Iana não tinha comido nada desde a manhã, e já estava no meio da tarde. Estava com muita fome, e não tinha o que comer, por causa de tudo o que estava acontecendo. A Grande Esposa Real a dispensou, como todas as tardes, para ter aulas com o Sehpset, mas ele também dispensou as mulheres por causa da quantidade de rãs que invadira a Casa Jeneret. Mal conseguia caminhar pelos corredores, de volta aos seus aposentos. Pensou se havia algum lugar no Egito em que poderia ficar de pé sem ter rãs tentando subir por suas pernas, ou algum lugar onde poderia sentar e descansar, já que não havia dormido à noite e nem comido nem bebido desde que amanhecera.
Sentia-se cansada, exausta e tentava caminhar quando ouviu a voz de Moisés na sala do trono. Foi até lá o mais rápido possível, tentando pular as rãs e encontrar um local visível do chão para pisar. Parecia que a voz de Ramsés estava novamente alterada.
— Maldição! Essas rãs não se afastam por nada! — gritava o Faraó, chutando outro tanto que tentava escalar as suas pernas. — Roguem ao seu Deus invisível que tire essas rãs de mim! Que tirem essas rãs do meu povo! Se assim fizerem, deixarei ir os seus hebreus para oferecerem sacrifícios no deserto!
Iana percebeu que o olhar de Moisés parecia surpreso. Aproximou-se sorrateiramente, tanto quanto podia, para tentar ouvir melhor, e escondeu-se atrás de uma grossa coluna.
— Diga-me então, Ramsés, quando você quer que eu rogue a Deus por ti, pelos teus oficiais e pelo teu povo — disse Moisés —, para que as rãs sejam retiradas de ti e das tuas casas e fiquem somente no rio.
Ramsés suspirou. Pensou bem sobre aquilo. Ele havia prometido deixar o povo hebreu ir ao deserto. Se pedisse que Moisés retirasse as rãs naquele mesmo dia, na certa ele iria querer que o povo fosse liberado no dia seguinte. Precisava ganhar tempo. Caso as rãs desaparecessem, ele não tinha intenção alguma de deixá-los ir.
— Amanhã — respondeu Ramsés. — Amanhã você roga ao seu Deus para que as rãs sejam retiradas.
— Seja então conforme tua palavra, para que saibas que ninguém há como o Senhor, nosso Deus. — Moisés proferiu estas palavras com uma autoridade que até mesmo Ramsés podia reconhecer. — Retirar-se-ão as rãs de ti, de tuas casas, e dos teus oficiais, e do teu povo. Ficarão somente no rio.
Neste momento, Moisés e Arão saíram da presença do Faraó, que estava de novo praguejando contra rãs que subiram em seu trono.
— Maldição! — Iana o ouviu dizer de longe, pois já estava chegando ao pátio para ver Moisés.
***
— Iana? — disse Moisés quando a viu se aproximar.
Iana se surpreendeu ao ver que ele a esperava. Quando ela chegou perto dele, em seu círculo de proteção, as rãs ficaram afastadas e ela pôde respirar um pouco.
— Eu esperava por você. Imaginei que viesse me ver aqui.
Iana ficou constrangida. Ela corria tanto atrás dele que ele já esperava que ela o fizesse. Ficou envergonhada, mas ele pareceu não perceber, pois abria uma pequena bolsa de couro que trazia por baixo da túnica vermelha, retirando de lá um pão.
— Veja. Trouxe para você. Minha mãe hebreia fez esta manhã.
Iana pegou o pão e quase chorou.
— Obrigada... Eu não havia comido o dia inteiro...
— Não trouxe para minha mãe egípcia, pois, de acordo com o que soube, provavelmente ela deveria ter o que comer.
— Oh! É verdade! — exclamou Iana. — Não me lembrei de ir até ela hoje para saber como estava!
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A Princesa de Cuxe
Historical FictionUm romance entre uma princesa sem reino acusada de assassinar a rainha do Egito e um príncipe filho de escravos, ambientada no Egito Antigo, no Reino de Cuxe e nos desertos cativantes de além Mar Vermelho. Esta história começou a ser publicada em 13...