Eleitores
A fila estava formada. Pessoa atrás de pessoa. Todos esperando sua vez de entrar na sala, entregar algum documento ao mesário e então correr para a cabine e fazer sua parte na escolha do novo prefeito e dos distintos vereadores (nobres e dignos membros do poder legislativo municipal).
Pedro, Miguel, Maria e Tereza entraram, votaram e se retiraram felizes. Haviam cumprido seu dever e feito a diferença no mundo. Ou não.
Na fila os amigos Mário e Naldo conversavam. Logo seria a vez deles de escolherem o futuro da cidade.
- Vai votar pra quem, Cara? - Mário perguntou, tirando do bolso um santinho do candidato Artigas.
Naldo cruzou o braço. Seu sorriso era desdenhoso, mas o olhar estava carregado de subjetividade.
- Cara, votar pra que? Só pra alguém roubar todos os dias o meu dinheiro?
- Não vai votar - Mário perguntou. - Então oque tá fazendo na fila, Cara?
Naldo estufou o peito.
- Por mim não estava aqui, mas já que me obrigam a votar... BRANCO NELES!
- Isso vai fazer aquele que entrar na prefeitura não roubar "o seu dinheiro"? - Disse Mário, estendendo a mão com o santinho de seu candidato ao amigo. - Se vamos ser roubados mesmo, que ao menos seja alguém da vizinhança.
Naldo olhou nos olhos do amigo.
- Velho, você não liga pro bem do nosso povo?
- Claro que ligo - disse enrrugando a testa. - Mas se eu votar ou não... Cara.
- Que vergonha! Que vergonha! Isso é corrupção, Mario!
Mário baixou a cabeça, respirou fundo e a levantou, sorrindo ardiloso.
- Espera aí que eu lembrei duma coisa: você mandou o vereador Teodoro pagar suas contas atrasadas pra votar nele e no prefeito Casa. - apontou o dedo na direção de Naldo. - Então, senhor honesto?
Naldo juntou as mãos na frente do peito.
- Se ele ganhar vai mamar nas tetas do governo por quatro ano. Eu só ganhei R$300,00.
- Mas ganhou algo. Isso é ser corrupto, meu chapa!
Faltava pouco. Haviam duas pessoas na frente de Mário e Naldo.
Naldo soltou uma gargalhada.
- Pensa que não fiquei sabendo que o teu candidato aí te encheu o tanque do carro?
Mário corou.
- tudo bem, tudo bem. Acho que nenhum de nós é corrupto. Se não fazermos, outros irão fazer.
Naldo assentiu. Estava focado no diálogo com o amigo, mas a voz familiar de Ângelo, o terceiro candidato a prefeito, tirou dele o foco.
- Então, rapazes, um peixinho pra cada um deixar seu apoio na urna?
Mario torceu a boca. Parecia contrariado. Olhou em volta e finalmente assentiu.
- E você, rapaz? - Estendeu a Naldo a mão com a cédula verde e o santinho sorridente.
Naldo olhou em volta. Havia um polícia no portão olhando para eles. No começo ficou preocupado, mas Ângelo o acalmou:
- Sossega, rapaz, ele é um dos meus.
Naldo assentiu e Mário entrou na sala para deixar sua contribuição para o futuro daquela gente.
Naldo olhou feroz o velho Ângelo.
- Porra, acha que vou me vender por apenas R$100,00? Tenho dignidade. Sou um homem, não um rato!
Ângelo ficou de súbito sério. Era a vez de Naldo entrar na sala.
- Então não vai votar em mim?
Naldo sorriu:
- Não por apenas R$100,00... Me arruma um cargo na prefeitura e ainda mando minha família votar em você também...
Meus amigos, foi tão legal essa primeira temporada. Não quero me despedir. Mas sei que é um adeus temporário. Quero muito que a segunda temporada aconteça e logo.
Vocês são demais. Demais!
Adoro todos.
Bom, vou escrever novos contos e modificar os já escritos. Adoro todos vocês. Beijos e até breve.
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Projeto "Vamos Conversar" (1ª Temporada)
Non-FictionQuais questões te incomodam? Quais ideias podem ser aplaudidas? Por que? Como? Onde? Com quais propósitos? Quem é você? Quem somos nós? Para onde vamos? O que está acontecendo? Somos bilhões de vidas envoltas em perguntas; bilhões de mentes question...