Capítulo 33

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Ao amanhecer, não havia mais uma mosca sequer em toda a terra do Egito. Mas aquela praga havia deixado consequências graves, não só nos seus moradores, mas também na terça parte do gado, que ficara doente por causa das larvas.

Os egípcios sofriam com larvas de moscas, que comiam-lhe suas carnes por dentro e saíam das feridas aos montes, principalmente dos servos e dos que viviam cada vez mais longe do palácio e de Avaris.

Camponeses caíram doentes, alguns ainda vivendo próximos a montes de rãs podres e carcaças de animais mortos à beira do Nilo, o mau cheiro e a proliferação de seres causadores de doenças se assomaram às feridas abertas provocadas pelas coceiras dos piolhos, e agora, larvas em seus corpos. Muitos egípcios morreram, tendo convulsões e dores horríveis, com infecções graves por todo o corpo.

No palácio a situação era mais amena, por causa da ação rápida por parte dos sacerdotes. Ninguém desenvolveu as larvas das moscas, mas ainda sofriam dores. Sacerdotes foram enviados às cidades próximas, e mensageiros às cidades mais distantes da capital, com informações para atacar as larvas e cuidar das feridas, a ponto de se restabelecer. Algumas cidades foram agraciadas pela limpeza de rãs ruas por ordem do Faraó, que ainda jaziam nas esquinas, mas nem todas tiveram esse cuidado.

Ramsés estava recuperado, apesar de não ter dormido aquela noite. Sentia-se aliviado em poder circular pelos seus aposentos e pelo palácio sem enxames de moscas lhe atormentando. Sabia que Moisés cumprira-lhe a promessa. Mas não podia abrir mão dos escravos hebreus.

Por isso, a primeira ação daquele dia foi ordenar o retorno ao trabalho imediatamente por parte de todos eles. Eles que, se quiserem, sacrifiquem ao Deus invisível ali mesmo, em Gósen, e arquem com as consequências caso algum egípcio assistisse àquela abominação!


***


Sabia que Ramsés não cumpriria com sua palavra. Mas a confirmação deste fato era dolorosa. Via a todos os hebreus se retirando para suas estações de trabalho, sendo escoltados por feitores direto de Gósen. Aquilo o atormentava.

Moisés elevou seus pensamentos a Deus. "Por que Ramsés quebrou, novamente, sua promessa?" perguntou. Seu semblante era calmo, e quem o olhasse, jamais perceberia qualquer traço do tormento que sua alma estava naquele instante. E foi por isso que muitos, incentivados por Corá e Zicri, seus primos, o maldisseram quando passaram por ele.

Baixou sua cabeça e voltou ao interior da casa. Lá estava sua mãe, com o pesar em seu semblante.

— Filho, não desanime agora. Deus já o tinha avisado que isso iria acontecer.

E era verdade. Ele sabia, mas saber não quer dizer que seu coração aceitasse. Era como uma decepção. Ele tinha esperanças que o Faraó pudesse, daquela vez, cumprir a palavra.

Suspirou. Iana se aproximou.

— E agora? — ela perguntou.

— Irei daqui a pouco ao palácio, ver Ramsés.

— Deus falou com você? — perguntou Yoquebed, tentando ignorar a proximidade entre seu filho e a cuxita.

— Sim. Irei anunciar uma nova praga. Por isso pedi a Arão que não seguisse com os outros e viesse aqui assim que os feitores deixarem Gósen.

Ele olhou para Iana.

— Acho que está na hora de você partir.

Ela assentiu e entrou para os aposentos de Yoquebed, onde dormira aquela noite, para arrumar suas coisas.

A Princesa de CuxeOnde histórias criam vida. Descubra agora