Capítulo 20

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~Fala galerinha. Último capítulo do mês, é só isso mesmo.

-Ice

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― Então, posso saber o que estavam fazendo na biblioteca Lambeth Palace? ― Em suma, foi um pergunta retórica. Havia voltado para as forjas ver o andamento do meu projeto e aproveitei para ter uma conversinha com a dona Morte.

― Ganhando tempo para você. ― Falou como se não tivesse feito nada de mais, ela estava sentada na cadeira do escritório com as pernas em cima da mesa de madeira, mexendo distraidamente no cabelo.

― Com isso você quer dizer, atrapalhando meu plano? ― Não que ela o tenha conseguido, afinal, tudo ocorreu exatamente como planejado. ― Como conseguiu decifrar a pista tão rápido?

― Não me subestime, querido.

― Acredite, não subestimo.

A parede atrás dela era totalmente feita de vidro onde era possível examinar toda a área das forjas, analisei o lugar enquanto pensava e notei algo diferente do comum e Morte notou isso. Ela virou o olhar levemente para trás, mas toda essa calma se foi ao ver um de seus funcionários morto no chão do lugar.

Morte levanta e encosta a mão na parede, sua respiração estava tão pesada que formou uma pequena mancha de vapor no vidro. Olho para o outro lado do salão e vejo a Ceifadora olhando surpresa para a mesma direção. Pelo visto não era um funcionário qualquer que tinha morrido.

Descemos para analisar melhor o que estava acontecendo. O clima era pesado no lugar, o barulho incessante, que era costumeiro das forjas, havia cessado. O movimento constante das máquinas havia parado, parecia até mesmo que o calor que emanava das brasas havia esfriado.  Olhos acompanhavam os nossos passos no metal, que ecoavam por todo o lugar.


"Cortem-lhe a cabeça"

Era o que dizia o bilhete ironicamente colocado do lado do cadáver sem cabeça, eu lembrava das roupas pretas que o corpo vestia, mas não de seu rosto. Pelo visto o barqueiro era na verdade a barqueira. E agora já não era mais ninguém.

Morte estava com o rosto sério e as sobrancelhas levemente franzidas, parecia não estar entendendo a situação, já eu, sabia exatamente o que estava acontecendo.

Os Fundadores.


O contorno de uma árvore fora entalhado em ouro nas grandes portas de carvalho que me separavam do salão. Coloquei uma mão em cada metade da porta e as empurrei. O salão era grande com quatro armaduras de cavaleiro enfeitando cada uma das paredes. Ajeitei minha cartola em um movimento quase que automático.

As oito cadeiras, que contornavam a grande mesa em forma de elipse localizada no centro da sala eram, ocupadas, respectivamente, por Alice, Chapeleiro, Lebre de Março, Rainha de Copas, Coelho Branco, Rainha Branca, Cheshire e a última apenas por uma coroa prateada com adornos do naipe de espadas.

― Está atrasado para o chá. ― O Chapeleiro foi quem me deu as boas vindas, ele usava uma grande e decorada cartola, nela havia enrolado um véu fino que caia cobrindo seu rosto, mas o que mais me chamou atenção foi o cartão pendurado onde o véu se enrolava, nele estava escrito 10/6.

― Não ligue para ele, chegou bem na hora. ― A voz quase melódica veio da Rainha Branca. Seu rosto era completamente pintado de branco com exceção dos olhos cobertos por uma máscara preta da mesma cor de seu batom, muito parecida com a Rainha de Copas, diferenciavam-se apenas pelo vermelho vibrante da máscara e batom da mesma.

Me aproximei da mesa e reparei que era realmente uma festa do chá. Bulês de porcelana e talhares de prata junto de doces como bolos e cupcakes de todos os sabores e tamanhos preenchiam a mesa. Definitivamente comida de mais para apenas oito pessoas.

Pego a coroa com as duas mãos, sinto seu metal frio em meus dedos. Passo o polegar levemente nas curvas de um dos símbolos de espadas e foi o suficiente para causar um pequeno corte no tecido da minha luva. Todo o lugar pareceu sumir por alguns instantes enquanto encarava meu reflexo na coroa.

―Vejo que está gostando da coroa. ― A voz calma e lenta me chamou de volta a realidade, ela vinha de um homem cuja maquiagem formava um grande sorriso em seus lábios e olhos de gato pintados nos olhos dele.

Coloco a coroa em cima da mesa e, lentamente, me sento na cadeira que ela ocupava. Tiro do bolso o convite que havia recebido dos Fundadores e o finco em um bolo branco com detalhes em rosa e um círculo de morangos em seu topo.

― Me chamaram para ocupar a cadeira? ― Pergunto para ninguém especificamente, hesitante de comer algum daqueles doces, por mais desejáveis que parecessem.

― Isso você já esta fazendo, não é mesmo? ― Rainha Vermelha tirou a cigarrilha da boca e soprou a fumaça no ar. A Lebre de Março pareceu ligeiramente incomodada com a nicotina, mas não consegui ter certeza por causa de sua máscara. Ela era cinza com detalhes em bronze, a máscara, assim como a do Coelho Branco, mas a dele era, obviamente, branca, com detalhes em dourado e um relógio ocupando a testa.

― Você chamou nossa atenção, Príncipe. ― A Rainha Branca chamou minha atenção dentro de todo aquele espaço, alguma energia diferente emanava dela.

― Como me conheceram? ― Ainda não havia feito nada muito chamativo para chamar-lhes atenção.

― É por sua condição, você pode influenciar em certas coisas que não podemos, de formas que não podemos. ― Encarei-a seriamente por um tempo, como ela sabia? Como todos sabiam? Havia tomado cuidado para não ser descoberto. Lançando esta carta na mesa eu já tinha entendido, não era mais uma escolha, eu não teria a opção de negar.

Encarei mais uma vez a coroa e quando notei ela já estava na minha cabeça e eu novamente sentia em meus dedos a frieza da prata. Peguei o garfo e a faca começando a saborear um pedaço de bolo.

A festa do chá tinha começado.

E eu era o seu mais novo integrante.


Um movimento ao meu lado me chamou para fora de minhas memórias, Morte havia se virado de costas para o corpo e antes de dar o primeiro passo eu a interrompi ainda olhando para a cabeça decepada.

― Não atrapalhe mais os meus assuntos, nem mande suas crias fazê-lo.

― E você fique longe meus assuntos, afinal, quem faz o que quer, sofre o que não quer. ― Ela continuou os passos de volta para o escritório, olhei para o lado e acenei com a cabeça para Melicent que estava me olhando com certa desconfiança nos olhos.

Ando até a mesma e coloco em seu cabelo um cravo branco.

― Sempre podemos mudar quem somos, Melicent.

Ouroboros - A Nova OrdemOnde histórias criam vida. Descubra agora