Ramsés andava de um lado a outro. Jay lhe dava as últimas informações que conseguira obter sobre os estragos da chuva de pedras sem sair do palácio. As notícias e previsões não eram boas. Os magos não conseguiram reverter a chuva, ou direcioná-la para Gósen nem para o Mar Grande. Não havia o que fazer. Já passava do sol a pino, e nem mesmo conseguiam ver a luz de Rá. Tudo estava escuro, e os trovões não paravam, nem as pedras deixavam de cair e destruir tudo.
— Perdemos a colheita de linho e cevada — disse o vizir —. Tudo. Perdemos os rebanhos que estavam nos campos. Somente se salvou aquilo que foi protegido. Muitos egípcios estão mortos pelas ruas das cidades, e muitas casas foram destruídas. Ou melhor: ainda estão sendo destruídas. A chuva não acabou, e não há previsão para acabar. Parece estar cada vez mais forte.
Ramsés não respondeu. Continuou andando de um lado a outro. Precisava tomar uma decisão, mas não queria. O orgulho estava falando mais alto em seu coração. Não podia ceder a Moisés. Não podia perder sua mão de obra escrava. Mas também não podia perder o Egito.
— Mande chamar Moisés e Arão aqui.
Jay olhou para o Faraó.
— Como, porventura, os chamaremos sem morrermos no meio do caminho, Soberano?
Mas Jay imediatamente se arrependeu de proferir a pergunta quando Ramsés olhou para ele. Seus olhos pareciam ter uma fúria assassina, e Jay pediu desculpas, se curvou e se retirou sem dizer mais nada.
***
Debaixo da chuva de pedras, quatro oficiais do palácio correram, tentando chegar a Gósen. Protegeram-se como puderam, correram quando houve trégua nas pedras e pararam em casas que estavam com as portas abertas quando as pedras caíam muito próximas. Aos poucos, foram avançando no caminho, mas apenas dois deles chegaram à vila dos hebreus. Um deles foi ferido e o outro ficou para ajudar, arrastando-o para dentro da casa de um comerciante, e quase foi atingido no processo.
Quando finalmente adentraram a área dos hebreus, tiveram de cobrir os olhos com as mãos por causa da claridade do sol, visto que ali não havia nuvens e as pedras não caíam. Apenas ouviam os barulhos da tempestade ali próximo. Dirigiram-se para a casa do patriarca Anram e bateram na porta, sendo recepcionados por Miriam.
Ela abriu a porta e viu dois oficiais do palácio, de pé, diante dela.
— Como conseguiram chegar até aqui? — disse ela, claramente curiosa.
— Não temos tempo para explicações — disse um deles —. Onde está Moisés?
Miriam suspirou e entrou. Pouco tempo depois Moisés apareceu na porta.
— O que querem?
— O Soberano das Duas Terras manda chamá-los, a você e a Arão, imediatamente ao palácio.
Moisés apenas assentiu com a cabeça, sem dizer nada. Entrou, tomou sua túnica e seu bordão e saiu. Chamou a Arão e acompanhou os soldados no caminho de volta.
Na verdade, eram os soldados quem os acompanhavam. Todo o trajeto realizado pelos irmãos era protegido pela chuva de pedras, e eles caminhavam a passos firmes, sem titubear ou se assustar pelas pedras que caíam à direita e à esquerda. Os oficiais caminhavam logo atrás, protegendo-se das pedras junto a eles. Quando chegaram ao palácio, estavam maravilhados o suficiente.
***
Tye entrou na sala do trono e pediu uma audiência com seu filho Ramsés. Precisava contar a ele tudo o que descobrira de Cairoshel.
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A Princesa de Cuxe
Historical FictionUm romance entre uma princesa sem reino acusada de assassinar a rainha do Egito e um príncipe filho de escravos, ambientada no Egito Antigo, no Reino de Cuxe e nos desertos cativantes de além Mar Vermelho. Esta história começou a ser publicada em 13...