Capítulo 27

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Moisés permaneceu bastante tempo no eirado, mesmo depois de a presença se esvanecer. Ficou refletindo sobre o que ouvira, sobre as respostas que pedira, e sobre a nova missão. Deus ouvira sua oração e sua súplica, mesmo sabendo que não havia nenhuma razão para tal. E lhe dera uma nova incumbência, pois no dia seguinte mais um julgamento seria anunciado sobre o Egito.

Ele estava preocupado tanto com Ramsés, com sua família, como com Iana sozinha na prisão. O Faraó lhe dera sua palavra de que pouparia Iana até o dia seguinte à noite, em troca de saber a verdade sobre a morte da rainha. Ramsés já havia lhe dado sua palavra antes e voltado atrás nas ocasiões das pragas do Sangue e das Rãs. Por que seria diferente agora?

Ele sabia. Ramsés não amara ninguém mais do que amara Nefertari. E ela havia sido assassinada. Soubera do grande templo que ele construíra em sua homenagem, no Alto Egito. E tão pouco tempo após a festa de sua inauguração, sua esposa morre.

Estava sentado no eirado, olhando as estrelas, pensando nas palavras que recebera do Deus de Israel, e do que teria de dizer a Ramsés no dia seguinte. Seria um golpe muito grande. A Praga dos Piolhos ainda não tinha deixado o Egito, e o anúncio da próxima praga seria dado. Esperava que o Faraó cumprisse sua palavra e soltasse Iana no dia seguinte, ou a próxima praga se acometeria sobre os egípcios antes que os piolhos os deixassem. E isso seria terrível, ainda mais terrível do que será sem os piolhos.

Suspirou. Lembrava-se de cada palavra. Assim que amanhecesse, Ramsés desceria ao Nilo. Moisés deveria encontrar-se com ele lá e anunciar-lhe a próxima praga, em troca da saída do povo. Tudo seria tão mais fácil se ele lhes libertasse logo! Não haveria mais tanto sofrimento sobre os egípcios!

Levantou-se. Precisava falar com Arão e se prepararem. Aquele dia tinha sido longo demais.


***


Ramsés estava estarrecido com o relato de sua esposa Anippe. Mas sua mente ainda estava muito conturbada pelo luto. Dispensou-a e pediu-lhe que não comentasse com absolutamente ninguém sobre a conversa que tiveram. Precisava refletir sobre tudo o que ela dissera e sobre suas suspeitas.

Havia muita informação que se encaixava nos relatos de Isisnefer. Iana dera a Nefertari o amuleto que a matou; ela mesma o comprara de um mercador de fora do Egito, e ele precisava descobrir quem era este homem, se ainda estava por ali; Iana frequentara a casa de Moisés e sua família hebreia durante as últimas duas semanas; ela também procurara saber sobre o Deus dos hebreus com o Sehpset Husani. Ele mesmo o confirmou. E sua mãe afirmou tê-la visto conversar com Moisés no palácio quando ele vinha confrontá-lo. Eram muitas testemunhas contra Iana.

Mas Anippe, que também a havia acusado, acabara de sair dali lhe dizendo outra coisa. Alguém invadira o quarto de Nefertari durante uma noite. Um servo qualquer. Apenas Iana vira este homem, mas ela mesma salvara a vida da rainha, evitando um suposto envenenamento.

Mas e se fosse mentira de Iana? Se Nefertari nunca tivesse sido envenenada, e Iana tivesse inventado esta história, mobilizado guardas para cuidarem das portas de sua esposa, e organizado toda uma estrutura para cuidar pessoalmente de sua alimentação, apenas para desviar a atenção e conquistar a confiança do rei e da rainha do Egito, para só então ter liberdade de tirar a vida da mulher que ele amava? E se Iana já conhecesse Moisés previamente e estivesse compactuando com ele, para matar sua esposa justamente num período tão crítico para seu povo? E se fosse um plano engendrado há mais tempo?

Essas questões permeavam a mente de Ramsés. De qualquer maneira, qual seria a motivação por trás disso? Por que Iana teria interesse de matar sua esposa mais amada? Para enfraquecê-lo? Talvez fosse tudo um plano do rei Zaki, a fim de deixar o Egito mais fraco por aqueles dias e roubar o trono, ou pelo menos garantir sua independência total na Núbia. E se ele desejasse roubar-lhe o Alto Egito e tornar a dividir as duas terras?

A Princesa de CuxeOnde histórias criam vida. Descubra agora