Capítulo 56

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Iana iniciava mais um dia de sua viagem. Saíra em comitiva de Buhen para o oásis de Kharga, sua última parada para passar a noite antes de seu destino final. Lembrou-se de quando fizera aquela viagem para se preparar e estudar na Casa Jeneret, e em como se sentia naquele dia. Cheia de expectativas, de imagens de um futuro que nunca se realizou ou se realizaria. Sua vida mudara extremamente daquele dia até o momento, muitas coisas aconteceram em sua vida – coisas ruins e coisas boas – e agora ela voltava para Avaris para ter uma vida totalmente nova, diferente de tudo o que imaginara ou sonhara ter.

Se casaria com Moisés. Um líder hebreu que viera de longe para libertar seu povo da escravidão no Egito. O acompanharia até uma nova terra, com novos costumes, outro Deus, outra forma de viver. Mas, mesmo com tantas novidades e mudanças, ela estava bem mais feliz do que em sua outra viagem.

Estava no caminho para Kharga quando outra comitiva vinha do mesmo oásis e parou diante da sua. Era uma comitiva que vinha de Avaris, e em sua maioria consistia de cuxitas. Muitos pararam para reverenciá-la, reconhecendo-a como a Princesa de Cuxe. Entre eles, uma pessoa se destacou, aproximando-se de onde ela estava.

Iana desceu rapidamente de seu camelo, auxiliada por um servo, para abraçar a amiga.

— Zene? O que aconteceu? Está voltando para Cuxe?

— Não soube da morte da mãe do Soberano?

Iana franziu o cenho.

— Claro que soube. Um mensageiro veio a Kerma especialmente para avisar ao meu pai e convocá-lo para as cerimônias dos funerais da senhora Tye e da Grande Esposa Real. Mas por que está voltando? O que tem a ver com isso?

Zene baixou o olhar.

— A senhora Tye morreu pelas minhas mãos.

— O que está dizendo? — disse Iana, estupefata.

Zene balançou a cabeça.

— Não tive culpa. Na verdade, fui usada para isso. Um dos soldados que trabalha no palácio... Ele também é núbio... Eu me envolvi com ele, mas ele só queria usar minha aproximação como dama de companhia da senhora Tye para envenenar-lhe através da comida que eu levava. No fim, eu iria levar toda a culpa.

— Que horror! E o que aconteceu? Você está fugindo?

— Não. Por Maat! A deusa me protegeu! Fui presa como autora da morte da senhora Tye, e naquele mesmo dia caiu a praga das trevas. Tudo escuro, e eu sozinha e com medo naquela cela... Algo aconteceu, não sei exatamente como foi, pois eu estava presa. E quando fui chamada no salão do trono, e contei o que sabia para o Soberano, Aamas foi preso e eu fui libertada. Não perdi tempo. Me despedi de Makena e da senhora Bithyah, e agora estou aqui, voltando para minha mãe em Napata.

— E por que esse soldado Aamas iria querer matar a senhora Tye?

— Com certeza foi mandado pela senhora Isisnefer. Lembra-se do que ela fez com a Grande Esposa Real, colocando a culpa em você?

Como Iana poderia esquecer?

— Pois bem... Ela fez o mesmo. Felizmente fui protegida pela deusa da justiça e da harmonia. Assim que chegar em Napata farei uma oferenda para Maat.

Iana nada disse.

— E você? — perguntou Zene. — Está voltando para Gósen?

— Sim. — Sorriu ante a mudança de assunto. — Moisés esteve com meus pais em Kerma, e o casamento foi acertado. Nos casaremos no Sinai, longe do Egito.

Zene ficou radiante e abraçou a princesa. Os outros cuxitas que estavam presentes estranharam a reação, e começaram a cochichar. Iana olhou para eles em reprimenda, e logo se afastaram, ficando em silêncio.

A Princesa de CuxeOnde histórias criam vida. Descubra agora