Capítulo 20

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O Rio Nilo voltara ao normal, mas a vida no Egito não. Muitas famílias perderam seus provedores, pessoas que trabalhavam e dependiam da pesca no rio. Estes pais e filhos foram escalados pelo próprio Faraó, juntamente com alguns servos e escravos, a cavarem na grande extensão do rio a fim de tentarem encontrar água. Ninguém encontrou nada além de sangue e morte. E a morte também os alcançou. Foram todos contaminados por carcaças de animais que antes davam vida ao rio, e durante a Praga do Sangue apodreciam em suas margens, envenenando os que foram obrigados a cavar e cavar, sem descanso.

Mães e viúvas de Avaris, Tanis, Bubastis, Sais e até de Memphis vieram e passaram a manhã inteira e parte da tarde no palácio, para falar e dar suas causas a serem julgadas por Ramsés. Para evitar repetir sempre a mesma coisa, e ouvir sempre os mesmos lamentos, decretou que as famílias que ficaram sem seu provedor devido ao envenenamento das águas do Nilo passariam a próxima vazante a ser sustentadas pelo próprio Faraó, e durante a colheita e a próxima cheia receberiam a mesma porção de grãos que os escravos recebiam. Mas, na próxima vazante, na estação do plantio, essas famílias deveriam já estar organizadas para viverem da terra. Neste caso, teriam um ano inteiro para se preparar. Este decreto pareceu acalmar os ânimos, temporariamente, dos que habitavam e viviam às margens do Nilo.

Já havia ditado seu decreto e o escriba oficial do rei já havia concluído as anotações quando Menik, totalmente recuperado, abriu a porta para o arauto anunciar a chegada de dois reclamantes. Ramsés disse que não atenderia ninguém, e foi quando ouviu o nome de Moisés.

A raiva subiu aos seus olhos, e Menik viu quando o Soberano parecera descontrolado. Ele ordenou que permitissem sua entrada, e Menik abriu para que os hebreus entrassem. Os mesmos que vira transformar o bordão em serpente, a mesma que engoliu as serpentes dos magos. Os mesmos que transformaram toda a água do Egito em sangue, e o fez passar dias entre a vida e a morte, causando mal a todos os egípcios. O próprio Menik sentiu raiva daqueles hebreus, e, se lhe fosse permitido, ele mesmo os mataria pelo bem do Egito.

Os dois entraram e se colocaram diante do Faraó. Como sempre, não se curvaram, desrespeitando o Soberano.

— O que vocês querem aqui? Eu não já disse que os hebreus não serão liberados para essa tal festa que vocês criaram?

Moisés deu um passo à frente, e sua voz, novamente, encheu todo o salão do trono, assustando até mesmo Menik, à distância na porta.

— Assim diz o Senhor: Deixa ir o meu povo para que me sirva! Se recusares deixá-lo ir, eis que castigarei com rãs todos os teus territórios.

Ramsés engoliu em seco ouvindo a voz de Moisés. Ele continuou.

— O Nilo produzirá rãs em abundância, que subirão e entrarão em tua casa, e no teu quarto de dormir, e sobre o teu leito, e nas casas dos teus oficiais e sobre o teu povo, e nos teus fornos, e nas tuas amassadeiras. As rãs virão sobre ti, sobre o teu povo e sobre todos os teus oficiais.

O queixo de Ramsés tremia de raiva.

— Como ousa vir até mim e anunciar uma nova maldição?

— Assim será se não permitires o povo de Deus ir até o deserto, a caminho de três dias, prestar culto em celebração ao Senhor.

— Que me importa o teu Deus, Moisés? O Egito está em desfalque, por sua própria culpa! — A ira de Ramsés deu vazão naquele momento. — Você permitiu que muitos de nós morrêssemos envenenados por causa do sangue e da morte do Nilo! Mães e viúvas estiveram neste palácio hoje por causa da morte que você causou!

— Errado, Ramsés! Você causou todas estas mortes quando não permitiu que o povo de Deus fosse até o deserto e adorasse o Senhor! E se não o permitir agora, mais sofrimento virá para o Egito!

A Princesa de CuxeOnde histórias criam vida. Descubra agora