Por wagnerpask
Sangue Quente – Isaac Marion.
Apaixonar-se por um vampiro é fácil: eles são poderosos, místicos e sensuais. Agora quero ver um escritor com o talento necessário para nos fazer amar desesperadamente uma criatura em decomposição, que se arrasta pelas ruas gemendo e procurando por carne, sangue e cérebros que amenizem sua fome bestial!
Que escritor conseguiria, sem causar ânsias de vômito, nos fazer imaginar um beijo entre uma garota e um morto-vivo cujos dentes estão acostumados a mastigarem carne humana?
Esse alguém responde pelo nome de Isaac Marion.
"Sangue Quente", por mais que seja um livro com enfoque nítido em um público jovem (e um belo exemplo que não se deve julgar uma obra pela sinopse), exibe uma analogia minuciosa do mundo em que vivemos. Esta preciosidade construída por Isaac Marion não conta apenas a história de R, um zumbi que apaixona-se por uma humana e luta contra tudo e todos em prol desse amor impossível. Um "Romeu e Julieta" ambientado em um mundo destruído.
"É serio isso, Wagner, essa guria beija o zumbi? Credo, ecaaaaaa!"
Sim, R e July formam um par romântico que jamais esperei ver em um filme ou encontrar nas páginas de um livro, mas o que encantou este que vos relata foi a forma como o escritor nos mostrou a divisão da sociedade em grupos. Grupos estes que desumanizam os seus "inimigos". Uma sociedade dividida em secções. Seja entre ricos e pobres, judeus e muçulmanos, palmeirenses e corintianos. O mundo em que vivemos tende a formar equipes. E no mundo pós apocalipse criado por Isaac não é diferente: vivos e meio-vivos vivem uma guerra interminável, alheio às semelhanças que os poderia unir; alheios àquilo que poderia ser a cura para aquela maldição.
"Mas, Wagner, é serio, a moça beija na boca o zumbi?"
Se para os vivos os mortos são uma praga a ser combatida, um mal que merece ser erradicado, para os mortos os vivos, como os Ossudos insistiam em revelar, são, além de comida, bárbaros que matam o seu povo sem misericórdia. Nota-se na história que, em ambos os lados há líderes e mestres que tem nas mãos o baralho da guerra, dão as cartas e ensinam as regras da matança. Será que isso é exclusivo do mundo criado pelo brilhante Marion?
Caro leitor que me tolera semana após semana, seja no tempo em que July passa no aeroporto, ou nos dias de R no estádio, nota-se que nos dois lados, além de viverem para a "guerra", ensinam suas crianças a odiarem o outro lado. Isso é um ponto do livro que chamou minha atenção. Isaac Marion suscita nas páginas destra ilustre obra que ninguém nasce sabendo odiar. Não, meu amigo, o ódio é cultivado, e se bem regado com as águas da alienação, gera frutos amargos e indigestos.
Enfim, "Sangue Quente" nos mostra que por mais que os grupos da sociedade se digam "diferentes" daquele, isto não o é. Ao analisarmos a obra de Marion vemos que em ambos os lados há generais cegos e sem fé na união, há crianças que nascem inocentes e aprendem a odiar, há amores, há vida! Não importa se você dorme dentro de um estádio abandonado ou em um aeroporto em ruínas, você é humano. Este maravilhoso livro nos ensina que por mais que o homem divida o mundo e o leve a guerras incessáveis, o amor tem o poder de unir tudo e curar as mazelas.
"Mas, Wag, por favor, diz que é mentirinha... Que nojo. Ela beija mesmo o zumbi?"
Falar sobre o filme? Falar se gostei? É isso?
Amigo, pelo amor de Deus, não assista ao filme antes de ler o livro.
Não costumo dar uma de bicudo e começar a criticar adaptações cinematográficas, pois não sou um entendido do assunto e entendo que seja difícil reproduzir com precisão tudo aquilo que pretendeu o escritor, mas "Meu namorado é um zumbi", desculpe-me se discorda, mas esse filme de decepcionou amargamente. Mas o livro é uma joia que merece ser apreciada.
Ah, e para você que não está crendo no beijo entre um comedor de carne e uma garotinha com nome de vinho, pode crer, estou sendo sincero. Ela não beija um vampiro nem um "lobo". Ela beija um zumbi!
"Wagner, será que o zumbi tem bafo de carne podre?"
Ah, é bem possível, mas isso só quem pode responder é o criativo escritor Isaac Marion.
Por fim, caro Leitor, lhe convido a ler o livro e só depois, bem depois, assistir ao filme "Meu namorado é um zumbi".
Mas então, que tal conversarmos: no mundo em que vivemos existem também pessoas que fazem questão de semear na cabeça de crianças ideias de ódio e preconceitos?
E se existe, será que podemos aplicar essa ideia aos depravados que aliciam crianças ao crime?
Então, vamos conversar?
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Projeto "Vamos Conversar" (1ª Temporada)
Non-FictionQuais questões te incomodam? Quais ideias podem ser aplaudidas? Por que? Como? Onde? Com quais propósitos? Quem é você? Quem somos nós? Para onde vamos? O que está acontecendo? Somos bilhões de vidas envoltas em perguntas; bilhões de mentes question...