Capítulo XLVIII - Universo Paralelo/ Parte 5

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Comecei a correr com mais força de vontade, o trem estava vindo com muita rapidez, não ia dar tempo de fugir, ele ia nos alcançar! Olhei pro céu e lá, como se tivesse surgido do nada, tinha um relógio de bolso, tomado pela cor prata e antigo, substituindo o sorriso pálido da lua, entre algumas nuvens descomunais cinzentas e azuladas, ele estava funcionando e o som dos ponteiros que antes eram inauditíveis agora estavam fazendo um barulho ensurdecedor.
- Por que estamos aqui? E por que está acontecendo tudo isso??! - Perguntei aflita, gritando para conseguir falar acima do barulho dos ponteiros do relógio. Vlad apertou mais minha mão e seu olhar preocupado cruzou o meu por um breve momento.
- É uma parte da minha memória! - Gritou de volta voltando a olhar pra frente - Quando eu escapei pela primeira vez das mãos do Bang tentei me matar me jogando na frente de um trem, não deu muito certo e enquanto meus ossos regeneravam o Bang me encontrou. - Explicou ele e eu suspirei mesmo que ofegante, por que o Bang tem que ficar perseguindo as pessoas se elas fogem?!! Se estão fugindo é porque não querem ver a cara dele de novo e não o contrário como ele interpreta!!
Olhei de novo pro relógio, eu já tinha visto ele em algum lugar, eu tenho certeza, mas não consigo me lembrar de onde...
Em meio a tantos pensamentos ansiosos por uma saída daquela enrascada, algo óbvio surgiu na minha mente. Não tem como fugir. Olhei pra trás e o trem estava se aproximando cada vez mais, assoando o apito para que saímos da frente, como se houvesse esperanças de escaparmos da dor. Mas não há. Se isso é uma memória, não tem como impedir e não tem como mudar, vai acontecer, a gente querendo ou não.
- Vlad não tem como impedir! - Gritei com dificuldade, minha garganta estava seca, e minhas pernas estavam rígidas de tanto correr, parecia que aquele trilho não tinha fim.
- Eu sei... - Gritou ele de volta pra mim.

Eufóricos e desesperados paramos de correr, não ia ter como fugir teríamos que encarar de frente a situação, por mais que isso doesse pra caramba. Nos viramos para o trem que já estava a cem metros de distância pra nos alcançar. Parecia que ia doer, muito! Meu busto subia e descia e eu ofegava. A respiração estava entrecortada e o ar parecia estar com dificuldades de sair e voltar pros meus pulmões. E o que me deixava mais agoniada em todo aquele cenário de horror era que as batidas rápidas do meu coração estavam cincronizadas com a movimentação dos ponteiros do relógio que se encontrava no céu. Fechei os olhos, eu não quero ver isso, eu escutava o apito do trem ficando cada vez mais alto. O relógio batendo. A mão do Vlad que segurava a minha mão estava suada e tremendo, eu não sabia descrever o que estava acontecendo comigo, eu estava tão assustada, tão nervosa, meu pobre estômago embrulhado.
Congelei a ponto de não conseguir gritar, mas escutei o grito de raiva que Vlad soltou, e então a pancada veio.

Senti meu estômago revirar e sangue subir pela minha garganta me dando ânsia, não estávamos mais lá. Do nada, como num passe de mágica, estávamos em outro lugar, eu não conseguia ouvir nada, a estrutura do meu corpo estava toda fragilizada. Eu não me sentia nada bem.
Cobri os ouvidos com as mãos, eu estava ajoelhada no chão, encolhida, com as mãos bem pressionadas na cabeça. Tudo girava ao redor, mas através das palpebras dava pra sentir que o novo local onde meu corpo fora jogado, estava infestado de claridade. Eu senti algo começar a pingar do meu nariz, dificultando a minha respiração, era sangue. Bem lentamente, abri meus olhos e a primeira coisa que contemplei foi um livro, não só um, mas vários, todos em uma prateleira cinza que se estendia por um caminho longo de um corredor bem iluminado. Pensei estar olhando pra alguma parede, foi então que recuperei a consciência e percebi que aquilo que eu estava olhando era o chão. Com dificuldades e sentindo como se meus ossos fossem de vidro a ponto de quebrar com qualquer movimento brusco, eu levantei a cabeça procurando por Vlad.
Ele estava jogado no chão, caído e encolhido como eu estava, ele estava todo vermelho, as veias em seus braços e pescoço saltavam. E ele estava com as mãos agarradas no cabelo, puxando os fios como se pudesse se segurar neles pra conseguir se manter de pé.
Mesmo que um pouco atônita eu tentei me levantar, meus braços não pareciam ter forças suficientes pra me sustentar, quando os apoiei no chão eles começaram a tremer sem parar. Com a visão embaçada eu olhei ao redor, as paredes o teto e tudo era composto por estantes cinza lotadas de livros grossos e antigos, tudo parecia um borrão que aos poucos era tomado pela nitidez. Estávamos num corredor muito bem iluminado, e no final do mesmo, tinha tanta claridade que eu não conseguia enxergar o que poderia haver além daquele corredor. Será que eu morri e fui pro céu, e acidentalmente, ao invés de ir parar nos portões de entrada cai na biblioteca de Deus?
- Vlad... - Chamei por ele, minha audição que antes parecia não existir, agora tinha voltado ao normal.
- Luciana... - Vlad respondeu com a voz rouca levantando a cabeça pra conseguir me ver e então, aos poucos ele engatinhou até mim, pressionando a mão direita no abdomem na altura das costelas. Acho que ele se machucou. Quando Vlad conseguiu chegar até mim eu me sentei, sentindo o corpo dolorido. Era desconfortável sentar em cima de um monte de livros.
- Você tá bem? - Perguntou ele se sentando ao meu lado, fazendo careta por causa da dor e eu observei sua situação, a testa dele estava escorrendo sangue. Era eu quem devia estar perguntando se ele estava bem, e não o contrário.
- Você está com muita dor? - Perguntei colocando minha mão em seu rosto e começando a limpar o sangue que estava escorrendo. Vlad cobriu a minha mão com a sua e me olhou nos olhos, aquele azul intenso que agora parecia tão sofrido me partiu o coração.
- Eu vou ficar bem, só preciso entender onde nós estamos. - Disse ele e então eu olhei ao redor de novo, tentando entender onde realmente estávamos. E como um flash de revelações bem diante dos meus olhos, meu cérebro acordou e se lembrou de duas coisas, importantes para aquele momento e o que se passou.

 E como um flash de revelações bem diante dos meus olhos, meu cérebro acordou e se lembrou de duas coisas, importantes para aquele momento e o que se passou

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