Não houve momento para descanso. Assim que Khepri se levantou e os raios de Rá atingiram a terra, a princesa e sua comitiva seguiram viagem de barco até próximo de Assuan, chegando com o sol a pino. Tomando uma felucca, um barco grande capaz de transportar cargas pesadas, rumaram Nilo abaixo até o porto anterior à primeira catarata do Nilo. Durante todo o trajeto, Menik não teve chances de conversar com a princesa. Iana estava sempre quieta em seus aposentos no barco, ou observando o rio, sem que ninguém tivesse a chance de se aproximar.
Almoçaram e seguiram em caravana até Nekhen, margem oriental do Nilo, onde se hospedaram por mais uma noite. Aos primeiros raios de sol da manhã seguinte, tomaram outra embarcação e desceram o Nilo, passando por Tebas, a antiga capital dos faraós anteriores, e navegaram diretamente, sem paradas, até o Delta.
Chegando ao porto de Avaris, Cidade de Ramsés, escravos do palácio, que já aguardavam a chegada da comitiva da Núbia, os acompanharam pela cidade até seu destino. Iana ainda não conhecia a capital do Egito e se encantou pelas grandes obras e estátuas de deuses e do próprio Faraó.
Já tivera mostras anteriores das grandes obras do Soberano. Desde que assumira o trono de seu pai, o Faraó Seti I, vinte e três anos antes, Ramsés fizera questão de espalhar grandiosas obras, templos e santuários por todo o Egito, principalmente na região da Núbia, para afirmar seu poder sobre o reino subordinado a ele. O próprio templo da deusa Anuket, em Kerma, havia sido construído pelo Senhor das Duas Coroas.
À porta do palácio havia uma fila de comerciantes, artesãos, camponeses, todos esperando para falar com o Faraó. Iana e toda a sua comitiva entraram à frente dessa fila e ela foi recepcionada por um senhor de idade numa antecâmara do palácio.
— Minhas sinceras boas vindas, Princesa Iana Urbi. Eu sou Husani, o Sehpset da Grande Esposa Real Nefertari, a joia do Nilo, e estou aqui para acompanhá-la aos seus aposentos.
— Obrigada, Sehpset. É uma honra conhecê-lo pessoalmente. Eu irei ver o Soberano?
— Receio que no momento não será possível. Como pode ver, a sala do trono está deveras ocupada no momento, e o Senhor das Duas Coroas está bastante atarefado atendendo às demandas do povo e julgando algumas causas. Mas não se preocupe. Já estávamos à sua espera. Você será instalada no Harém, com as outras mulheres, onde poderá banhar-se e alimentar-se. A Grande Esposa Real a receberá, e, após a refeição no fim da tarde, também o Soberano a receberá. Sua estada aqui no palácio já foi garantida. O Soberano irá dizer-lhe qual será sua função durante os próximos dois anos em que aprenderá conosco na Casa Jeneret.
— Agradeço muito sua atenção, Sehpset, e realmente estou bastante cansada, gostaria de me instalar agora.
— Pois não.
Husani chamou três escravos eunucos que vieram buscar a bagagem de Iana e levá-la para o Harém, e também separar os presentes aos soberanos, para quando fosse atendida na Sala do Trono. Iana voltou-se para sua comitiva para despedi-los.
— Obrigada por me acompanharem até aqui. Espero que descansem por hoje e partam somente amanhã.
Husani se aproximou.
— Há instalações que poderão servir à sua comitiva, Princesa, e todos poderão descansar por hoje e amanhã partirão. Poderão se banhar e se alimentar e somente partir sob a proteção de Rá, amanhã.
— Muito obrigada, Sehpset.
— Acompanhem o escravo, ele lhes mostrará onde deverão se instalar.
Um escravo mostrou o caminho, e os servos de Iana e alguns soldados o seguiram. Menik queria ficar, falar com a princesa, mas ela já estava seguindo os corredores em direção ao Harém, ao lado de Husani.
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A Princesa de Cuxe
Historical FictionUm romance entre uma princesa sem reino acusada de assassinar a rainha do Egito e um príncipe filho de escravos, ambientada no Egito Antigo, no Reino de Cuxe e nos desertos cativantes de além Mar Vermelho. Esta história começou a ser publicada em 13...