Estranhos

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Puxei o caderno de folhas brancas, junto com uma caneta cor de rosa, por ser a única disponível no momento e saí em direção a mesa do fundo. Eram três homens com porte físico de esportistas sentados na última mesa, quando isto acontecia era óbvio que não gostariam de ser atrapalhados. Eles não pareciam pessoas más, porém suas roupas pareciam dizer outra coisa e seus tamanhos também.

– O que desejam? – Perguntei, já preparando a caneta com uma pluma na tampa. – Senhores? – Aqueles três homens pareciam mais perdidos do que cego em tiroteio. Eles não eram dessa região, pelo menos nunca tinha os vistos, e posso dizer isso por esse ser um ponto de encontro bastante movimentado.

– Desculpa. – O primeiro dos três mosqueteiros a se pronunciar foi um loiro barbudo. Ele usava o capuz do casaco preto, caído sobre o rosto dificultando sua aparência, não olhando diretamente para a garçonete ao seu lado. – Um café bem forte, por favor. – Pelo menos, era educado. Diferente de muitos que aparecem por aqui.

– O mesmo, por favor. – Disse o moreno, com um boné dos Giants por baixo do capuz do casaco. – E um bolinho de chocolate com muita cobertura.

O terceiro homem de cabelos preto e compridos, preferiu pedir nada apenas acenando em negativo com a cabeça. Anotei os pedidos rapidamente e segui até o balcão jogando o caderninho para a senhora que já preparava os cafés mesmo antes de ler o que pediram.

– Nunca vi esses caras por aqui. – Comentou ela, encarando os três no fundo. – Tome cuidado, essa região não é a mesma faz dias. - Avisou enquanto colocava na bandeja os cafés e um bolo de chocolate com muita cobertura para o nosso novo cliente.

Depois desse aviso, era melhor tomar cuidado com esses caras. Esses dias a máfia da região andaram mandando um 'oi' para os comércios e para as pessoas, em uma forma de aviso para mostrar soberania. Ninguém se importava como sempre. Soube que a pouco tempo uma academia de artes marciais na Chinatown foi atacada violentamente durante a noite, quatro homens encapuzados entraram dentro do estabelecimento e não roubaram nada, apenas destruíram o lugar dando um prejuízo maior que um assalto normal. Se essa fosse a vontade deles, conseguiram, pois os donos não tiveram como arrumar todas as coisas quebradas e fecharam suas portas. Isso doía em qualquer funcionário do subúrbio. E os casos de pessoas superdotadas teve um aumento muito significativo, recentemente um cara comum conseguiu derreter metade das barras de ferro das escadas apenas por chegar perto o suficiente.

Peguei os pedidos alinhados sobre a bandeja e fui em direção aos clientes colocando eles na frente, esperando qualquer tipo de reação. Mesmo que aqueles três fossem suspeitos, não era da minha conta, mas sentia que conhecia eles, só não sabia dizer da onde. Apenas entreguei os pedidos desejados, preparando para voltar atrás do balcão pensar na carta da faculdade, minha vida dependia disso. Todavia, antes de conseguir colocar meus planos em prática; a voz do apresentador do telejornal chamou atenção.

"Está tarde o bilionário, Anthony Stark, dono da maior indústria de armamentista do mundo, visitou a antiga área industrial da cidade. No Quenn's, testemunhas afirmam que ele vestiu sua armadura e levou algumas crianças para um 'vôo rápido'. O relato se repetiu no Brocklin, onde, além de tudo, o empresário ajudou a deter assaltantes e um assassinato. Aparentemente, o sr. Stark estava procurando algo ou alguém. Confiram as imagens..."

– Hey! Menininha! – Gritou uma voz masculina abafada. Virei para o lado a procura da voz, o dono era o homem moreno do bolinho de chocolate. – Poderia aumentar o volume da TV? – Perguntou mostrando um sorriso gentil nos lábios.

Peguei o controle em cima do balcão, atendendo o pedido. Parecia que até mesmo os maus encarados, não eram muito fã do exibido homem de ferro.

"Tudo indica, que ele continuará suas visitas por essa região. E no próximo sábado foi confirmada sua presença no evento de sustentabilidade, aonde planeja falar sobre seus novos projetos para ajudar na diminuição da poluição..."

– Ele não tem vergonha na cara. – Exclamou o homem de cabelos comprido ao fundo.

Parei de escutar a conversa seguindo em direção as minhas coisas, tinha o que fazer e bem mais importantes, iria aproveitar esse momento de sossego na lanchonete para escrever apenas um parágrafo da carta, a criatividade não andava muito bem esses dias e nem minha força de vontade. Levantei o olhar para a tv que mostrava um anúncio do Jeffrey Mace, novo diretor da S.H.I.L.D.

– "Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos. " – Pensei em voz alta.

++

Era quase meia noite e a rua não tinha tanta movimentação, as luzes dos postes quase apagadas e os mendigos dormindo nos cantos das casas tentando se proteger do sereno. Tinha poucas pessoas saindo da estação, elas seguem para lados diferentes mantendo o rosto abaixado, num modo de proteção que não ajudava em nada. Arrumei a mochila nas costas, tentando seguir os passos mais rápidos de um casal, para não ficar totalmente sozinha nas ruas escuras. Meu apartamento era ali perto, então não precisava correr, pelo menos era o que achava.

A sensação que estava sendo seguida era algo que não conseguia contente, olhava para trás todos os segundos procurando o suspeito, não encontrando nada, podia dizer que era apenas uma cisma, com tantas notícias ruins que você vê na tv era impossível não ficar preocupada durante um pequeno percurso de noite. Faltava apenas mais dois quarteirões para chegar e fazer com que esse dia acabasse logo.

Claro, antes que um cara estranho surgisse na minha frente.

– Sabia que é perigoso andar sozinha numa rua deserta a essa hora da noite? – A voz dele era rouca e rasgada, assim como seu rosto que continha um corte profundo na bochecha esquerda. Olhos grandes e escuros perfuravam os meus. – Posso acompanhar você até sua casa, querida... – A última palavra, soou em um modo malicioso e perigoso para meus ouvidos e para minha vida.

– Não, obrigada. – Respondi aumentando a velocidade dos passos.

Senti uma mão pesada puxando meu braço, fazendo que parasse de andar. Meu coração já batia acelerado de desespero, enquanto tentava controlar a respiração ofegante para não demonstrar medo.

– Que isso, não tem problema! – Insistiu o estranho com tom malicioso, mostrando os dentes amarelados num sorriso medonho.

Tentei lutar contra a mão dele que puxava meu braço com força, fazendo com que ele segurasse ainda mais forte sem nenhuma piedade.

– Me solta, seu filho da mãe! – Gritei furiosa e alto, tentando chamar atenção das poucas pessoas que passavam por ali. – Solta! – Continuei a gritar até conseguir chamar atenção de uma sombra masculina carregando várias sacolas do outro lado da rua, que virou para ver o que acontecia.

– Não tá acontecendo nada! Ela só está tendo uma crise de ciúmes. – Mentiu zombando da minha cara, segurando com mais força meu braço que mais para frente ficaria com uma marca roxa. – Vamos para casa, amor...

Parece que a mentira do estranho ganhou a sombra distante, ele caminhou mais para perto, como se aquele caminho fosse o que seguiria, não dando atenção ao que o outro falava, não dando a mínima atenção para o que podia acontecer comigo. Ao passar próximo da luz branca do poste, clareando seu rosto. Era o loiro barbudo de agora pouco, ele ainda usava a mesma roupa e não usava o capuz sobre a cabeça, mostrando o cabelo bagunçado. O mesmo caminhou bem devagar ao passar ao meu lado, numa forma de impulso tentei soltar meu braço novamente, sussurrando um "socorro" para que ele escutasse. Bem, parece que ele não foi o único ao escutar meu pedido, ao falar isso senti uma pontada na cintura, uma faca, segurando meu braço com ainda mais força.

O loiro parou por um momento, virando para trás.

– Solta ela, cara. Você não precisa fazer isso. 

Innocens - Capitão AméricaOnde histórias criam vida. Descubra agora