Accipitridae

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Estudo as linhas em zigue-zague da palma da minha mão, enquanto ainda estava sentada sobre a cama com as pernas dobradas, sem levantar o olho para o homem. Era quase três da tarde, e ainda não havia conseguido dormir depois de toda adrenalina e medo, além do fato que meu corpo todo doía, ou melhor as costas, apenas de encostar na cama senti algo errado. Quando finalmente consegui dormir tive o mesmo pesadelo da outra vez, era como estivesse usando uma camisa de força, o sangue fica represado nos cotovelos deixando as mãos dormentes, apertando tanto sendo incapaz de escapar, não importava o quanto gritava.

A manhã passou de forma tão rápida que fui incapaz de conseguir pensar ou fazer qualquer coisa. Minha mãe apareceu aqui logo cedo acompanhada de Marcus, e ambos não pareciam muito animados, ainda mais depois de contarmos o que aconteceu de verdade. Eles saíram emburrados, mas não falaram mais nada, até agora.

Um músculo se move no maxilar de Steve, ao encontrar meu olhar.

— Você realmente precisa descansar, Liv. — sua voz está baixa e aveludada, deixando meu estômago cheio de nós.

— Não consigo...— respondi tão baixo quanto a um sussurro. — Vai passar, eu prometo. Você está pior do que eu, e eu aqui reclamando feito uma idiota.

Ele me olhou e examinou meu rosto com uma expressão que eu só tinha visto quando ficamos pela primeira vez. Intenso. Absorto. Como consegui estudar cada ângulo. Steve deu a volta na cama, sentando-se novamente ao meu lado, segurando uma de minhas mãos abaixando até o colo. Foi um gesto tão simples que conseguiu fazer meus batimentos voltarem ao normal.

— Liv, estou falando sério. — falou, apertando minha mãe entre a dele de forma segura. — Tem algo errado, e você não quer me falar...

— Não é que tenha algo errado. — respondi, notando que aqueles olhos claros ainda mantinham foco em meu rosto. — Eu só não estou conseguindo pensar direito sobre as coisas. Tipo, aconteceu muitas coisas... parece que minha cabeça está girando, tudo em minha volta está girando.

— Você precisa de ajuda. — concluiu ele, me puxando para mais perto envolvendo em um abraço demorado e quente; era bom poder estar ali.. — Tem algo que possa fazer?

— Preciso respirar. — respondi sem pensar, mantendo os corpos juntos. — Vamos tentar ter um dia calmo... — antes de voltar a falar, um pensamento distante veio a tona por conta da fome. — Precisamos ir no mercado, agora que alimento um batalhão, percebi que as coisas estão acabando.

— Então quer ir fazer compras? — perguntou Steve separando um poucos os corpos, com um sorriso fofo em conjunto com os olhos brilhantes. — Mas admito que comemos metade das suas coisas. Então vamos.

Fiquei parada encarando ele por alguns minutos, notando que havia sido muito fácil o convencer sair de casa e ir no meio de várias pessoas, havia algo muito errado, ou de fato estava começando a ficar louca. Meu sexto sentido dizia que aí tem coisa. Steve ainda parecia com uma expressão intensa no rosto, por detrás desse pequeno sorriso perfeito...

— Tem certeza que está bem? — questionei, sabendo que não obteria nenhuma resposta direta. — Então só pega o agasalho, que hoje vai congelar. — avisei tentando notar alguma coisa estranha.

— É claro que estou bem. — respondeu levantando da cama rapidamente, ainda com aquela cara de quem havia aprontado algo. — Assim como você disse, precisamos descansar, tentar esquecer os problemas e aproveitar o dia. Um dia normal, como um casal.

— O que fizeram com o meu Steve e onde o consigo ele de volta? — perguntei surpresa, saindo da cama. — Tem certeza que está bem?

— Liv, para de ser desconfiada. — respondeu o homem loiro, indo até suas coisas no quarto puxando o casaco preto de frio. — Acredite, tudo o que queria no momento era poder ficar em paz.

Innocens - Capitão AméricaOnde histórias criam vida. Descubra agora