Meu pé de laranja lima – José Mauro De Vasconcelos.
Olá, estimado seguidor do projeto "Vamos Conversar". Hoje, na coluna Livros que viraram filme, falaremos sobre a marcante e atemporal obra de José Mauro de Vasconcelos; um clássico na literatura brasileira; um livro juvenil que transcende o mundo em que foi criado. Falaremos, afinal, de "Meu pé de laranja lima", uma das poucas histórias que li da primeira à última página com um terno sorriso na face. Até mesmo nos capítulos mais tristes; quando meu coração doeu como se penetrada por dúzias de agulhas, mantive-me a sorrir, relembrando as minhas próprias travessuras dos tempos de moleque.
Para não alongar a postagem de hoje com anedotas enfadonhas, resumo: "Meu pé de laranja lima" é uma das poucas obras que recomendo a todas as faixas-etárias. Então, vamos ler, assistir e conversar?
— Vou ler, mas Wagner, esse livro foi publicado em 1968, e como tal, esboça a forma de pensar e viver de sua época, então por que diz que ela é atemporal?
Sim, passarinho que mora dentro da minha cabeça, "Meu pé de laranja lima", exibi-nos a forma de viver, pensar e crer da época. Mas algo nunca mudará; por mais que o mundo se transmute, a cultura se altere, a forma de pensar sofra diversas metamorfoses, por mais que até nossas crianças troquem os cavalinhos-de-pau por smartphones maneiros, a imaginação da infância jamais deixará de existir. Mas isso é assunto para depois. Antes vale fazer uma comparação entre o livro e a sua adaptação cinematográfica.
Sabe, meu amigo, ler este livro de José Mauro De Vasconcelos foi um deleite. Algo agradável, gostoso, inesquecível. Perdoem-me os fãs de James Patterson, mas as páginas de "Meu pé de laranja lima" é que parecem virar sozinhas; uma leitura prazerosa, capaz de, até nos momentos mais tensos e recheados de reflexões, nos arrancar sorrisos. Leitura indispensável para todos que amam a boa literatura nacional.
— Wagner, como é esse Meu pé de laranja lima?
Narrado em primeira pessoa por Zezé, o afilhado do diabo, a história apresenta uma visão inocente do mundo. Se pudesse representar o livro em apenas uma palavra, certamente diria que este é "mágico". Porém, se o livro é mágico, o filme é tocante. A adaptação cinematográfica do livro manteve-se firme nas ideias de José de Vasconcelos, mas seu foco está nos sentimentos da história. Não me entendam mal, colegas, Zezé ainda é inocente e cheio de imaginação no filme. Porém falta aquele extra que é impossível de ser copiado das páginas da obra literária. Bom, seja como for, recomendo a todos que (mesmo correndo o risco de repetir algo que já disse alguns parágrafos acima), assistam ao filme e leiam o livro: com o livro vão sorrir e relembrar eventos da própria infância; com o filme chorarão, assim como eu chorei.
— Mas então Wagner, vamos conversar sobre o que hoje?
Vamos conversar, meu passarinho. Tirei da obra de José Mauro De Vasconcelos, dentre tantos outros pontos que merecem apreciação, os quatro principais. Façamos para uma análise e uma posterior reflexão sobre Infância e imaginação, violência e vontade de viver. Vamos lá? Vamos nos aprofundar nas entrelinhas da história do garoto cujo padrinho era o diabo?
— Eba, vamos sim. Deve ser muito legal ser afilhado do Diabo.
Por que a obra é atemporal? Bom, caro amigo leitor, por mais que o livro tenha sido publicado em 1968, e desde então muito tenha mudado, algo se manteve inalterado e assim permanecerá por todo o transcorrer das areias do tempo: a imaginação de uma criança na primeira infância é fértil, e o mundo um lugar misterioso que merece ser desvendado. Ler "Meu pé de laranja lima" é aceitar um convite para relembrar o passado de si mesmo; recordar os tempos em que tudo era mais simples e divertido. Criança é criança. Não importa se a obra foi lida em 1969, 2017 ou se será em 2027 e que tudo a sua volta mude, crianças continuarão a viver em dois mundos: um físico e objetivo, outro mágico e recheado de aventuras. É uma pena que este mundo místico aos poucos desapareça de nossos olhos. Devíamos ser mais como os pequenos herdeiros do mundo futuro, e ver sempre algo bom até onde todos sussurram o mal. Então, vamos conversar: você, querido leitor, sente saudade dos seus tempos de criança?
Deixando de lado as divagações do parágrafo anterior, um dos maiores prêmios da leitura de "Meu pé de laranja lima" é a chance de refletir sobre algo que já foi muito mais natural e corriqueiro na sociedade, mas que timidamente vem sendo combatido: as surras.
Pela narração de Zezé podemos ver o quão comum eram os castigos físicos na época em que a obra foi escrita. Desde palmadas até agressões violentas, capazes de fazer o menino ficar de cama por dias, tudo isso nos é apresentado no livro. Sim, eu disse que as "surras" vêm se tornando cada vez menos presentes nos lares brasileiros, mas ainda existem. Isso é uma falha inerente a nossa cultura; um erro que demorará muito para ser erradicado, se é que um dia será. Há pessoas que pensam que punir é uma alternativa de educação dos futuros cidadãos, mas a grande maioria que ainda aplica "grandes" surras (sendo suave nas palavras), a faz disfarçada de correção, mas tudo que buscam com as palmadas, cintadas e cacetadas é descontar em alguém ou algo as frustrações do dia-a-dia. Um bode-expiatório. Então, sábio leitor, diga-me: bater educa?
Por fim, caro leitor, vale ressaltar que Zezé era um menino pobre, mas sonhador. Nas páginas do livro está uma mensagem que sugere que devemos sonhar até nas piores situações. O mundo muitas vezes é bruto e nos faz sofrer, mas não podemos desanimar de viver. Tenhamos rosas debaixo dos pés ou cacos de vidro, sempre haverá um futuro para onde seguirmos.
Estimado interlocutor, por mais que um dia os dedos secos da pobreza toquem nossa pele, não devemos desistir da vida. Sejamos como as crianças. Sejamos confiantes e sonhadores. Vamos ver além daquilo que nos é exibido. Vamos pelejar por dias melhores, para que, quando a aurora vier, tenhamos méritos pela vitória que nos foi dada.
Devemos lembrar que a vida apenas acaba quando desistimos de viver.
Antes de deixa-lo em paz, leitor amigo, lanço ao ar, para que reflitamos, uma das mais belas e profundas passagens do livro que hoje fora comentado:
Então, vamos conversar?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Projeto "Vamos Conversar" (1ª Temporada)
Non-FictionQuais questões te incomodam? Quais ideias podem ser aplaudidas? Por que? Como? Onde? Com quais propósitos? Quem é você? Quem somos nós? Para onde vamos? O que está acontecendo? Somos bilhões de vidas envoltas em perguntas; bilhões de mentes question...