Capítulo Relâmpago

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Ismália.
 
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
 
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
 
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
 
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
 
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar…
 
Alphonsus de Guimaraens
 
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Olá queridos leitores.
Hoje, nós preparamos uma surpresinha pra vocês.

Nossa querida vivivresk nos presenteou com essa maravilhosa análise de "Ismália".

Deliciem-se!

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Guimaraens faleceu no ano de 1921, mas será que sua poesia não fala da atualidade? Ismália se encontra presa em uma torre, enlouqueceu, vê uma lua no céu, vê outra lua no mar… Não seriam também Ismálias nós, em nossas casas perfeitamente seguras, vivendo uma vida através das telas de computadores e celulares, e outra vida adversa junto de nossas famílias, quase como se sofrêssemos de dupla personalidade? É a mesma lua, é a mesma mente, mas ainda assim não são iguais, elas pensam e agem diferente… Ou seria Ismália a mulher que quer ser homem, o homem que quer ser Drag, a Drag que quer segurança, o policial que quer melhor salário, a esposa que reza todos os dias pelo marido, o filho orgulhoso que é novo demais pra compreender o risco que o pai corre? São todos Ismálias? Estão todos presos na torre?... Ou ainda seriam Ismálias fanáticos, religiosos, políticos, idealistas, revolucionários, que brigam com berros, bombas, e sangue, pelo seu direito de enlouquecer?
 
 
 
Quando Ismália enlouqueceu,
P

ôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
 

O que é enlouquecer?
Que torre é essa?
Onde está essa dupla lua?
Talvez, a lua do céu seja o que gostaria de ser, a lua da terra o que somos, e enlouquecemos! Enlouquecemos porque precisamos ser a lua na terra pra ser aceito pela sociedade, mas é a lua no céu que nos faz feliz. E o problema? O problema é que estamos presos na torre que é a nossa mente, tentando decidir qual lua buscar, qual lua é certa pra nós. Faz sentido?
 
 

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar…

 
O que é se perder?
O que é se banhar de luar?
Como subo ao céu e desço ao mar?
Talvez, se perder seja mudar o rumo, não seguir a maré, não se juntar aos gritos que não fazem o menor sentido pra nós, e isso aconteceu porque nos banhamos de luar! Lemos! Estudamos! Refletimos! Ouvimos argumentos e argumentamos! Foi assim que descobrimos as duas luas! Não! Descobrimos uma imensidão de pensar que ajudam a formar nosso próprio! Mas o problema? O problema, é que descer ao mar, é quase sempre muito mais fácil que subir ao céu. É mais fácil ficar ao lado da sociedade, que se colocar contra ela! Ou não é?
 
 

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar…
 
O que é desvario?
Por que cantar?
Por que está perto do céu, mas longe do mar?
Talvez, desvario seja dizer como nos sentimos em relação à política, religião, aos meus próprios sentimentos. Falar! Falar sobre qualquer coisa porque resolvemos cantar! Queremos opinar! Queremos estar à frente da nossa vida! Queremos poder dizer que enlouquecemos e não ser julgado por isso! Mas o problema? O problema é que assim ficamos perto do céu, mas longe do mar. O problema, é que somos muito mais o que gostaríamos de ser, mas a sociedade não gosta de quem não se encaixa aos padrões dela. Ou gosta?
 
 
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar…
 
O que é pender?
Que asas são essas?
Por que insistimos em buscar as duas luas?
Talvez, pender seja essa vontade de nos entregar ao desejo de ser livre! De pensar sem amarras! De ser eu e apenas eu! Errado e imperfeito, mas eu! E podemos fazer isso, porque como um anjo nós temos asas, não do tipo que se usa pra voar, mas aladas no sentido de transcender a nós mesmo, quando buscamos conhecimento, buscamos uma vida melhor, lutamos pelo que queremos! Mas nossa alma?… Ah, essa nossa alma! Ela continua querendo as duas luas, ela quer ser aceita pela sociedade e ainda assim se encontrar em si.
 

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar…
 
Que asas são essa de Deus nos deu?
Por que ruflam de par em par?
Por que a alma subiu ao céu e o corpo desceu ao mar?
Talvez, as asas que Deus nos deu seja o livre arbítrio, e talvez elas ruflem apenas de par em par porque poucos tem coragem de usar suas asas. Poucos tem coragem de escolher em função de si. E para alguns de nós, para aqueles que não suportam viver trancados na torre, para os que querem cantar, para os que querem voar, por vezes se deparam com a única saída que encontram… suas almas sobem ao céu, seus corpos descem ao mar. Ainda hoje, muitos precisam morrer para que a sociedade os aceite da forma que desejam ser. E o problema? O que problema é que não sabemos quando nossa sociedade finalmente vai mudar.
 
E você? Você também é uma Ismália?

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E então, gostaram?

Comentem, deixem estrelinhas, deixem seu carinho pra nossa linda vivivresk.

Até a próxima!

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