Super irmão

11.5K 508 60
                                    

                                                     *Narrado por  Gabi*

Três semanas se passaram desde o jogo contra a Alemanha, e eu não tinha mais visto o David depois daquela noite incrível, porém continuávamos conversando por mensagens, telefonemas e chamadas de video. E os sentimentos declarados naquela noite só ficavam mais fortes.

Depois de uma mini férias no Brasil, David teve que ir para França por causa de seu novo clube. Enquanto isso eu também acertava os últimos detalhes para ir estudar em Paris.

Há uma semana fomos surpreendidos com uma notícia péssima. Uma tia minha que lutava contra o câncer há algum tempo havia falecido, deixando um filho de 8 anos de idade. Pra nossa maior surpresa, ela havia deixado um testamento, onde dizia que a guarda da criança deveria ficar com a minha mãe já que ninguém sabia do pai do menino e minha mãe era a pessoa mais próxima dela, consequentemente a que ela mais confiava. Não tínhamos visto o garoto ainda, ele estava com o conselho tutelar enquanto toda a burocracia do processo de guarda da criança era feita. Depois de muita papelada e até investigação de assistente social para saber se minha família tinha condições de cuidar do menino, finalmente ele pôde ir pra casa.

Era de manhã bem cedo, por volta das 7hs quando fomos avisados que eles estavam com a criança á caminho, e minha mãe acordou todos da casa. Ela queria se certificar que todos estariam lá para recebê-lo. Fomos para o portão e esperamos alguns minutos, então uma van entrou na rua, parou em frente da nossa casa e uma mulher saiu. Ela não disse nada, apenas colocou o rosto para dentro da van, conversando com alguém. Depois de alguns instantes, um garoto saiu da van com uma mochila nas costas. O motorista da van desceu e pegou duas bagagens no porta-malas. O menino nos encarava, segurando na mão da assistente. Ele tinha os cabelos em um tom escuro de loiro, com uma franja que chegava nos olhos, a pele bem branca, e olhos claros.

Depois de pegar todas as bagagens, a assistente se aproximou com ele.

- Dona Suely? - perguntou ela, e minha mãe confirmou com a cabeça. - Esse é o Kaíque. Kaíque, essa é a dona Suely. Ela vai tomar conta de você agora, essa é sua família.

O menino nos olhava sem esboçar qualquer emoção, mas seus olhos mostravam que ele estava inseguro e um pouco assustado.

Minha mãe falou com ele, mas ele permaneceu calado. A assistente pediu para falar com minha mãe á sós, então eu, Dani e Oscar, entramos com Kaíque. Entramos e ele se sentou no sofá, ainda com a mochila nas costas. Nos sentamos também e um silêncio se instalou, enquanto eu e Oscar olhávamos para Dani esperando ela fazer alguma coisa, já que ela era psicóloga.

- Oi Kaíque, eu sou a Dani. - disse ela. - Eu vou ajudar a tomar conta de você de hoje em diante, então a gente tem que se conhecer né, que tal?

Ele olhava pra ela mas permanecia calado.

- Porque você não me diz quantos anos você tem?

O garoto mostrou o número 8 com os dedos.

- 8? Nossa, que legal. E o que você gosta de fazer?

Ele permaneceu calado.

- Você gosta de jogar bola? - perguntou Oscar, e o menino balançou a cabeça que não.

- E de video-game? - insistiu ele, mas o menino voltou a dar a mesma resposta.

O silêncio voltou a tomar conta.

- Você gosta de desenho? - arrisquei o palpite, e para a nossa surpresa ele balançou a cabeça que sim.

Dani e Oscar olharam surpresos pra mim. Eu peguei o controle e liguei a TV em um canal infantil, e agora a atenção dele era só pra TV.

O meu meio irmão Onde histórias criam vida. Descubra agora