Capítulo 58

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QUE SAUDADE DE ESCREVER COM A SENPAI. Eu definitivamente amo essa mulher.
Bjks, Fire <3
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Eu estava me esforçando ao máximo para conseguir encaixar as peças que caiam nas que já estavam no fundo. A sala estava cheia de vozes alteradas, mas eu fingia não ligar, atenta demais ao joguinho do telefone.

Lud estava conversando com uns representantes do E.U.L., mas eu sabia que no fundo, só estava tentando me proteger. O problema era que eu não queria ser protegida.

Se qualquer um deles não gostou de minhas palavras, então que tenha a coragem de olhar na minha cara. Acho que esse é o motivo de não ter pessoas como eu naquela sala. Eles não aguentariam a verdade sendo esfregada em seus rostos covardes.

Bufei e voltei os olhos para o lado de fora, onde o clima parecia mandar sinais de que ia melhorar. Alguns raios de sol curiosos se lançavam pelos espaços entre as nuvens e refletiam nos enormes prédios espelhados.

Era nessas horas que eu sentia falta do sol forte de minha terra. Sentia falta dos sorrisos que vinham espontaneamente e do som dos atabaques acompanhando as cantigas e promessas de dias melhores. Mas acima de tudo, eu sentia falta do sentimento de me sentir acolhida.

Aqui eu era somente uma garota que não tinha travas na língua e falava inglês com um sotaque puxado. Com essas roupas formais eu não só me sentia, como sabia que estava deslocada. Ao mesmo tempo, eu me forçava a continuar aqui. Não por Ludwig ou ninguém, e sim por mim mesma.

Meus olhos pousaram no garçom que se aproximava, pois o mesmo olhava em volta, preocupado. Em suas mãos ele carregava uma bandeja, mas eu não conseguia ver o que tinha sobre ela.

— Senhorita Zawabeeh? — Ele perguntou engolindo em seco. — Tenho uma entrega endereçada à senhorita.

Eu acabei dando uma olhadinha para trás, mas aqui na área Azul, eu desconfiava que alguém teria o mesmo sobrenome que eu. Assenti com a cabeça e estendi a mão, recebendo em seguida uma carta.

— Quem me enviou? — Perguntei franzindo as sobrancelhas, desconfiada da escolha do meu mediador com o remetente.

— Um homem. — Ele respondeu rápido, dando outra olhada em volta. — Não vi seu rosto, ele usava uma máscara.

— Uma máscara e uma coroa? — Questionei me levantando do banco, e fazendo o garoto dar um passo para trás.

— Uma máscara e uma cartola. — Ele disse me observando uma última vez e saindo em despadrada.

Rodei o envelope em minha mão e encontrei uma única frase escrita a mão, com uma caligrafia fina e delicada.

" Abra-me quando desistir tiver se tornado um caminho. "

Encarei a frase e enfiei a carta na bolso, mesmo sabendo que ela amassaria um pouco. Enquanto eu tivesse Lud ao meu lado, desistir nunca seria um caminho.

E eu sei que ele sempre estará junto de mim.




— O que você quer aqui? — Falei num tom alto, me posicionando entre Morte e Ludwig.

— Querida, não acha que está depositando sua raiva na mortal errada? — Ela perguntou inclinando a cabeça para o lado, divertida com minha confusão.

— Morte. — Ludwig disse pegando minha mão e falando pela primeira vez o nome daquela mulher em sua presença.

— Eu tenho uma proposta. — Ela declarou ainda do lado de fora. — E propostas minhas não são ignoradas.




Duas horas e meia tinham se passado, e nesse meio tempo, eu voltei a ter o joguinho como minha melhor companhia. Eu não gostava de ter aquela mulher tão perto de Lud, em seu apartamento.

O que quer que seja, não pediram minha presença, e tampouco eu ofereci. A carta no meu bolso protestava seu cárcere estalando e ameaçando rasgar, mas esses atos não me comoveram. Ela permaneceu no bolso de trás, devidamente ignorada.

Peguei meu telefone e abri as mensagens, ficando em dúvida por um segundo. Cliquei no chat de Melicent e encarei a única mensagem que já tínhamos trocado. Entre todos os Cavaleiros, o que eu tinha menos contato era ela.

" Morte está aqui. O que devo fazer? "

Mandei e esperei, mas a resposta não veio. Segundos depois, com um estalo alto a porta do escritório do Lud abriu, e eu ouvi somente um par de passos se aproximando.

O caminhar de Morte não fazia barulho, e isso era angustiante. Enquanto eles andavam pelo comprido corredor, eu me atentei a mulher. Ela era realmente bonita, com os cabelos negros e olhos cinzentos. Sua postura era imponente, e tenho certeza que se perdesse em um debate, deixaria a entender que isso foi seu desejo.

Nunca gostei de cobras, muito menos das venenosas. E essa mulher a minha frente, era o ser mais peçonhento que meus olhos já tinham pousado. Em outras circunstâncias eu sorriria, mas tamanha era minha aversão a ela, que não consegui.

Meus olhos pousaram em Lud, e automaticamente percebi que tinha algo errado. Seus braços pousavam relaxadamente ao lado do corpo, e seu olhar estava focado, nem um pouco nervoso. O mel de seus olhos parecia mais escuro, e sua expressão transformava quase todo o seu rosto.

Esse era o efeito Morte.

Eu não disse nada, só fiquei olhando, esperando que um dos dois dissesse alguma coisa.

— Vamos? — Morte perguntou, com a expressão séria. Toda vontade de me irritar parece ter se dissipado com o ar.

— Vão pra onde? — Questionei procurando os olhos de Luddie e franzindo as sobrancelhas quando ele se aproximou.

— Volto já. — Ele disse segurando minha mão e colocando uma mecha de cabelos rebeldes atrás da minha orelha.

— Espera. — Falei sentindo um frio subir pela minha coluna. Algo parecia errado, quase fora do lugar. — Tá tudo bem?

—  Vai ficar. — Lud respondeu com um sorriso.

Fiquei mais alguns segundos o olhando, tentando desvendar o que ele queria me dizer. Seus olhos refletiam os meus, mas não com o mesmo brilho de sempre.

Dei um passo para frente, e entrelacei meus braços no seu pescoço. Ele contraiu um pouco seus músculos, e quando o beijei, Lud segurou de leve minha cintura.

— Volta logo. — Comentei segurando seu queixo e o fazendo olhar pra mim. — Se não te obrigo a tomar o café.

Sem falar mais nada, eles saíram, me deixando sozinha no meio da sala. Ele não havia mexido em suas abotoaras nem uma única vez. Quando a porta bateu, eu imediatamente peguei meu telefone.

"Me mande mensagem qualquer coisa."

Enviei e enfiei de volta o telefone no bolso, indo para o escritório de Lud. Dei uma olhada no lugar, mas não achei nada que parecesse um pedido de socorro.

Derrotada, me joguei na cadeira de couro atrás da mesa e afundei na mesma. Um barulho do meu telefone me fez dar um pulo da cadeira. A mensagem era de Melicent.

Larguei o telefone na mesa e cobri o rosto com as mãos, soltando um grito abafado.

A carta no meu bolso pesava, mas eu não ia admitir que desistir era um caminho. A retirei do bolso e joguei na última gaveta da cômoda de Lud.

O silêncio tomou conta do lugar, e eu percebi que nunca tinha me sentado nessa cadeira. Gostei de me sentir importante.

"Não a deixe sair. Estamos indo para aí."

Era o que a mensagem dizia.

Ouroboros - A Nova OrdemOnde histórias criam vida. Descubra agora