Capítulo 14

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Foi a mais dolorosa, nojenta e humilhante experiência, e mesmo depois de tantos anos, ela podia sentir o cheiro do suor daquele homem, o uísque em seu hálito e sentir mais uma vez a sensação de ser esmagada viva por seu corpo pesado em cima dela. Ela gritava, machucava demais, mas ele parecia gostar daquilo, e quando finalmente tudo acabou, ele examinou as partes íntimas dela e sentiu prazer em ver sangue.

Annie era apenas uma criança na época. Não tinha seios, apenas um corpo magro como o de um garoto!
Ela sabia agora que tinha sido apenas uma das milhares de crianças raptadas nas ruas. Por toda a Londres, inescrupulosos donos de bordéis pagavam pessoas, frequentemente mulheres com aparência maternal, para procurar jovens garotas para o negócio. Grande parte das garotas era tratada como Annie: aprisionadas e mantidas semifamintas para que fossem submissas. Às vezes apanhavam até seu espírito estar totalmente destruído.

A maioria, uma vez que quando criança foi abusada desse jeito, se sentia destruída tanto mentalmente quanto fisicamente, e ficava na prostituição porque não conseguia enfrentar a volta para casa. Com Annie foi a mesma coisa; ela sabia que se sua mãe soubesse o que tinha acontecido, ela nunca se recuperaria.
Então perdeu sua família para sempre; achava preferível pensarem que não se importava com eles do que saber que tipo de trabalho ela fazia.

Alguns anos depois, Annie encontrou em si mesma a força interior de que
precisava para fugir dos demônios daquele bordel, e a sorte brilhou para ela desde que encontrou uma relativa segurança na casa da Condessa, em Jake's Court. Lá ela aprendeu a suportar, se não gostar, da profissão na qual tinha sido jogada. Às vezes, na companhia das outras garotas, era até feliz.

Na época em que a Condessa passou a casa para ela, Annie considerou vendê-la e usar o dinheiro para abrir uma loja em uma área respeitável. Mas aquilo era tudo que ela conhecia na época, e se começasse outro negócio e falhasse, perdendo
todo o dinheiro, como ela e Belle viveriam? Annie pensou cuidadosamente sobre o assunto e pareceu-lhe que, enquanto os
homens tivessem desejo por sexo, sempre haveria pessoas ganhando dinheiro com isso. Então tomou a decisão de continuar nos negócios, mas prometeu a si mesma que a casa seria uma das boas. Ela sempre pegaria apenas garotas que queriam e tinham experiência. Ela as alimentaria bem, conferiria sua saúde e limpeza, e não ficaria com todo o dinheiro que ganhassem. E parecia ser perfeito.

Ela nunca, e jamais, ofereceria uma criança para alguém. Os homens frequentemente pediam a ela que encontrasse uma para eles, mas Annie sempre mostrava a eles a porta da rua, deixando-os bem conscientes do que ela pensava sobre esse tipo de prática doente.

Agora que Belle estava desaparecida e talvez na iminência de ser abusada por um homem monstruoso, ela percebeu como foi estúpida por não ter previsto algo assim. Como imaginou que poderia manter Belle a salvo quando a menina vivia
num bordel?

- Você estava certa, eu deveria tê-la enviado para um internato - Annie disse, com a voz cheia de emoção. - Foi estupidez mantê-la aqui comigo.

Annie sabia exatamente por que não tinha mandado Belle para longe. Era porque ela era a única coisa boa na vida dela, na verdade sua única razão de viver. Sentia que ao mantê-la por perto, poderia protegê-la de qualquer mal que se aproximasse.

Ela olhava para Mog com os olhos cheios de lágrimas.

- Mesmo se isso não tivesse acontecido, mais cedo ou mais tarde ela perceberia o que estava acontecendo.

- Pare de se culpar e comece a pensar quem pode nos ajudar. Mog não sentia prazer em ter razão sobre mandar Belle para longe. Além disso,
apesar de ter estimulado isso, ela sentiu apenas alívio quando Annie se recusou a fazê-lo. Belle era tão preciosa para ela que somente um dia sem ela era muito longo.

- Qual é o nome do homem que era gentil com Millie? O jovem com as bochechas vermelhas. Ele não é um tipo de investigador?

Annie franziu as sobrancelhas.

- Noah Bayliss! Acho que você está certa. Millie disse que ele escrevia para um jornal também. Mas como o encontraremos?

- Podemos começar olhando no livro de registros da casa - Mog disse. - Sei que eles todos colocavam nomes falsos, mas Noah não era o que se podia chamar de um "jogador regular", ele deve ter colocado seu verdadeiro endereço.

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