CapítuloVII- Rastros de Compaixão

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"Compaixão...me ensine a ser um monster de verdade por que se eu for boa vou ser massacrada, mas se eu for má, serei a rainha desse pesadelo...."

  - Lucy..... - Sussurrou uma voz feminina ao longe, eu estava zonza, tentando entender onde eu estava. Aquela voz.... Eu conhecia aquela voz... - Lucy... - Sussurrou novamente e então eu abri os olhos.

  Agora estava consciente. Antes eu sonhava com uma voz... Era a voz da minha mãe... Ela estava me chamando, mas ao acordar eu percebi que aquilo era apenas um sonho, aquela doce voz não estava presente, o único que estava era Bang, e ele estava me encarando como sempre, encostado na parede num canto. Sem interesse e intediado. Me sentei abruptamente assustada, foi então que percebi que estava deitada numa cama, no quarto dele, e de roupas trocadas.
  - Quem trocou minhas roupas? - Perguntei entre dentes o fulminando com os olhos.
  - Foi a diarista que trabalha aqui. - Respondeu Bang desinteressado e deu alguns passos adiante se aproximando, não me encolhi como faria se estivesse com a humanidade ligada, ao invés disso o encarei de cabeça erguida. Bang estava com os braços cruzados sobre o peito, como um adolescente rebelde, me encarando com curiosidade.
  - Você sabe o que você fez com Rive? - Perguntou Bang e eu me afastei dele, indo pra trás e saindo da cama. Não ousei dizer nada. - Responda-me. - Ordenou ele com a voz calma e passiva. Era amedrontador sua voz grave falar com calma, parecia que a qualquer momento ele iria gritar e me bater do nada apenas pra me assustar.
  - Não quero ficar perto de você. Quero sair daqui. - Falei e Bang deu a volta na cama para chegar perto de mim, passos calmos, mas mesmo assim dava para perceber que estava com raiva, seus olhos negros delatavam sua fúria com nítidez. Ele inclinou a cabeça um pouco para o lado me encarando, aquele ar frio que estava instalado no quarto invadiu meus pulmões quando respirei. Estava tudo muito calmo, até Bang perder a paciência por que não lhe respondi como queria, e me jogar contra parede, me enforcando. Imprevisível como sempre. Meu coração disparou com o susto, e logo a seguir agarrei o pescoço de Bang apertando-o. Etavamos frente a frente, um enforcando o outro.
  - Não deveria achar que pode lutar contra mim. - Falou Bang irredutível e respirei fundo tentando assimilar, a mão dele no meu pescoço estava fortemente pressionada, seus dedos investiam com força. Mas, mesmo assim, ele não parecia estar com toda moral para me dar ordens.
  - Ou se não o que? Vai soltar um zumbi pra cima de mim outra vez? - Perguntei entre dentes cerrados. Apertei mais minha mão em seu pescoço, Bang continuou resistente. Então, como o homem imprevisível que ele era, abriu um sorriso macabro, e só então que eu fui me lembrar que, Bang podia se transformar em aberrações demoniacas, por isso ele era mais forte que Rive e mais perigoso. E por isso eu não poderia medir forças com ele. Segundos depois de sorrir, Bang começou a se transformar, sua pele começou a ficar escamosa e granulosa, seus olhos ficaram com a púpila fina, suas pernas começaram a alongar, seu corpo se revirou por dentro tomando forma, e sua língua começou a sair pra fora, em questão de pouco tempo, eu estava segurando o pescoço de uma cobra de seis metros muito grossa. Num grito larguei o pescoço da cobra a jogando do outro lado do quarto.
  - Meu Deus! - Arquejei enquanto a cobra começou a se rastejar pelo piso vindo na minha direção. Um arrepio subiu pela minha espinha e eu subi em cima da cama por impulso, ai como eu odiava aquele desgraçado! A cobra começou a subir na cama, quando aquele ser nojento chegou no colchão eu pulei da cama, indo para um canto da parede, e Bang veio na minha direção, rastejando seu corpo ágil sobre o lençol da cama e pondo a língua pra fora. Meus dedos tremiam nervosamente. Eu não sabia o que fazer, e mesmo que soubesse, não conseguiria fazer nada por que estava congelada de medo. Quando a cobra chegou até meus pés eu tentei chutá-la mas ela foi mais articulada e se enrolou nos meus calcanhares, todos os cabelos do meu corpo se arrepiaram, eu engoli em seco e meu estômago se embrulhou, a cobra começou subindo pelo meu corpo me prendendo, fiquei imóvel, a pele fria da cobra contrastando com a minha pele lisa estava me dando calafrios. Ela prendeu meus braços colando-os ao meu corpo.
  - Bang... - Foi a única coisa que escapou dos meus lábios quando a cobra começou a espremer meu corpo com o dela, apertando todos os meus ossos e tirando meu ar, a cobra se enrolou mais pela extensão do meu corpo até se enrolar no meu pescoço e começar a me sufocar, foi neste momento que a raiva que eu sentia de Bang aumentou e a adrenalina invadiu minhas veias novamente.
  Perdi a paciência e abri os braços, afastando-os do corpo e rasgando a pele da cobra com minhas garras para que libertasse meus movimentos dos braços. A cobra sibilou e apertou com mais firmeza meu pescoço, eu bati as costas na parede e cravei minhas garras na pele da cobra que estava enrolada no meu pescoço, a cobra então deu um bote contra meu rosto, cerrei os olhos, e segundos depois senti meu sangue começar a escorrer pela minha bochecha, a cobra havia feito um corte profundo com os dentes ao lado do meu rosto, por pouco não atingiu meu olho direito, com raiva emanando do meu corpo que estava sendo espremido pela cobra agarrei o bicho pelo pescoço e cravei os dentes em sua pele granulosa, minhas presas deslizaram e penetraram o pescoço da cobra, o sangue de Bang invadiu minha boca, era gelado e doce como mel explodindo em doçura na minha língua, e a cobra apertou mais meu corpo quebrando os ossos das minhas costelas. Eu queria gritar enquanto sentia um por um dos meus ossos quebarem por dentro do meu corpo, e rasparem pontas nos meus órgãos internos mas me contive, cravei minhas presas com mais agressividade na pele da cobra que sibilava em fúria. Meu corpo todo suava frio e minha pele estava arrepiada mas eu queria o sangue de Bang, era doce e puro, uma verdadeira tentação. E eu ia matá-lo. Eu iria arrancar sua cabeça depois de tomar todo o seu sangue e jogaria seu coração dentro do mar para ser comido por tubarões. E então iria embora pra longe. Qualquer lugar bem longe dessa mansão onde eu tanto sofri.
  Comecei a ficar fraca, o veneno da cobra estava se espalhando pelo meu sangue me contaminando, mas eu não ia parar antes de matá-lo, a cobra espremeu mais meu corpo e eu arfei perdendo o ar, foi quando senti uma dor horrível, parecia que alguém havia rasgado meu pulmão esquerdo, algum osso quebrado devia ter perfurado meu pulmão, não larguei a cobra mesmo assim e ela me apertou mais, minha garganta começou a queimar e sangue começou a escorrer pelo meu nariz, meu nariz ardia e parecia que eu tinha passado um caco de vidro na garganta, estava ardendo e doendo demais. A cobra apertou mais e eu sufoquei um grito abafando-o na pele da cobra, eu não ia largar Bang, não ia, mas meu corpo estava fraco e meus joelhos quase cedendo. Meu corpo todo formigava e a parte de trás da minha cabeça estava latejando muito. Tentei respirar e me engasgei com o sangue que ao invés de descer subia pela minha garganta. Quando eu pensei que não aguentaria mais e iria me render, vários homens fardados entraram no quarto, arrombando a porta e gritando com armas apontadas dizendo para Bang se entregar. Em questão de segundos Bang se transformou em humano novamente, eu larguei seu pescoço, ele arfava, estava sem camisa e escorria sangue de sua garganta, seu corpo quente estava contra o meu e eu podia sentir seu coração acelerado batendo contra o meu peito através da pele, eu estava boqui-aberta tentando recuperar meu oxigênio e Bang estava com a cabeça abaixada, sério e com um semblante sem emoções. Ele ergueu os braços em rendição e se afastou do meu corpo sem dizer nada. Por mais que minha visão estivesse embaçada por causa da dor, eu ainda consegui reconhecer um deles entre os homens que invadiram o quarto, Vlad estava lá.

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