Wish You Were Here

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                                                        *Narrado por Gabi*

Minha família estava economizando todo o dinheiro possível para viajar acompanhando Oscar em todos os jogos da seleção brasileira. Faltava uma semana para o jogo de estréia e nossa rodada de viagens iria começar. Chamei dois amigos para ir conosco, Bia e Marlos. Ambos eram meus amigos de longas datas. A Bia era minha melhor amiga desde que tínhamos 12 anos e se mudou recentemente para outra cidade muito distante, por isso só nos víamos nas férias ou feriados prolongados, mas ela também estava economizando fazia 1 ano para poder ir com a gente. Aliás, ela era louca pelo Neymar e não ia perder a chance de conhecê-lo.

Oscar estava tomando banho, e eu o conhecia o bastante para adivinhar que a senha do celular dele era o aniversário da Ludmila. Tínhamos fuçado o celular o máximo possível mas o número do Neymar não estava salvo como "Neymar", talvez por questão de segurança, mas tentar adivinhar como o Oscar salvou o número dele iria levar muito tempo. Então ela teve a ideia de me forçar a pedir o número para David. Fomos na lista de contatos no whatsapp do Oscar e facilmente achamos o numero dele.
"Oi, cabelinho! Duvido você adivinhar quem tá falando." - mandei uma mensagem de voz e ele respondeu quase que imediatamente, com outra mensagem de voz.
"Hmm deixa eu pensar. É uma garota tampinha, que fica falando que é uma sereia?"
"Essa mesmo. A mais linda que você conhece."
"Hahahahaha fala Gabi. O Oscar sabe que você tá mexendo no celular dele?"
"Xiu. Eu peguei rapidinho só pra te pedir um mega favor. Tem como você me passar o número do Neymar?"
"Mas será possível que as pessoas só pensam nos atacantes mesmo? Eu achei que você era diferente, mas você é igual a todas elas." - ele disse dramatizando como sempre.
"Hahahaha não é pra mim, boboca. É pra uma amiga minha que é fã dele."
"Ela é sua amiga? Que pena. Diga á ela que eu sinto muito."
"Ai como você é besta. Passa logo o número, o que é que tem?"
"Pra eu passar o número dele pra uma fã tem 3 critérios. O primeiro é não comer laranja com sal. O segundo é não dizer que é uma sereia. E o terceiro é não me chamar de Neymar quando acorda.... Poxa, infelizmente você não se encaixa no perfil."
"HAHAHAHAHAHAHA Meu Deus como você é ridiculo. Então tá cabelinho, você que sabe. Fica aí chorando com saudade de mim, tchau."
"Sentir saudade de uma tampinha no meu pé que fica postando minha foto no insta? Jamais, queridinha. Vai lá com o Neymar."
"Eu vou conseguir o número dele sozinha, você vai ver."
"Hahahaha Boa sorte então."
- Aff porque ele não quis passar? - Bia disse decepcionada.
- Porque ele é dramático. Acho que as chances da gente adivinhar como o número tá salvo no celular do Oscar são maiores que as chances do David nos passar o número.
- Porque você disse que a gente vai conseguir sozinha? Nós não vamos.
- Bia, esquece. O David é chato, ele não vai passar.
- Pelo que você me contou, vocês se divertiram pra caramba juntos e ele gostou de você, deve estar só se fazendo de difícil. Insiste mais um pouco que ele passa. Por favor, faz isso por mim? - ela fez bico.
- Ai, ta bom. Me dá o celular.
Peguei o celular do Oscar e mandei uma mensagem escrita "Tá bom eu confesso, sou uma fracassada. - Gabi"
Esperamos cerca de 5 minutos e a resposta chegou.
"Eu sei." - ele respondeu.
- Ai que ódio, eu sabia que ele ia me zoar! - falei enquanto Bia gargalhava.
Bia dizia um plano de convence-lo mas eu não prestei atenção. Apesar de estar rindo e brincando com ele, não podia ignorar o que aconteceu depois do beijo. Ele provavelmente ainda estava se sentindo mal e eu precisava dizer alguma coisa. Sem a Bia notar, escrevi uma mensagem que dizia "Precisamos conversar, me lembrei do que aconteceu na piscina e sei que você deve estar se sentindo péssimo. Desculpa"  e o enviei.
- Gostei dele, ele é engraçado.
- É mesmo. Você vai amar conhecer ele.
- Vou amar mais ainda conhecer o amigo dele, o atacante.
- Você é doente! - joguei uma almofada nela.
- Não tô ouvindo barulho do chuveiro, acho que o Oscar já terminou. Corre, me dá o celular. - ela tomou o celular da minha mão e colocou no lugar onde ele tinha deixado.
Oscar saiu do banheiro e ficamos caladas olhando para ele.
- O que foi? Porque ficaram quietas de repente? - ele disse estranhando.
- Nada, só tava pensando aqui, se você fosse salvar o número do Neymar no seu celular, como você iria salvar o nome dele? - ela perguntou na cara de pau.
- Porque? Você vai roubar meu celular pra tentar pegar o número dele? - ele disse rindo.
- Claro que não. Eu jamais faria isso!
- Sei ... - ele pegou o celular e subiu as escadas.
- Você é louca! - dei uma risada.
- Louca pelo Neymar, então tudo bem. E trata de fazer seu amigo passar o número dele, porque se depender do seu irmão não vou conseguir nunca.
- Se depender do David, muito menos.
- Nossa, tudo coopera contra meu amor com o Neymar. Nunca vi isso! Mas tudo bem, as melhores coisas são difíceis de conseguir.
Eu dava risada do jeito que ela falava.
- Vai logo tomar seu banho, esqueceu que você tem horário marcado pra pintar o cabelo?
- Lógico que não esqueci. Eu vou só tomar banho rapidinho e a gente vai.
Fomos para meu quarto e ela tomou banho no banheiro que tem lá, enquanto eu a esperava mexendo no notebook. Estava lendo um texto que uma fã do Oscar fez pra ele, quando Oscar entrou no quarto.
- Ai que susto. - falei colocando a mão no peito.
- Susto porque? - ele fechou a porta.
- Eu tava concentrada lendo um texto que uma das suas fãs fez. Quer ver?
- Depois. Agora eu quero falar de outra coisa, e espero que você seja sincera comigo.
- O que foi? - percebi que a conversa era séria e fechei o notebook, voltando minha atenção só pra ele.
- Você pegou meu celular né? - ele estava com uma cara séria.
- Sim, desculpa. A Bia queria o número do Neymar e ...
- Tá, isso não importa. - ele me interrompeu. - O que eu realmente quero saber, é o que aconteceu entre você e David na piscina.
- Do que você tá falando? - me fiz de desentendida.
- Gabi, não finge que não sabe. As mensagens estão no meu celular, você achou que eu não ia ver?
Ao ouvir isso meu coração gelou.
- Porque você se desculpou? - ele continuou.
- Nada, foi só uma brincadeira nossa.
- E porque você disse que ele devia estar se sentindo péssimo?
Eu não sabia o que dizer, estava com medo da reação dele. Deus ouviu minhas orações quando Dani entrou no quarto.
- Desculpa, interrompi alguma coisa?
- Interrompeu. A Gabi estava trocando mensagens estranhas com o David e agora não quer dizer o porque.
- Que mensagem estranha?
- Ela enviou "Precisamos conversar, me lembrei do que aconteceu na piscina e sei que você deve estar se sentindo péssimo. Desculpa." e agora tenta me convencer que estava só brincando. Vamo Gabi, eu quero saber o que aconteceu na piscina e porque ele tá se sentindo péssimo. - ele dizia em um tom bravo.
Eu olhava para a Dani como se estivesse pedindo socorro.
- Gabi, para de mistério, diz logo pra ele o que aconteceu. Ou você quer que eu fale?
Eu não conseguia responder e nesse momento eu só queria sumir dali, não acreditava que a Dani estava fazendo isso comigo.
- Tá bom então eu falo. A Gabi postou uma foto no instagram do David onde ela estava beijando o rosto dele e ele estava com a garrafa de vodka na mão, daí a namorada dele viu e os dois brigaram. Mas a Gabi não lembrava disso porque bebeu demais, pelo visto ela se lembrou e resolveu pedir desculpas. Só isso.
Respirei aliviada.
- Foi isso mesmo Gabi?
- Foi.
- E porque você enrolou tanto pra me contar? Cadê essa foto, deixa eu ver.
- Tava no celular dele e já foi apagada.
- Vacilou hein? Eu te disse que a namorada dele era chata. Deve estar no pé dele até agora.
- Por isso eu disse pra Gabi pedir desculpas. - Dani disse.
- Poxa, não faz mais isso. Eu fiquei imaginando um monte de coisa.
- Para de ser paranoico, deixa a menina em paz. A Lud ligou e disse que tá te esperando passar lá. - a Dani continuava tentando aliviar minha barra.
- Ta bom. E Gabi, não quero mais ver você trocando mensagem com o David, beleza?
- O que tem demais nisso?
- Eu não quero. - o tom com que ele falou me fez querer não questionar.
- ... Tá.
- Tenho que ir agora, tchau. Não me assusta mais assim. - ele beijou minha testa e saiu.
Assim que ele saiu eu me levantei e abracei a Dani.
- Obrigada, muito mesmo. Eu te amo! - falei ainda a abraçando.
- Você vacila demais. Tinha que falar isso usando o celular dele? Você achava mesmo que ele não ia ver?
- Eu nem pensei nisso. Eu sentia que tinha que pedir desculpas...
- Tá bom, mas toma mais cuidado. Eu vou sair com a mamãe, você vai ou quer ficar com a Bia?
- Ela tem horário marcado no salão, então a gente vai ter que ficar.
- Cuidado hein.
- Pode deixar. 
Ela me abraçou e saiu do quarto.
A função da Dani sempre foi acalmar as coisas entre eu e Oscar. Mesmo quando a gente era criança, e brigava porque eu quebrei algum carrinho dele ou pior ainda, quando furava ou sumia alguma bola, era a Dani quem acalmava os ânimos e era nossa "juíza". Talvez pelo fato dela ser a mais velha, ou talvez porque ela sempre teve esse dom de entender as pessoas.
Assim que eles saíram, Bia abriu a porta do banheiro enrolada em uma toalha e com a boca aberta.
- O que aconteceu na piscina com o David? Eu não acredito que minha melhor amiga tá me escondendo alguma coisa.
- Você ouviu, a Dani já falou.
- Ah para né. Essa conversa pode enganar seu irmão, mas eu sou mais esperta que isso.
- Tá, depois eu te conto. Agora veste uma roupa que a gente tá atrasada.
Bia se vestia e passava maquiagem enquanto eu ainda raciocinava o que tinha acontecido. Eu não conseguia imaginar do que Oscar seria capaz se descobrisse tudo. A única certeza que eu tinha certeza era que ele brigaria com David. A amizade dos dois é tão pura que eu não quero jamais ser o motivo do fim dela. David faz bem para o Oscar. Ele o ajuda sempre que possível, seja financeiramente ou dando conselhos, o fazendo rir quando ele tá mal ou sendo o professor de inglês dele. David e Oscar é uma daquelas coisas que só quem vive de perto entende como é e não quer ver um fim.
Bia estava enrolando, então fui mexer no twitter enquanto a esperava. Me surpreendi quando vi que tinha recebido uma DM de David, nela dizia "Se eu fosse você, não me mandava aquela mensagem no celular do Oscar. Mas enfim, não tem que se desculpar e você não é fracassada. Mesmo brincando você me transmite calmaria quando tudo aqui é confusão". Aquilo mexeu comigo, mas não sei dizer exatamente porque. Talvez pela ultima parte da frase, "quando tudo aqui é confusão". Ou será pela segunda parte, "você me transmite calmaria"? Aliás eu achei que ele estaria chateado comigo pelo beijo... Resolvi deixar o meu número como resposta, e pedi que me ligasse quando possível.
- Oi, acorda! - Bia apareceu na minha frente - Eu tô falando com você.
- Ah, oi. Desculpa, eu tava concentrada em uma coisa aqui.
- Concentrada? Você tava em outro planeta. O que te prendeu desse jeito? Eu quero ver também.
- Não foi nada. - fechei o notebook depressa.
- Olha, não é por nada não mas eu acho que tem alguma coisa que você não quer me contar. Eu só espero que você se lembre que eu sou sua melhor amiga e te conheço muito bem ...
- Ta Bia, já terminou? Você vai perder o horário no salão.
                                                         [...]
No caminho, consegui enrolar a Bia e ela parou de fazer perguntas sobre o David. Aquelas perguntas me faziam pensar na mensagem que ele me mandou, e aquela mensagem me deixava confusa. Talvez o melhor a fazer seja deixar isso pra lá. Como a Dani mesmo disse, ter qualquer coisa com o David é uma péssima idéia. Ele tem namorada, e eu tenho um irmão que o mataria se descobrisse que um possível clima estava pintando entre nós.
Chegamos ao salão, e a cabeleireira começou a pintar o cabelo da Bia. Eu sabia que aquilo levaria horas, então me sentei e vasculhei a cesta de revistas. Uma delas me chamou a atenção, pois trazia a foto de Oscar na capa. Resolvi ver o que estavam dizendo sobre ele, e no título da matéria o descreviam como "um dos destaques da seleção" e na matéria ainda o chamavam de "jovem jogador com futuro promissor" e "atleta brilhante". Eram tantos elogios que eu me surpreendia ao lembrar que aquele cara tão talentoso era meu irmão. Sorri orgulhosa e fechei a revista.
Uma mulher entrou no salão, e eu reconheci a voz. Era a dona Odete, mãe do Marlos.
- Oi, Gabi. Que surpresa maravilhosa! - ela tinha um jeito empolgado de falar com as pessoas, sempre com um sorriso largo no rosto. Não importa quem era, ela sempre falava como se conversar com aquela pessoa fosse a coisa mais legal do mundo.
- Oi dona Odete, tudo bom? - me levantei e a abracei, retribuindo o sorriso. Enquanto a abraçava, reparei que Marlos estava com ela e quase a empurrei para ir correndo abraça-lo, mas tive que ser educada e responder cada pergunta que ela fazia sobre a minha família e principalmente sobre Oscar. Marlos apenas esperava com as mãos no bolso e rindo daquela situação. Quando ela mencionou Oscar, ele revirou os olhos e eu quase fiz a mesma coisa. Era legal ouvir pessoas falarem como meu irmão é um bom jogador, mas há uma diferença entre elogio e bajulação.
Fui o mais simpática possível com ela e finalmente a sessão de perguntas terminou. Corri até Marlos e o abracei bem forte, ele tirou as mãos do bolso e retribuiu o abraço.
- Meu Deus, eu não acredito que você está aqui! - o soltei - Achei que viria pra São Paulo só na semana que vamos viajar.
Nossas mães eram melhores amigas há muitos anos, por isso nos conhecemos desde que éramos bem pequenos e crescemos juntos. Eu o considerava meu irmão, mas aos 14 anos os pais dele se divorciaram e ele decidiu ir morar com o pai no Rio de Janeiro. Desde então nosso contato era só virtual, essa é a primeira vez que nos encontramos.
- Resolvi fazer uma surpresa, só não esperava te encontrar aqui. - ele falava sem jeito.
- Deu certo, eu realmente fiquei surpresa haha. Nossa, tem tanto tempo que a gente não se vê. Você tá tão diferente. - falei analisando o rosto dele. - Tirou o aparelho, emagreceu, não tem mais espinhas. Tá pegável até. - nesse momento ele corou e sorriu tímido - Own que fofo, você continua tímido. - eu ri e apertei a bochecha dele.
- Obrigado, mas já pode parar de me tratar que nem criança. - disse tirando minha mão no rosto dele - Tá afim de ir tomar alguma coisa? Minha mãe vai demorar aqui.
- Claro. Tem uma sorveteria maravilhosa aqui perto. Quer ir lá?
- Qualquer lugar menos um salão cheio de mulheres conversando e fazendo coisas malucas no cabelo, por favor.
Avisei para a Bia e em seguida saímos.
                                                            [...]
Chegamos na sorveteria que era self-service e montamos nossos sorvetes. Depois escolhemos uma mesa na calçada para sentar.
- Eaí, matando saudade de SP? - puxei assunto enquanto experimentava a primeira colher de sorvete.
- Mais ou menos, exceto pelo fato que eu não sinto saudade de SP. - sorriu.
- Como não? Você cresceu aqui, é sua obrigação sentir saudade, seu carioca falsificado.
- Não me leve á mal mas o Rio é bem melhor.
- Ah é? Me diz uma coisa que é melhor no Rio do que aqui.
- Sei lá... As pessoas.
- Ei, você me ofende sabia? - dei um leve empurrão no seu ombro.
- Desculpa, - ele sorriu - mas é a verdade. Todo mundo sabe que cariocas são as pessoas mais legais do mundo.
- Então me responde uma coisa, quem vai te levar pra conhecer a seleção brasileira, sabendo o tanto que você é fanático por futebol?
- Você. - ele revirou os olhos e sorriu.
- Isso me faz tecnicamente a pessoa mais legal do mundo, e eu não sou carioca.
- Você continua modesta! - eu dei de ombros. - Senti saudade disso ... Você não faz ideia do tanto que as coisas são chatas sem você por perto.
- Eu também senti saudade de você, muita. Tudo continua quase na mesma, mas seria mais legal se você tivesse aqui pra viver comigo cada coisinha. Por isso tive a idéia de te chamar pra viagem, porque vai ser mais legal ao seu lado.
- Poxa, valeu. - ele ficou sem graça.
- Me responde uma coisa, quem é seu jogador favorito da seleção?
- Hum ... Eu sou zagueiro, então meus favoritos são Thiago Silva e David Luiz.
Droga, parecia que tudo ao meu redor me levava á pensar nele...
- O David? Sério?
- É... Porque? Você não gosta dele?
- Eu amo ele. Quer dizer, sim eu gosto dele. É que ele esteve na minha casa semana passada.
- Jura? Caracas, que top! Você jogou com ele?
- Jogar com ele? - estranhei.
- Sim. É a primeira coisa que eu faria se conhecesse ele pessoalmente, ia pedir pra ele jogar comigo.
- A gente jogou vôlei, isso conta?
- Não, vôlei nem tem graça.
- Mas você vai conhece-lo, não se preocupa. E ele é muito legal, com certeza vai aceitar jogar contigo.
Terminamos o nosso sorvete e voltamos para o salão, conversando e dando muita risada no caminho. Ainda esperamos um pouco até a Bia terminar, cerca de 30 minutos.
- E aí, gostou? - perguntou ela balançando os cabelos.
- Amei, tá linda. Não tá Marlos?
- Sim, ficou bom.
- Ficou bom? Aprende a elogiar uma mulher, garoto. - dei um tapa no braço dele. - Repete comigo: tá linda!
- Tá linda. - ele disse sem jeito.
- Hahahaha obrigada.
- Ah sim, Marlos essa é a Bia e Bia esse é o Marlos. Ele vai viajar com a gente.
- Prazer, Marlos. - os dois apertaram as mãos.
- Você vai dormir lá em casa? - perguntei.
- Não, só na semana da viagem.
- Porque?
- Porque sou um rapazinho e lá é uma casa que só tem moças. - ele disse em um tom engraçado, zoando.
- Não é verdade, meu irmão está lá.
- Você fala como se fossemos amigos...
- Mesmo se fossem, ele quase não para em casa. Vive saindo com a Ludmila. - a Bia acrescentou.
- Verdade. É, então é melhor você ficar na sua casa mesmo rapazinho. Foi muito bom te encontrar, a gente se fala depois. - nos despedimos e fomos embora.
                                                                [...]
Chegamos em casa e sentimos um cheiro forte de comida queimada. No fogão havia uma panela que parecia ter sido jogada em uma fogueira de tão preta.
- O que aconteceu aqui? Você resolveu cozinhar? - perguntei quando Oscar entrou na cozinha.
- Ha-ha muito engraçado.
- Sério, quem fez isso?
- A Ludmila resolveu fazer um jantar romântico mas sem querer deixou queimar.
- E cadê ela?
- Tá no quarto chorando como se essa fosse a pior tragédia do planeta.
- Tadinha, porque você não tenta acalmar ela?
- E você acha que ela quer abrir a porta? Tá lá trancada e chorando mais que tudo. O médico havia falado que nessa fase da gravidez os hormônios aumentam exageradamente e ela podia ficar mais emotiva que o normal, mas eu não imaginava isso. - ele tava com uma cara de desespero, como uma criança quando faz coisa errada e não sabe como contar para a mãe.
- A Dani aqui agora seria ótimo né... - falei.
- É, mas ela nem sequer atende o telefone. Quer tentar falar com a Lud?
- Eu? Porque eu?
- Sei lá, você é mulher...
- Ótimo argumento Oscar. - ironizei - Eu posso tentar, mas não garanto nada.
- Tenta lá.
Fomos para a porta do quarto e começamos um processo de convencimento. Demorei para conseguir faze-la finalmente abrir, e quando ela abriu Oscar entrou. Deixei os dois á sós e fui para o meu quarto.

Ludmila estava no notebook conversando com uma amiga no skype. Ela estava muito empolgada com a conversa, pareciam estar comentando sobre alguma noticia bombástica ou algo do tipo. Ela me chamou para aparecer na chamada de vídeo, queria me apresentar para a amiga. Eu sentei ao lado dela  e dei um "oi", então senti meu celular vibrar. Era um número desconhecido.
- Alô?
- Oi tampinha... Ou sereia, ou neymarzete ... Sei lá, como te chamo? - reconheci a voz, era de David.
- Me chama de Gabi. - um sorriso involuntário apareceu no meu rosto.
Bia perguntou quem era mas eu apenas me levantei e fui conversar na varanda.
- Achei que não ia me ligar, cabelinho.
- E porque eu faria isso?
- Verdade, eu sou tão legal que não tem motivos pra você não me ligar. Como você tá?
- Eu ... tô bem. Tô em um boliche com meu amigo, tentando esfriar a cabeça.
- Já te falei que sou campeã no boliche?
- Hahahaha não, não falou não. Uma sereia e campeã no boliche? Nossa, você é talentosa.
- Pois é, eu faço parte da seleção brasileira de boliche. Mas no momento é só isso, pois estou me aposentando da função de sereia. Depois de um cabeludo me empurrar muitas vezes na piscina eu descobri que também sinto caimbra nas pernas e sou uma mera mortal.
- Ah então a culpa é minha? - ele gargalhou
- Claro que é.
- Então tá bom. - se recuperou da risada.
- Mas, como estão as coisas por aí? A mensagem que você mandou me preocupou.
- Agora tá tudo bem, já conversei com ela. Quer dizer, não tá tuuudo bem mas tá melhor.
- E como você tá se sentindo?
- Cara ... - ele fez uma pausa. - Pra falar a verdade eu tô me sentindo cansado. Muito cansado. O nosso relacionamento tá indo de mal a pior. Meu coração anda cansado.
- Ás vezes a melhor coisa que você faz, é dar um passo para trás e dar uma chance para si mesmo respirar...
- Tô precisando mesmo fazer isso. Acho que tô carregando mais pesos do que um relacionamento exige.
- Posso te perguntar uma coisa?
- Pode.
- Porque você se força a ficar com ela? Tipo, parece que essa é a coisa mais importante do mundo. Desculpa, não me leve a mal ela é sua namorada e tem que ser importante pra você, mas muitas pessoas no seu lugar já teria desistido de tentar uma coisa que não dá certo. Algumas pessoas apenas não nascem pra ficar juntas, digo juntas-juntas, embora seus encontros físicos sejam bem românticos e inesquecíveis. Vai ver é isso que querem dizer quando dizem que tudo isso é um jogo.
- Você acha que eu deveria parar de tentar?
- Eu não sei, não quero opinar na vida de vocês pois não sei o lado dela. Só queria entender o porque insiste tanto.
- Durante meses a fio eu tive minhas dúvidas sobre isso, negando toda lágrima que ela pudesse causar. Eu queria que isso tivesse acabado, mas eu sei que ainda preciso dela aqui.
- Você tem certeza que é isso que você quer?
Ele fez uma pausa em silêncio.
- David?
- Oi, tô aqui.
- Então ... ?
- Não me faz perguntas complicadas, Gabi.
- Se você não tem certeza da resposta, então quem tá na hora de se perguntar alguma coisa é você mesmo.
- Droga... Tem como você me dar um abraço?
- Te dar um abraço?
- Não, não é você. Tô falando com meu amigo aqui. - pude ouvir uma voz masculina ao fundo, pedindo para David o soltar e gargalhei.
- Coitado.
- Meu melhor amigo não quer me abraçar, dá pra acreditar nisso? Não se fazem mais amigos como antigamente. - ele suspirou e naquele momento imaginei que ele estivesse balançando a cabeça, com uma cara de decepção engraçada que só ele faz. - Ei, eu tenho que ir agora. Obrigado pelos conselhos.
- Me promete que vai ser mais forte que isso?
- Eu posso ser forte. Mas agora eu queria que você estivesse aqui ... Me lembro de todas aquelas coisas malucas que você disse, você as deixou passando pela minha cabeça. Eu só queria dizer que eu gosto do seu jeito, todo mundo deveria conhecer uma Gabi uma vez na vida. Gosto do jeito como você acelera meu coração, e como o acalma.

[...]

Notas Finais

Eaí, continua?

O meu meio irmão Onde histórias criam vida. Descubra agora