Exclusive

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Gabi P.O.V

As coisas tinham ficado um pouco malucas depois dos atentados terroristas. E não falo somente da minha vida, mas do mundo inteiro. A França e toda a Europa ficaram mais frias ainda em relação á qualquer religião e principalmente o islã. Paris, a cidade famosa por ser "a cidade do amor", ficou amedontrada. Seus moradores tinham medo de sair de casa ou permanecer muito tempo em algum lugar público. Qualquer coisinha era sinal de alerta, e vivemos o medo na pele pelo restante da semana.

A tragédia deixou marcas. As crianças agora se assustavam com facilidade, principalmente com barulho alto. A escola de Nicolas fechou e Manu não conseguia mais dormir sozinha. Mesmo dormindo no mesmo quarto que os irmãos, ela queria dormir na nossa cama para se sentir segura. Talvez ela, por ser menina e mais delicada, foi a que mais levou marcas daquela noite de terror. Explosões, tiroteio, gritos e pessoas feridas... Um cenário que nenhuma mãe quer que sua filha de 4 anos presencie. E isso fez com que eu e principalmente David, ficássemos ainda mais protetores com os 3. Haviam se passado 2 dias dos atentados, mas ainda vivíamos como se estivéssemos naquela noite. A sensação era a mesma.

Meu coração foi á mil quando o despertador tocou. Era a primeira segunda feira depois daquela sexta de terror, e o barulho do despertador nunca foi tão assustador. Desliguei e me sentei na cama, enquanto meu coração voltava ao normal. Olhei para o lado e David havia apenas se mexido.

- Amor, o treino. - falei em seu ouvido e depois dei um beijo em seu rosto. - Anda, levanta. - saí da cama e puxei sua coberta, depois fui ao banheiro e lavei o rosto.

Fiz um coque e desci as escadas. Nas segunda feiras David treinava um pouco mais tarde, por volta das 10h, por isso quando ele acordava queria dizer que as crianças também estavam prestes a acordar. Então fui para a cozinha ajudar dona Rosa. Quando cheguei lá, me surpreendi ao encontrar Benjamin, colocando os talheres na mesa.

- Oi meu príncipe. - falei e ele veio ao meu encontro, então eu o peguei no colo e o abracei. - Acordou mais cedo hoje? - dei um beijo em seu rosto e depois passei a mão em seus cachos, tentando melhorar aquele emaranhado.

- Eu tô ajudando a vovó. - ele respondeu.

- Eu ia te ajudar, mas pelo jeito você já ganhou um ajudante. - falei para dona Rosa.

- Nem me fale, ele quer fazer tudo. Até mexer nas panelas. - ela respondeu rindo.

- Mas mexer nas panelas não pode, né?

- Porque faz dodói. - ele disse.

- Isso mesmo, faz dodói.

- Hoje eu vou pra escola? - ele perguntou e eu ri.

- Não, meu amor. Hoje ninguém vai pra escola. - o coloquei no chão.

- Mamãe, olha. - ele correu até a mesa e me mostrou um dos pratos, que tinha uma flor.

- É pra mim? - ele assentiu com um sorriso no rosto e os olhinhos brilhando, esperando uma reação minha. - Que lindo! - peguei a pequena flor que estava um pouco amassada e murcha. - Onde você pegou?

- Na escola do Nicolas.

- E quando você foi lá? - estranhei.

Ele pensou um pouco.

- Eu não lembro.

- Essa flor não é de hoje. - dona Rosa disse. - Ele guardou dentro do bolso e eu achei quando fui pegar a roupa pra lavar. Ele não me deixou jogar fora por nada, disse que era da mamãe.

- Ô meu Deus! - segurei seu rosto e dei um beijo demorado, fazendo que ele tentasse fugir.

Todos os dias, em algum momento ou em alguma coisa que as crianças faziam ou diziam, eu podia ver perfeitamente David neles. E essa era a coisa mais gostosa do mundo, que me fazia derreter toda.

O meu meio irmão Onde histórias criam vida. Descubra agora