Capítulo LIII - Pesar de Sonhos

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" Luciana: As vezes o mundo pode ser mais cruel do que você esperava..."

(quem quer se emocionar quando ler, leia ouvindo "someone like you" - na voz do Taehyung) boa leitura!

- Luciana! - Jennifer gritou outra vez e então quando faltava apenas um metro de distância entre mim e ela, Vlad me pegou pelo braço e me puxou para trás de si, como se estivesse me protegendo.
- O que houve meu amor? - Perguntei para ele e Jennifer parou de correr eufórica.
- Ela quer nos destruir! - Afirmou meu pai e eu olhei pra Jennifer, por que ela faria isso? Ela não é má!
- Não acredita nele! - Falou Jennifer recuperando o ar - Eles não são reais Lucy, eles estão te matando! Você vai morrer daqui a uma hora se não vier comigo! - Afirmou ela e eu dei um passo pra trás assustada.
- Como assim?! - Indaguei e ela tentou se aproximar e meu pai me afastou mais dela.
- Me desculpa Lucy, mas é verdade, eles são ilusões, você é uma ilusão agora, não estamos no mundial real, estamos dentro de uma prisão mental, e aqui tudo é mentira e neste exato momento você está desmaiada do outro lado da praia, sangrando e morrendo lentamente. - Disse Jennifer e eu arregalei os olhos.
- Isso é impossível! - Retruquei - Eu estou no mundo real, eu estou bem aqui, não estou morrendo. - Falei mas eu me sentia tão desesperada agora, como se algo tivesse me despertado, como se eu tivesse levado um tapa e estivesse assustada.
- Vem comigo e eu te mostro a verdade. - Disse Jennifer e me estendeu a mão.
- Não filha. - Pediu meu pai - Ela vai te machucar e depois nos matar, você não pode fazer isso! Eu acabei de voltar da guerra, vamos ficar juntos, vamos jantar em casa com a sua mãe hoje a noite e vamos contar histórias embaixo das estrelas como eu fazia quando você era pequena, venha meu anjinho... - Pediu meu pai - Vamos voltar pra casa, o Vlad vai jantar conosco hoje. - Meus olhos se encheram de água, meu coração estava ficando acelerado.
- Pai... - Sussurrei e quase que minha voz não saiu, eu estava começando a ficar triste, mas por que?
- Vem Lucy! Você está morrendo! - Disse Jennifer tirando Vlad da minha frente e começando a me arrastar, tentei segurar na mão do meu pai e ela escapou entre meus dedos, como se eu não pudesse segura-lo de verdade.
- Pai! - Gritei e Jennifer começou a correr comigo, estávamos indo para aquela parte escura da praia, de onde a Jennifer tinha saído antes. Assim que meus pés descalços tocaram na areia gelada eu senti uma pontada dentro do peito, no meu coração, como se alguém estivesse o esmagando por dentro.
- Jennifer espera! Meu pai... - Tentei dizer mas ela não parou de correr, a chuva estava molhando todo o meu vestido. O céu agora estava nublado e cinza, o dia já estava escurecendo e parecia que se escuressece totalmente eu não... Eu não estaria mais aqui.
- Olhe lá! - Disse ela apontando para um corpo, de uma mulher inconsciente que estava deitada no chão, assim que nos aproximamos o suficiente eu vi quem era e o quanto de sangue que havia em sua cintura, que estava dilacerada. Era eu. Era eu morrendo.
- O que... - Eu não conseguia formular uma pergunta concreta na minha mente, eu estava tão confusa, o que está acontecendo? Onde eu estou? Por que eu estou aqui? Eu não conseguia me lembrar de nada.
- Filha não toca nela! - Bradou meu pai quando eu fui tocar no meu outro corpo caído no chão, meu pai parecia tão cansado, e Vlad estava atrás dele segurando uma rosa vermelha na mão direita, os espinhos do cabo da flor estavam cortando os dedos de Vlad e sangue escorria da sua mão entre seus dedos fechados em punho se misturando com a chuva.
Eu paralisei sem saber se era pra tocar de verdade no meu outro eu ou não. Eu não sabia o que fazer.
- Lucy você está morrendo. - Afirmou Jennifer atrás de mim e então, por impulso eu toquei na mão do meu outro corpo.
Depois que eu fiz isso, senti meu coração explodir por dentro, parando de bater e explodindo como se fosse uma bomba e o sangue e seus restos se chocarem nas paredes da gaiola da minha caixa toraxica, sujando tudo por dentro. Olhei uma última vez para o meu pai e Vlad que estavam a alguns metros de distância. Com a chuva eles foram se dissolvendo, chorando e se dissolvendo numa poça de sangue e água. Então eu cai me desintegrando.

Abri os olhos lentamente, meu corpo estava gelado. Eu sentia frio e gotas geladas de chuva batendo nos meus olhos e me molhando.
- Lucy, você está bem? - Jennifer perguntou ocupando o meu campo de visão, e como se fosse um choque, eu me lembrei de tudo, literalmente tudo, do tubarão, do Vlad, do meu pai...
Me sentei, minha cintura já havia se regenerado, eu estava inteira de novo, em seguida abracei Jennifer, ela me acholheu me apertando carinhosamente. Um nó se formou em minha garganta e lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos. Meu pai nunca voltou da guerra... Ele nunca me deu aquele abraço que eu tanto desejei... Comecei a soluçar, as lágrimas caiam dos meus olhos sem limites, meu coração estava apertado dentro do peito e eu mal conseguia conter o choro. Eu queria tanto que meu pai estivesse aqui...! Eu queria tanto poder abraçar ele de verdade! Soluçei chorando mais e mais alto. Agoniada, gemendo de dor, a dor do meu coração, partido e quebrado em pedaços mais uma vez, parecia que meu pai tinha acabado de morrer de novo, ali na minha frente.

Entre meus soluços, um barulho ainda mais perturbador se ouviu, um som que me fez parar de chorar e tomar um susto, e que fez Jennifer apertar minha mão na dela, não era apenas eu quem estava com medo. A chuva estava aumentando, e se olhassemos pro mar teríamos uma visão ampla de toda sua braveza e dos raios que caiam na água. Algo estava mudando ao nosso redor, eu não sabia dizer o que era, só sei que dessa vez eu não ia fechar os olhos de medo, eu queria ver a transição. Um raio estrondoso caiu no mar fazendo um barulho quase ensurdecedor, em seguida um clarão muito forte tomou o céu.
O chão que havia abaixo de nós onde as camadas de areia molhada se estendiam começou a se dissolver e cair pra dentro de um buraco que aos poucos estava se formando, apertei mais a mão de Jennifer. O mundo ao redor começou a derreter como se fosse tinta molhada escorrendo de um quadro borrado, tudo começou a se dissolver e manchar como se fosse tecido. E então, em meio àquela turbulência, fomos engolidas pelo buraco escuro que consumia toda a areia daquela praia.

Cadáver de Sangue IOnde histórias criam vida. Descubra agora