por Henggo
ESCRITA POR ANOHNI E J.RALPH PARA O DOCUMENTÁRIO "RACING EXTINCTION" (Vida em Extinção), "Manta Ray" (Arraia Manta) surge na primeira parte do filme e impacta o ouvinte/espectador pela tristeza de sua verdade: a extinção em massa das espécies, problema que se intensifica década após década, ano após ano. Contudo, o que toca fundo em uma audição de "Manta Ray" é o fato de ser um apelo, como se ANOHNI fornecesse voz à essas espécies ameaçadas e cada verso fosse uma súplica, um choro, um anseio por ajuda.
"[...] Without my home
With no reflection
I cease to exist [...]"*Sem a minha casa / Sem reflexão / Eu deixo de existir
O ser humano tem a tendência (para mim errada) de não se considerar um animal. Sim, há controvérsias sobre a questão e biólogos, geneticistas, filósofos e cientistas em geral vivem em debates sobre isso. Porém, uma coisa é certa: ao se afastar dos "animais", o ser humano se eleva ao ponto de considerar-se dono de tudo e, portanto, livre para usar os recursos ao seu bel prazer.
O que "Racing Extinction" mostra (e isso é a genialidade do documentário) é que tudo o que fazemos aos "animais" retorna para nós, afinal, fazemos parte da cadeia independente de nos considerarmos animais ou não. E é nesse ponto que "Manta Ray" deixa um nó na garganta, pois ao falar da morte dos filhotes deles (por causa das nossas ações predatórias) a letra explode em uma mensagem universal: os que morrem são tanto as crias dessas espécies como também os nossos bebês.
Ao não protegermos a biodiversidade, assassinamos a nós mesmos.
"[...] Without biodiversity / I'm nothing
It's like / I neverExisted [...]"
*Sem biodiversidade / Eu não sou nada / É como se eu nunca / Existisse
Há músicas que me tocam de forma tão peculiar que lembro do exato momento em que as escutei a primeira vez (assim como lembro de onde eu estava nos ataques de 11 de setembro em Nova York). Em 2016, um dos destaques das semanas anteriores ao Oscar foi o boicote de ANOHNI, que concorria à estatueta de Melhor Canção Original.
Fui atrás da música e eu chorei.
Sim.
Os sussurros de "Meus filhos, meus filhos, meus filhos" ainda hoje me emocionam e não é raro eu acordar com essa música na cabeça ou retomá-la quando vou à praia, por exemplo, e observo a vastidão azul.
Há músicas para dançar, há músicas para refletir.
"Manta Ray" é para deixar cicatrizes.
Exagero? Talvez.
Mas nenhuma lágrima caída diante dessa música será em vão...
***
TRECHO MARCANTE:
"[...] All I love / All I know / All I've known
I am dying now / Inside me
My children [...]"
*Tudo o que eu amo / Tudo o que eu sei / Tudo o que eu conheci / Estou morrendo agora / Dentro de mim / Meus filhos
*
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Projeto "Vamos Conversar" (1ª Temporada)
Non-FictionQuais questões te incomodam? Quais ideias podem ser aplaudidas? Por que? Como? Onde? Com quais propósitos? Quem é você? Quem somos nós? Para onde vamos? O que está acontecendo? Somos bilhões de vidas envoltas em perguntas; bilhões de mentes question...