Azul é a cor mais quente – Julie Maroh.
Olá, caro leitor do "Projeto Vamos Conversar". No Livros que viraram filme desta semana lhes trago uma breve análise do conteúdo de uma das mais profundas obras já tive o prazer de conhecer. Neste HQ, Julie Maroh nos apresenta uma comovente, apaixonante, vibrante, excitante história de amor. (Excitante?) Sim, excitante. Fiquei surpreso com a facilidade com que a autora (inclui-se aqui a pessoa responsável pelas ilustrações) conseguiu aliar drama e sensualidade de forma dinâmica e cautelosa. Deveras, fiquei pasmo. Mal virava dez páginas e o conteúdo transitava de um dilema épico, um confronto de sentimentos ou uma dura jornada de descobertas para uma envolvente cena de sexo capaz de arrepiar-me da cabeça aos pés. Leia o HQ de Julie Maroh, não irá arrepender-se, eu garanto! Posso lhe garantir que terá momentos inesquecíveis. Seja homem ou mulher, seja heterossexual ou homossexual, seja adulto ou adolescente, está convidado a mergulhar de cabeça nos sentimentos de Clémentine e Emma e a descobrir que, sim, o azul pode ser uma cor quente. Muito quente!
Então, vamos lá?
"Azul é a cor mais quente" já nas primeiras páginas apresenta-se como uma navalha afiada, um prelúdio de doce sofrimento, uma marreta prestes a golpear a grossa crosta gelada que envolve nossos corações e de quebra causar uma considerável dor. (Vamos conversar apenas sobre o amor de Clémentine e Emma, Wagner?) Não, caro amigo curioso que vive sussurrando perguntinhas bobas no meu ouvido, da obra extraí os três tópicos que mais profundo me marcaram. Vamos lá.
A obra de Julie Maroh apresenta-nos uma rápida transição temporal, indo e voltando no tempo, antes e depois da morte da apaixonada protagonista. Uma das passagens mais marcantes da história é a adolescência de Clémentine, período em que esta conhece Emma, a garota de cabelos azuis, e a si mesma. A adolescência de Clem não foi fácil. Mas posso dizer que ela não está sozinha no mundo. Esta etapa da vida é marcada por mudanças e dilemas. Quem em seus 13, 14 anos nunca olhou o reflexo no espelho e pensou "este sou eu?". A marcante personagem de Maroh enfrenta nesta fase uma dura jornada de aceitação. Rejeitando seus desejos, seus impulsos, sua realidade. "Eu não sou lésbica"... a negação é como estar acorrentado dentro de uma tumba selada, imerso em trevas, tendo como única luz um pequeno feixe que entra por uma abertura menor que um olho: vislumbra-se por ela o mundo que queremos fazer parte, mas somos incapazes de afastar a tampa e banhar-se na luz.
"Aceitação"... esta é a melhor palavra. Aceitar a si mesmo; esta é a batalha. Olhar para o espelho e aceitar o próprio corpo, seja ele magro, gordo, alto, baixo, necessário é sorrir e dizer "sim" à felicidade. Se há uma mensagem dotada de inexorável sabedoria em "Azul é a cor mais quente" está na mensagem implícita nas ultimas páginas: a vida só é plena depois que você deixa de esconder-se do mundo e de si mesmo. Se cegos estamos, não quer dizer que o mundo esteja imerso em palpável escuridão, quer dizer que ainda não abrimos de fato os olhos para enxergar sua luz.
"preconceito". Bom, nesta palavra está contida a segunda mensagem hoje. Na obra nos é exibindo o preconceito em suas mais variadas nuances. Seja o preconceito externo, aquele que assistimos na tevê, distante de nossos lares, como o combatido por Emma; seja a discriminação por parte daqueles falsos amigos que, como a de Clem, afastam-se de maneira ríspida ou abrupta, excluindo de seu convívio aqueles que são "diferentes"; e por fim o preconceito dentro da própria família. Sim, quando o mundo nos dá as costas tudo que resta é o amor da família. O que se dizer então quando até esta nos dá as costas? (Eu choraria, Wagner), bom, Clémentine descobriu-se (até aí tudo bem), aceitou-se (viu a luz), mas não teve tempo de levantar à luz, foi arrancada da tumba com mãos violentas. Aqueles que a deviam amar e prestar consolo deram-lhe as costas... Bom, caro leitor, nem sempre os remédios são doces. Alguns, além de amargos com fel, conseguem doer como setas no coração, mesmo assim ainda são remédios e vêm para o bem.
"Amor". (Meu Deus, vamos conversar sobre amor também, Wagner? Eu amo falar de amor). Sim, vamos conversar sobre o amor. O que é amar? Sabe, considero este tema um clichê, mas nunca canso de debatê-lo. De todas as passagens da obra de Julie Maroh, a mais inesquecível está na página 16, quando Emma dirige-se à mãe de Clémentine e diz "basta dizer a ele que, se eu fosse um rapaz, a Clém teria se apaixonado por mim do mesmo jeito". Bom, o que verdadeiramente é esse tão comentado "amor"? Quem nunca se apaixonou? O que é o amor? Ele surge da convivência ou é um sentimento que vem violento e nos atropela de tal maneira que não conseguimos nos esquivar? Se o amor da sua vida fosse do mesmo sexo que o seu, você ainda o amaria?
(Claro que não, eu sou hetero!)
Bom, o amor não é precisamente sinônimo de sexo. O amor é um sentimento que reluz sem necessitar de toque; um sentimento que queima no peito sem precisar acender as chamas do desejo; uma carência que vai muito além do contato físico. Quando amamos queremos estar na presença do outro alguém. Podemos não perceber, mas amamos diariamente. Amamos nossa família, amamos nossos amigos... amamos... simplesmente amamos! Sem sexo, sem desejos libidinosos nem troca de saliva. Quando se ama quer bem. Quando se quer bem não importa o sexo ou a sexualidade do outro alguém, você o ama!
Então, vamos conversar sobre esse tal de "Amor"?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Projeto "Vamos Conversar" (1ª Temporada)
Non-FictionQuais questões te incomodam? Quais ideias podem ser aplaudidas? Por que? Como? Onde? Com quais propósitos? Quem é você? Quem somos nós? Para onde vamos? O que está acontecendo? Somos bilhões de vidas envoltas em perguntas; bilhões de mentes question...