CapítuloII- Crueldade Solene/ Parte3

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Olhei para aquele pobre rapaz que estava apavorado quando senti uma dor angustiante no calcanhar e deixando a fome insuportável que eu estava sentindo de lado fui ver como estava meu corpo. Assim como Bang havia prometido meu calcanhar estava preso ao chão, tinha adaga de cabo vermelho atravessada no meu calcanhar, doia muito e eu podia sentir minhas veias rompidas ardendo e os ligamentos entre ossos e nervos todos dilacerados por causa da lámina. E além disso, nas minhas pernas haviam cortes profundos que ardiam e queimavam como fogo em minhas coxas. Com cautela e delicadeza eu me sentei, sentindo meus nervos se contorcerem onde a adaga estava enfiada e com mais cuidado do que eu aparentemente tinha, eu segurei no cabo da adaga, minhas mãos tremiam e eu estava suando frio, e o pior de tudo era que o suor escorria pela minha testa descendo pelo meu rosto e aquilo me agoniava, de uma vez só pra dor não ser tão matadoura eu arranquei a adaga do meu calcanhar que estava presa ao chão, e a dor foi gritante quando os ligamentos rompidos começaram a se ligar novamente, eu estava me regenerando, e doia muito esse processo, era como levar murros no local onde já estava doendo.
Quando eu me regenerei por completo Bang passou pela porta do quarto batendo palmas. Monstro! Eu deveria arrancar a cabeça dele e dar para meu cachorro comer! Pensei mas logo desmanchei a ideia, meu Deus o que estava acontecendo comigo? Eu jamais quis fazer mal para alguém, e eu não poderia fazer isso, isso não me tornaria diferente, me tornaria igual a ele. E eu não quero ser igual a esse monstro. Eu me arrastei para tras para que Bang não se aproximasse muito, mas ele não se aproximou. Ele estava sorrindo perto do rapaz que estava com medo, provávelmente ele já devia ter tido uma sessão de tortura com Bang, por isso estava apavorado.
- Devia se olhar no espelho, esta mais linda que o habitual. - Disse Bang e ergueu a cabeça em direção ao espelho atrás de mim, eu ainda estava com a adaga na mão e estava pensando seriamente em matá-lo mas me repreendendo novamente me virei para olhar no espelho.
Aquilo foi um choque, eu nunca imaginei que pudesse ficar assim na vida, era como se eu estivesse num dos meus pesadelos horriveis, mas não, aquilo era real, aquilo era eu. Eu gritei horrizada. Meu reflexo refletia uma criatura com olhos de pupila fina de cobra, um era vermelho e o outro de um tipo de azul cristalino fora do comum, minhas unhas eram garras agora meu rosto estava muito mais pálido do que um dia eu já vi. Minhas presas estavam expostas eu não conseguia escondelas, eu estava perplexa, chocada demais para gritar outra vez e assutada demais para me mecher. Então o rapaz não estava com medo de Bang, mas sim de mim, do monstro em que me tornei...
- O que você fez?!! - Perguntei a Bang praticamente num sussurro e ele sorriu com o canto da boca.
- Eu te mostrei o que você realmente é - Falou sem ter emoção na voz - Esse daqui - Falou apontando para o rapaz - Se chama Tao, pode matá-lo, vai ser seu alimento hoje, eu não gosto de te dar sangue de animal então tome de humano. - Concluiu como se o que estivesse dizendo não fosse nada demais, mas era, era a vida de uma pessoa.
- Eu não vou fazer isso! - Vociferei em discordia tacando a adaga no chão com irritação - Ele é uma pessoa! Ele tem sentimentos, ele tem vida, você consegue entender isso seu monstro?!! - Esbravejei e Bang fechou a cara com desdém.
- Sinceramente o unico monstro que eu estou vendo aqui é você. - Falou friamente e eu engoli em seco sentindo um nó se formar em minha garganta.
- Eu não vou matar ele. - Falei determinada e Bang, cruzando o quarto com calma e eficácia pegou a adaga do chão.
- Você vai. - Disse e então se aproximou do rapaz que estava quase chorando de tão assustado - É isso o que você faz, você é um monstro Luciana! - Ergueu a voz enquanto dizia duramente aquelas palavras. E elas doiam dentro de mim, eu abracei meu joelhos colocando as mãos nos ouvidos tentando abafar suas palavras, mas elas ecoavam pelos meus pensamentos me enlouquecendo, eu queria gritar, me jogar no chão e esperniar entre prantos desesperada e em agonia e foi quando aquele cheiro traidor invadiu meu nariz que eu enlouqueci, faltava apenas um porcento para eu perder minha sanidade, e Bang sabia disso, ele usou a adaga para fazer um corte no braço de Tao, aquilo era sufocante, e o cheiro do sangue dele preencia o quarto todo, meus olhos arderam e eu bati meus pés no chão gritando.
- Não faz isso! - Esbravejei e então quando o sangue pingou no chão eu avancei.

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