Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis.
Aqui estou, prezado leitor. Hoje, na coluna livros que viraram filme, analisaremos uma das mais importantes obras da nossa literatura. Há como falar de literatura Brasileira sem citar o genial, talentoso, brilhante e pessimista, digo, realista escritor chamado Joaquim Maria Machado De Assis? Claro que não!
Considero uma missão de risco escrever sobre Machado, o ícone da nossa arte escrita. Qualquer deslize ou mau julgamento e posso ser rechaçado. E como poderia eu fazer mau juízo deste que é o maior escritor Brasileiro de todos os tempos? Bom, meus olhos e meu espírito ainda são jovens. Talvez, por azar e falta de intimidade com obras clássicas, eu deixe escapar detalhes de extrema importância que merecem reflexão ou, pior ainda, analise de forma equivocada certos trechos cuja interpretação correta é primor para a elaboração de bons textos. Mas corramos este risco. Vale a pena. É com plena certeza que digo estas palavras: quem nunca leu Machado De Assis, de fato, nunca leu!
Antes de refletirmos sobre pontos internos e externos à obra "Memórias póstumas de Brás Cubas", vale relembrarmos que já na dedicatória o escritor nos apresenta o teor daquilo que se seguirá. Neste livro não há grandes surpresas, revelações, tramas meticulosas, assassinatos misteriosos ou batalhas entre o bem e o mal. "Memórias póstumas" trabalha, com o humor "pessimista" do escritor e toda sua genialidade, questões psicológicas inerentes ao próprio ser humano. Enquanto o de cujus vai apresentando detalhes de sua vida (sem medos nem puderes), e detalhes da forma de pensar e ser do século XIX, podemos notar que, de certo modo, é deixado para segundo plano a parte externa dos personagens, dando preferencia ao psicológico dos mesmos. Este é o grande ponto da obra. Então, dito isso (divaguei demais, não é?), vamos começar? Vamos conversar sobre a obra deste Defunto Autor?
(Espera, Wagner, o livro é escrito por um defunto? Como pode isso? Como pode um morto escrever um livro? Não sei se vou gostar.)
Ora, caro amigo rabugento, posso lhe dar três respostas:
1 – Leia porque lhe indiquei;
2 – Acredite que o livro foi escrito através de mesa branca; ou
3 – Porque é o mais genial dos livros de Machado de Assis.
Continuando. Sei que não deve ser novidade nem espantosa tal afirmação, uma vez que estamos diante de uma obra ácida, verossímil e realista, mas sinto dentro do meu peito verdadeira repulsa por Brás Cubas. Eis nesse livro um protagonista cuja essência me causa asco! Contudo, como argui anteriormente, isto não causa espanto. Qual a intenção de Machado senão desnudar a consciência humana? Somos, nós, humanos, querubins perfeitos? O homem é, em pura verdade machadiana, ciumento (Bento, Dom Casmurro), infiel (Virgília), vaidoso e apegado a prazeres terrenos (Marcela), orgulhoso (Eugênia), de princípios facilmente subornáveis (Dona Plácida)... já em Brás Cubas podemos encontrar diversas "qualidades", tais como: preguiça (pois nada quer da vida), falsidade (pois torna-se amante da esposa do "amigo") entre outros. Cada personagem de Machado de Assis é uma leitura da sociedade; uma leitura do próprio ser-humano. Então, amigo, sobre isso (a realidade da personalidade humana), o que falta nas pessoas de agora? Somos corrompíveis (deixamos de lado nossos princípios por qualquer oferta de vantagens), ou nunca tivermos qualquer escrúpulo, apenas dissimulamos diante de terceiros? Existe algum "emplasto da felicidade"?
(Ah, Wagner, ainda não sei... Cara, o livro já começa com a morte do tal de Brás Cubas, um puto dum spoiller, então que graça tem ler? Ao menos tem algum vampiro ou lobisomem?)
Amigo, o segundo ponto que comentarei hoje está fora das páginas do livro. É algo que me entristece demais. Pesquisas indicam que o número de leitores no Brasil vem crescendo, mas são muito poucos aqueles que dedicam algum tempo para ler clássicos como "Memórias Póstumas de Brás Cubas", "Dom Casmurro" ou "Quicas Borba". Sei que é muito mais fácil ler livros que chegam a escorrer sangue das páginas ou obras fantásticas com bestas humanoides e romances mirabolantes, mas não devemos nos esquivar de clássicos.
Professores de direito indicam leitura de clássicos para graduandos, pois com tais livros de qualidade podemos mergulhar no passado; conhecer a cultura, os medos, as crenças, as leis e os tabus da sociedade. Sei que você, interlocutor dedicado, deve ser um notório leitor da boa literatura, mas ainda somos poucos.
Não quero ser pessimista, mas a grande maioria dos jovens (publico que mais me atrai o foco, pois, quando deixarmos este mundo, eles herdarão a arte que aqui ficar), em sua grande maioria, apenas lê clássicos se o professor de língua portuguesa assim o exigir ou quando pretende prestar vestibular. Eu disse que nesses casos eles leem o livro? bom, que tal conversarmos sobre isso? Ou melhor, vamos brincar?
Suponha que 100 anos desejam prestar vestibular para alguma universidade neste extenso Brasil. No edital é apresentado que os alunos devem ler "Memórias póstumas de Brás Cubas". Então, dentre esses 100 alunos, quantos irão: A) ler o livro, B) ler o resumo, C) assistir ao filme, D) deixar de lado os estudos e ir ao shopping com os amigos?
Então, vamos conversar?
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Projeto "Vamos Conversar" (1ª Temporada)
Non-FictionQuais questões te incomodam? Quais ideias podem ser aplaudidas? Por que? Como? Onde? Com quais propósitos? Quem é você? Quem somos nós? Para onde vamos? O que está acontecendo? Somos bilhões de vidas envoltas em perguntas; bilhões de mentes question...