Capítulo 8

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Mal Khepri se levantou no horizonte, Menik já estava de pé. Vestiu sua túnica e se dirigiu ao palácio, solicitando audiência com o Faraó. Como as festividades do dia anterior se demoraram, entrando no começo da noite, o Soberano ainda não tinha iniciado as audiências daquele dia, e um oficial pediu que aguardasse. Não demorou muito, e várias pessoas começaram a chegar para também falar com o Senhor das Duas Terras e pedir que resolvessem problemas graves de alguma ordem.

Assim que souberam que ele estava ali, mandaram-no entrar. Quem o recebeu foi o Supremo Comandante do Exército, Amenhotep.

— Filho do Hórus Vivo —, disse Menik ajoelhando-se diante do sucessor de Ramsés II —. Estou aqui para colocar à disposição do Soberano meu cargo de general no exército núbio. Deixei os reis de Cuxe para servir somente ao Soberano das Duas Terras.

— Interessante —, disse Amenhotep. — Posso saber a razão deste pedido inusitado? Não estamos em guerra no momento com nenhum povo, e seus préstimos durante a guerra contra os Hititas foram muito bem recompensados.

— Eu tenho motivos pessoais, senhor. Mas desejo muito estar aqui com os demais oficiais do Reino. Gostaria de integrar o exército e ser destacado para trabalhar em Avaris, Senhor.

Amenhotep analisou-o. Menik era um general experiente e muito bom em batalha. Seria uma ótima aquisição. Observou o semblante do homem. Pele escura como todos os núbios, usava uma tanga de pele de leopardo por cima de um schanti. Seu peito nu exibia um amuleto de ouro e marfim da deusa Sekhmet, e usava uma barba pontuda e um brinco em seu nariz e suas orelhas. Seu cabelo era raspado apenas nas laterais da cabeça, e no alto da cabeça eram presos com rabo de porco, à moda cuxita.

O filho do Faraó suspirou.

— Está bem, Menik. Será integrado como um dos generais de tropa em Avaris. Poderá morar no palácio, se quiser, na ala dos oficiais, e integrará os oficiais da guarda pessoal do Soberano. Mas terá que raspar a cabeça e os pelos do rosto, e deixar de usar partes de animais em suas vestimentas. Como sabe, é abominação aos nossos deuses. Somente os sacerdotes podem usar peles de leopardo em suas vestes.

— Sim, senhor.

— Poderá se apresentar hoje mesmo, assim que estiver pronto.

— Estarei aqui em seguida.

Amenhotep dispensou-o, e dirigiu-se para seus afazeres.


***


Antes mesmo que Yoquebed acordasse, Moisés já estava nas ruas. Arão havia se dirigido para as feitorias e ele para a área comercial. Atravessou uma das ruas, onde um grupo de escravos hebreus puxava penosamente um carro com uma imensa cabeça de pedra, parte de uma escultura gigantesca de Ramsés que provavelmente estava sendo erigida por ali perto. Observou superintendentes chicotearem alguns dos escravos para que andassem mais rápido e não esmorecessem no trabalho. A revolta subiu em seu peito, da mesma maneira que quarenta anos antes, quando matou um feitor egípcio; mas desta vez, ele estava diferente. Algo em seu coração havia mudado. Não sentia mais aquele ímpeto; apenas estava entristecido e esperava que YHW, seu Deus, libertasse seus irmãos o mais rápido possível.

Era uma esperança vã, pois, apesar de saber, com certeza, que seus irmãos seriam libertos, ele também sabia que o Faraó não os libertaria fácil. Era parte do plano. Por isso ele saíra tão cedo ao comércio. Precisava encontrar seu cunhado.

Assim que chegou à área dos comerciantes, olhou em volta e avistou quem procurava. Seguiu diretamente para a área em que ele estava, e foi visto por ele, que imediatamente parou uma venda para falar-lhe.

A Princesa de CuxeOnde histórias criam vida. Descubra agora