Capìtulo 57

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- E é assim que as coisas são, Senhorita Frank - disse Belle com a voz trêmula, porque conseguia perceber que a senhora estava horrorizada pelo que acabara de escutar. - Senti que devia contar toda a verdade porque a senhora tem sido muito boa comigo.

Ela não havia dormido nem um minuto com medo do que aconteceria com ela. Por um lado, ela queria desaparecer, jogar seus pertences em uma mala e pegar o primeiro trem para fora de New Orleans. Mas uma voz fraca e sensata perguntou para onde ela acreditava que fugiria, porque seria difícil começar do zero em uma cidade desconhecida onde ela não conhecesse ninguém. Essa mesma voz sensata sugeriu que ela contasse toda a verdade à Senhorita Frank.

Como a senhora parecia gostar dela, Belle pensou que ela concordaria em dizer à polícia que seu nome era Anne Talbot se eles fossem até lá para fazer perguntas. Belle esperava que com o dinheiro que ganharia na loja de chapéus e trabalhando como garçonete, poderia permanecer em New Orleans.

- Você acha mesmo que eu estaria preparada para mentir para a polícia e dizer que conheço você como Anne Talbot? - perguntou a Senhorita Frank, depois de um momento.

Belle percebeu a animosidade na voz da mulher e sentiu o estômago embrulhar. Enquanto via o horror no rosto da senhora ao contar sua história, enganou-se ao pensar que a Senhorita Frank estivesse compadecida de seu sofrimento. Mas, naquele momento, ficou claro que ela não sentia nada além de repugnância.

- Eu não pedi para a senhora mentir. Estou trabalhando aqui e não acho que importa por qual nome a senhora me conheça - disse Belle.

- Isso é muito importante para mim - respondeu a mulher. - Ninguém muda o próprio nome se não estiver aprontando algo errado.

- Mas eu expliquei por que o Sr. Reiss me fez usar esse nome, e como cheguei a New Orleans. A senhora não acha que já sofri demais sendo sequestrada e forçada a me prostituir? Se tivesse acontecido com a senhora, não acha que teria tentado escapar a qualquer custo?

- Não acredito que você não tenha tido escolha. Acho muito mais provável que você tenha fugido de casa e inventado essa história ridícula para ficar com o papel de vítima - disse a Senhorita Frank de modo reprovador, demonstrando indignação no rosto e na expressão corporal.

- Não sei também se acredito que esse homem que a sustentava morreu de causas naturais. Afinal, está claro, pelo hematoma em seu rosto, que vocês estavam brigando! Mas, deixando isso de lado, você tem ideia do que seria para meus negócios se minhas clientes soubessem o que você é? Elas não entrariam nesta loja, muito menos experimentariam um chapéu no qual você tenha tocado.

Belle sentiu-se como se tivesse levado um soco no estômago. Nem por um momento pensou que a Senhorita Frank não fosse acreditar nela, nem imaginara que a mulher consideraria uma prostituta como alguém tão perigoso quanto um leproso.

- Elas não vão pegar nada de mim - disse ela. - Mas podem pegar de seus maridos, pois pode apostar que a maioria deles vai ao Distrito com frequência. A Senhorita Frank mostrou-se chocada.

- Como ousa dizer algo tão maldoso? De repente, Belle viu que tinha sido uma tola por imaginar que aquela solteirona pudesse compreender as coisas pelas quais ela havia passado. A sociedade na qual ela crescera era totalmente afetada.

E a maioria das mulheres como ela não tinham qualquer conhecimento nem mesmo a respeito do próprio corpo. Mesmo que Belle tivesse dito apenas que um homem a beijara, a Senhorita Frank ficaria indignada. Mas Belle não imploraria por perdão por algo que não era a sua culpa. Tampouco choraria. E não permitiria que aquela mulher tola se escondesse atrás de suas opiniões ridículas e puritanas.

BelleOnde histórias criam vida. Descubra agora