Belle sentiu enjoo de tanto medo enquanto descia a escada para sair da casa de Martha para sempre. Eram duas da tarde de um dia muito quente e seco, sem nenhuma brisa.
Na noite anterior, Faldo havia ido à casa de Martha para dizer que havia
encontrado um lugar para eles. Pagou por um curto período, apenas o suficiente para entregar a ela o endereço e instruí-la a respeito do que fazer, deixando-a muito ansiosa. Aquela sensação não a havia abandonado; ela passou a noite acordada pensando se aquilo era o mais certo a se fazer. Parecia que ela estava depositando toda a sua confiança nas mãos de uma pessoa sobre a qual ela sabia muito pouco.Mas era tarde demais para mudar de ideia agora, e como Faldo havia pedido, ela estava levando apenas uma pequena bolsa, onde guardava nada além de suas economias, a escova de cabelos e alguns laços enrolados. Usava o vestido azul por baixo do verde que havia recebido em Paris e, por baixo deles, tinha dois conjuntos de anáguas, roupas íntimas e camisolas. Sentia muito calor com tantas roupas, mas não havia conseguido deixar todos os seus pertences para trás como Faldo dissera ser preciso.
Tudo que Martha havia dado a ela ficou no quarto, e ela esperava que as meninas fossem capazes de dividir as peças de joias e outros pertences ali deixados.
Martha estava vindo da cozinha no momento em que Belle chegou ao fim da escada.
- Está muito quente lá fora - disse ela olhando de modo curioso para Belle, como se notasse que ela estava mais rechonchuda do que o normal. - As outras meninas estão todas no quintal dos fundos bebendo limonada.
Belle sentiu o estômago revirar. Tinha certeza de que Martha havia descoberto o que ela estava planejando.
- Quero sair para caminhar - disse ela. - É fácil ficar preguiçosa quando o tempo esquenta assim.
- Bem, não exagere - disse Martha. - Nunca entendi direito por que os ingleses gostam tanto de se exercitar.
Martha vinha fazendo comentários sutis a respeito dos ingleses já havia algum
tempo. Belle tinha a sensação de que ela estava tentando fazer com que ela
retrucasse. Certamente, ela não tinha qualquer intenção de morder a isca
naquele momento, por isso sorriu docemente.- Acredito que vou me arrepender do passeio assim que atravessar a linha do
trem - disse ela. - E então voltarei para beber um copo de limonada gelada.Martha saiu da sala naquele momento, e Belle foi para a porta da frente. Estava
chateada por não poder se despedir das meninas, afinal, à exceção de Anna-
Maria, ela havia se afeiçoado a todas as outras e sentia-se grata pela companhia, pelos conselhos e pela amizade. Ela sentiria falta delas pelas risadas, pelas conversas agradáveis e porque a presença delas a havia ajudado quando ela sentira medo, solidão e saudade de casa.Belle caminhou rapidamente para atravessar os trilhos de trem no French
Quarter, e então seguiu em ziguezague, olhando para trás de vez em quando para ter certeza de que Martha não havia mandado Cissie nem qualquer outra pessoa para espiá-la. Por fim, quando teve certeza de que não estava sendo seguida, chamou um táxi para levá-la pela Canal Street.Belle raramente saía do French Quarter e do Distrito, por isso não fazia ideia de como era a região do centro da cidade. O táxi parecia ter atravessado um longo caminho pela Canal Street antes de parar. Mas ela viu a placa para a North Carrollton Avenue e se sentiu aliviada, pois aquela era a rua certa. Mas quando o táxi parou na frente de uma das muitas casas "Shotgun" ("tiro"), ela ficou chocada e decepcionada.
Belle sabia que aquele estilo de casa de madeira de um único andar era muito
comum em todo o sul dos Estados Unidos, pois eram baratas de construir. Com pouco menos do que quatro metros de largura, com os cômodos levando de um a outro sem corredor, não havia espaço per-dido, e, ainda recebiam o vento fresco no verão. Elas eram chamadas de "Shotgun" porque com uma porta na frente e outra no fundo, um tiro podia atravessar a casa.
Não havia nada de errado com uma casa como aquela; ela sabia que milhões de pessoas ficariam felizes com uma moradia como aquela. Mas ela imaginava que

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Belle
RandomBelle, uma jovem de quinze anos, viveu toda a sua vida em um bordel. Sem saber o que realmente acontecia nos quartos no andar de cima. Porém, em uma noite que poderia ter sido como qualquer outra, ela testemunhou o assasinato de Millie, uma das garo...