprecisava se recompor, compreendo.

Belle notou que a senhora parecia compreender tudo o que as pessoas faziam.Nem uma vez a flagrara elevando o tom de voz, com raiva.

- Acredito que o que você viu esta noite foi um pouco surpreendente, certo? -
Martha continuou.

Belle esperava que ela usasse a palavra chocante em vez de surpreendente.

- Sim, senhora - sussurrou Belle, desviando o olhar.

- Você não esperava que as garotas se divertissem tanto ou que o cavalheiro
ficasse tão satisfeito?Belle assentiu.
Martha suspirou profundamente.

- Pessoas respeitáveis, frequentadoras da igreja, parecem não perceber que
fomos feitos para gostar de sexo. Não serve apenas para fazer bebês, querida.
Amar uns aos outros no sentido físico faz bem para todos nós, é a cola que
mantém um casamento em pé e torna-o feliz. Se as esposas dos homens que
atendemos aqui aprendessem a gostar de trepar, não haveria a necessidade de
existirem casas como a minha.

Belle corou. Martha e todas as garotas usavam aquela palavra com muita
frequência, e ela a considerava desconcertante.Martha ergueu o queixo de Belle com um dos dedos.

- Veja só! Você está corando. É assim mesmo, querida, é melhor aprender a dizera palavra e deixar de ser recatada. Quando você aprender como é bom ser
amada por um homem, verá as coisas com mais clareza. Acredito que deveria terpermitido que Etienne passasse a primeira noite aqui com você. Ele é do tipo quechama a atenção de qualquer mulher.

- Ele era casado - disse Belle, abismada.

Martha riu.

- Querida, você acha que me importa que homens casados venham a esta casa?
Belle sorriu, pois acreditava que mais da metade dos homens que iam lá eram
casados.

- Não, acho que não.

- Etienne tinha... Como posso dizer? - Martha fez uma pausa para escolher a
palavra certa. - Carisma! Duvido que ele já tenha pagado por alguma mulher.

- Ele foi muito correto comigo - respondeu Belle.

- E isso faz com que uma mulher sinta ainda mais vontade de ser incorreta -
Martha riu. - Mas, querida, acho que está na hora de acordar você para a realidade.

Belle teve o sonho mais vívido e perturbador naquela noite. Estava nua, deitada em umacama grande e cercada por homens que esticavam os braços para tocá-la. Não estavamsegurando-a, apenas fazendo carícias leves que faziam com que ela se sentisse em
brasas. Acordou banhada em suor, com a camisola erguida e tinha quase certeza de queestava acariciando sua genitália da mesma maneira que vira Anna-Maria fazer naquelanoite.

BelleOnde histórias criam vida. Descubra agora