Ele segurou os ombros dela e seus dedos enterravam-se na fina pele que os cobria.
- Você estava bem o bastante quando chegou. Se pode se entregar a qualquer homem que encontro para você, por que não para mim? Os olhos dele não estavam mais sem expressão, brilhavam de raiva, e Belle sentiu uma pontada de medo.
- Porque gosto de você e o respeito como amigo - ela mentiu. A mão direita dele saiu do ombro de Belle e ele bateu nela com força, primeiro em um lado do rosto e, depois, do outro.
- Não minta para mim. Sei que você me despreza porque sou um mero concierge. A cabeça de Belle já doía de verdade, pois ela havia ficado desconcertada com os cruéis tapas.
- Isso não é verdade - Belle rebateu, sem fôlego. - Não o desprezo por ser um concierge. Por que faria isso? Tivemos um bom acordo até agora. Deixe-me ir embora. Por favor!
- Depois que você me der o que quero - ele gritou para ela e, depois, agarrou com força o decote do seu vestido e rasgou a parte de cima dele. Belle gritou e tentou fugir dele, mas ele era mais forte do que parecia e segurou o braço dela, afastando-a da porta e levando-a para o sofá. Por baixo do vestido, ela usava uma chemise listrada em cor-de-rosa e creme que mal cobria seus seios e, com o vestido rasgado, se sentia nua. Quando ele a empurrou para o sofá, ela mordeu a mão dele com o máximo de força possível, fazendo-o sangrar.
- Tu vas le regretter, salope que tu es! - ele exclamou e a soltou para sugar o sangue da mão. Belle aproveitou o momento, empurrou-o e correu para a porta. Porém, descobriu que ela estava trancada e a chave não estava lá, e Pascal estava bem atrás dela. Ele segurou o ombro dela, virou-a e deu um soco em seu rosto, tão forte que a cabeça dela bateu na porta.
- Você não pode sair - ele berrou. - Vai ficar até eu terminar com você.
Imediatamente, ela sentiu que voltara àquele quarto na casa da Madame Sondheim, presa e indefesa. Seu rosto queimava, ela sentia o gosto de sangue na boca e estava apavorada.
Em um lampejo de percepção, ela viu que devia ter entendido que a atitude servil e competente adotada por Pascal com os hóspedes do Ritz eram apenas um disfarce polido. Por baixo, havia um vulcão de inveja intensa. Ele provavelmente se ressentia com todos os ricos e bem-sucedidos, porque sabia que nunca teria aquela vida. No entanto, ele acreditava que ela podia ser dele porque era apenas uma prostituta.
- Por favor, não faça assim - ela implorou, forçando-se a parecer doce e bem comportada, agarrando-se ao vestido rasgado para esconder os seios.
- Apenas começamos com o pé esquerdo. Você não devia ter fingido que eu ia me encontrar com Philippe. Eu teria ficado feliz em passar a noite com você se pedisse.
- Mentirosa! - ele gritou. - Quando eu abri a porta, vi seus verdadeiros sentimentos estampados no seu rosto. Fui tão bem recebido quanto uma cobra! Você sorri e flerta com qualquer outro homem. Você faz tudo o que eles querem desde que ganhe dinheiro. Mas nem olha para mim.
Com isso, ela olhou diretamente para o rosto dele, embora seu olho direito estivesse inchando e ela mal pudesse enxergar com ele. Havia tanta raiva na expressão de Pascal; as narinas abertas; os lábios como uma linha reta e os olhos frios. Ela tremeu.
- Nós tínhamos um acordo de negócios - ela repetiu, esforçando-se para não chorar. - Achei melhor continuar assim.
- Não quero um acordo de negócios, quero que você seja minha amante - ele rosnou. Ao perceber que essa discussão poderia não ter fim e ele apenas ficaria mais nervoso e bateria nela de novo. Belle sentiu que devia tentar acalmá-lo.
- Por que não começamos novamente? - ela sugeriu. - Voltamos para perto da lareira, bebemos mais e conversamos um pouco?
- Não quero conversar, quero transar com você - ele gritou para ela. Belle afastou uma sensação de enjoo. Seu rosto pulsava, ela tinha medo dele e a ideia de ser forçada a fazer sexo com um homem enlouquecido era horrenda. Porém, não havia alternativa, ele não iria deixá-la escapar.
- Está certo então - ela disse. - Aonde que ir, ali perto da lareira ou para o andar de cima?
Ele a agarrou pelos braços e literalmente a empurrou de volta para a sala de visitas, jogando-a no sofá.
- Não seja tão agressivo - ela pediu, com fraqueza, mas ele já estava subindo a saia do vestido dela enquanto se ajoelhava e, com a outra mão, desabotoava as calças.
Nos dois anos anteriores, Belle pensava ter encontrado todo tipo de técnica sexual, dos novatos atrapalhados aos amantes habilidosos, com todas as centenas de variações entre eles. Ela havia aprendido a deixar de lado a memória de ter sido estuprada; era necessário, ou nunca teria conseguido lidar com sua nova vida da casa de Martha.
Quando ela estava com um homem de que não gostava ou era incompetente e desajeitado, o truque era imaginar que estava com Serge e pensar nas delícias às quais ele a tinha apresentado. Porém, tudo em Pascal tornava impossível imaginar cenas agradáveis ou ter outro sentimento que não fosse nojo, pois ele era tão bruto e sem sentimento quanto os estupradores, mais nauseante que o pior bêbado.
Ele forçava a língua para dentro da boca dela, trazendo tanta saliva que ela quase vomitava. Ele explorou sem cuidado suas partes delicadas até que Belle gritou de dor, e ela sabia que as palavras que ele murmurava em francês deviam ser detestáveis e estava feliz por não entender.
O pênis dele era longo e fino e estava duro como se fosse de madeira. Ela tentou todos os truques que sabia para fazê-lo ejacular logo, mas não teve sucesso. Aquela provação continuava e ela se sentia violentada de todas as maneiras, pois ele mordia seu pescoço e seus seios com tanta força que ela sabia que devia estar sangrando. Ele beliscava e arranhava as coxas e as nádegas dela como se odiasse o corpo feminino e quisesse desfigurá-lo. No entanto, por fim, quando ela sentia que nunca iria acabar, ele gozou com um soluço abafado.
Por alguns segundos, ficou deitado, ofegante, sobre ela e, de repente, levantou-se e arrumou as roupas.
- Vou lhe mostrar o banheiro - ele disse, sucinto. Belle descobrira que quase todos os homens ficavam mais gentis depois do sexo, mas não Pascal.
O rosto dele estava mais sério e frio do que antes; seu cabelo, geralmente tão arrumado e cheio de óleo, estava bagunçado, mas era a única evidência de que ele fizera algo fora do comum. Ele pegou o pulso dela e praticamente arrastou-a escada acima, até o primeiro andar.
- Aqui - ele disse, abrindo uma porta, e empurrou para entrar. Não era um banheiro, como ela esperava, mas um pequeno quarto no sótão. Ela virou-se para avisá-lo do erro, mas ele já tinha saído e fechado a porta. E ela o ouviu trancá-la.
- Pascal! - ela berrou. - Deixe-me sair. Preciso usar o banheiro.
- Há um penico aí e água para você se lavar - ele gritou de volta. - Você vai ficar aí.
Ela gritou e esmurrou a porta, mas pôde ouvi-lo descer a escada, dizendo que não adiantaria gritar, pois ninguém iria escutá-la. Por alguns minutos, ela ficou parada, espantada demais para reagir. O quarto parecia ser da empregada; tinha apenas uma cama de ferro estreita com uma colcha estampada com flores esmaecidas por cima, um lavatório com um jarro e uma bacia e um penico embaixo, uma cômoda e um tapete velho sobre as tábuas do chão.
Havia persianas na pequena janela e ela as abriu, apenas para descobrir que não havia vidro, somente madeira pregada com firmeza em torno da moldura.
De repente, a luz elétrica foi apagada e ela gritou em protesto, percebendo que ele devia tê-la desligado no andar de baixo. Porém, sabendo que ele devia ter apagado a luz por algum motivo, ela ficou em silêncio e escutou com atenção. Ela ouviu os passos dele no piso de azulejos do hall e, depois, o som da porta de entrada sendo fechada. Encostada na porta, ela chorou de medo. Ele a estava deixando lá presa!

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Belle
De TodoBelle, uma jovem de quinze anos, viveu toda a sua vida em um bordel. Sem saber o que realmente acontecia nos quartos no andar de cima. Porém, em uma noite que poderia ter sido como qualquer outra, ela testemunhou o assasinato de Millie, uma das garo...