Sem título

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– Você é esperta. – Comentou Steve do nada, andando ao meu lado com a cabeça baixa. – Digamos que haja cem raposas e cem coelhos em um bosque, e que exista uma cerca em torno dele, impedindo-os de sair. O que aconteceria? – Olhei para ele surpresa, tentando imaginar onde a mudança de assunto nos levaria.

Steve não comentou ou falou nada desde que saímos daquele local, ele sabia que havia acontecido algo ali, mas preferiu não comentar nada. Isso me preocupava. O homem chamado Fortune não era um trambiqueiro comum, ele realmente possuía conhecimentos de premeditações e visões, no momento que entrei em contato com sua pele, as visões que passou diante foi as mais estranhas e bizarras possíveis, mas por um momento sabia que no futuro, ele seria obrigado a nos ajudar.

– Ambos teriam filhotes, e as raposas comeriam os coelhos. – Respondi pensando por um momento.

– Todos eles? – Voltou questionar, respirando fundo colocando ambas as mãos na jaqueta de frio, olhando para frente pensativo.

– A maioria. Seria difícil encontrar os restantes, eles provavelmente se esconderiam por segurança. – Continuei, recebendo o olhar azuis profundos em minha direção para que continuasse o pensamento. – As raposas começariam a morrer de fome. – Dei de ombros, sem saber o sentido daquilo tudo.

– E os coelhos? – Perguntou novamente, dando a mínima.

– Permaneceram escondidos comendo relva e reproduzindo-se, e assim a população aumentaria. – Uma luz brilhante de compreensão pareceu explodir em minha mente. – E então o número de raposas também aumentaria, porque elas pegariam mais coelhos e iriam alimentar-se melhor, e procriaram. Com o tempo, o número de raposas aumentaria tanto, que elas passariam a comer cada vez mais coelhos, e o número de coelhos voltariam a cair.

– E o processo seguiria repetindo-se, como duas ondas a subir e a descer, uma após a outra. Em algum lugar por trás de tudo isso existe um conceito da matemática chamado cálculo diferencial. É possível aplicar essas mesmas equações a criminosos e policiais de determinadas cidades. – Explicou enquanto parava de andar aos poucos em frente a uma loja que olhei mais cedo. – Os policiais não costumam comer os criminosos, é claro, mas o fundamento é o mesmo.

– Por que está falando tudo isso? – Perguntei intrigada.

– Você pode deduzir o quanto quiser, mas dedução é inútil sem conhecimento. Sua mente é como uma roca a girar eternamente e inutilmente, até que sejam introduzidas as fibras e ela passe a produzir os fios. A informação é a base de todo pensamento racional. Busque-a. Procure-a com assiduidade. Encha o depósito de sua mente com tantos fatos quantos couberem nele. – Steve deu uma pausa na fala, empurrando a porta para que entrasse primeiro no estabelecimento, com um simples sorriso nos lábios. – Não tente distinguir entre fatos importantes e triviais. Todos são potencialmente importantes.

Pensei por um momento, obedecendo o gesto anterior e entrando para dentro da loja, que possuía um ar bastante quente diferente do lado de fora. Estava preparada para sentir-se constrangida e magoada, mas a voz de Steve não tinha nenhum indício de crítica no tom de sua voz, e o que falava fazia sentido infelizmente, apenas com uma boa história e cálculos matemáticos, o super soldado conseguiu das uma das suas melhores broncas. Duvidava de que a matemática pudesse algum dia ser importante, e a deixara de lado, preferia mil vezes "encher o depósito de sua mente" com coisas como arte e músicas, que considerava mais interessantes, mas equações era algo que podia dispensar, mesmo sabendo que era bastante útil em momentos como estes.

Um modo fofo e bastante estranho de explicar que todos os problemas continuariam a aparecer, à medida que detínhamos, e cada vez ele poderia ficar mais difícil. E mesmo as coisas estranham que Fortune falou, era importante sempre lembrar. Um lado sempre vai vencer, o universo sempre vai manter um equilíbrio das coisas, por mais que não sejam justas. Com isso pude ter a noção que Steve acreditou em tudo, apenas não queria admitir em voz alta.

Innocens - Capitão AméricaOnde histórias criam vida. Descubra agora