Capítulo 57

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Os anciãos do povo hebreu de cidades próximas começaram a chegar a Gósen, a pedido de Moisés. Todos eles traziam rebanhos de cordeiros, conforme lhes fora solicitado. Em poucos dias, todos os hebreus estariam na capital, sem que Ramsés pudesse evitar. Era uma multidão de escravos para poucos feitores, e Ramsés não poderia obrigá-los a voltar. Ninguém consegue conter as muitas águas, quando todas correm juntas numa mesma direção.

Naquela manhã, uma reunião havia sido marcada com os hebreus da vila dos escravos, todos eles se aglomeraram no largo do poço maior, e aguardavam as palavras de Moisés antes de se encaminharem ao seu trabalho do dia.

— Hoje é o sétimo dia do mês de Abibe. E este será o primeiro mês de nosso ano, o novo ano hebreu. Este será o principal mês do ano para nós, e deverá ser guardado conforme as ordens de Deus.

Silêncio em todos os presentes. Todas as famílias ouviam a voz de Moisés e suas instruções.

— Aos dez dias deste mês, cada um tomará para si um cordeiro, segundo a casa dos pais, um cordeiro para cada família. Se a família for pequena para um cordeiro, então a família deverá convidar seu vizinho mais próximo, conforme o número de almas, conforme o que cada um puder comer — Moisés ergueu a voz para que todos compreendessem. — Devem calcular corretamente quantos bastem para o cordeiro.

Algumas pessoas passaram a conversar entre si, já se planejando para o momento. Arão bateu seu cajado no chão para chamar a atenção, e todos silenciaram novamente. Moisés continuou.

— O cordeiro deverá ser sem defeito, macho de um ano. Poderão tomar um cordeiro ou um cabrito nessas condições. Tomem-no no décimo dia deste mês e guardem-no até o dia catorze. Todos deverão imolar o cordeiro ao pôr do sol daquela tarde. Tomarão o sangue do cordeiro e marcarão as ombreiras das portas nas casas que o comerem. Naquela noite, comerão a carne assada no fogo, com ervas amargas e pães sem fermento.

O silêncio era respeitoso, todos assimilavam os detalhes das instruções dadas por Moisés, para que nada fosse perdido.

— Não poderão comer do animal nada cru, nem cozido em água, apenas assado no fogo: a cabeça, as pernas e a fressura. Nada deixareis dele até pela manhã. O que sobrar deverá ser queimado.

As mulheres logo se juntaram para conversar entre si a forma que assariam o cordeiro, enquanto os homens já pensavam na forma de marcar com o sangue as suas portas. Mas Moisés os interrompeu.

— Acalmem-se! Todos terão tempo suficiente para se planejarem! Há ainda algumas considerações e orientações que preciso dar a vocês!

Todos silenciaram novamente, em sua ansiedade, e voltaram suas atenções para o líder que falava.

— Deverão cingir os lombos, manter os pés calçados com suas sandálias e ter o cajado à mão. Comereis os cordeiros às pressas. Esta é a Páscoa do Senhor. — E então, a voz de Moisés mudou, como quando às vezes acontecia, e quem a ouvia tinha a sensação de que não era Moisés falando. A própria Bithyah, que o ouvia atenta, percebeu que era a mesma voz que falara através de seu filho quando seu nome fora mudado. — Porque naquela noite passarei na terra do Egito e ferirei todos os primogênitos, desde os homens até aos animais, e executarei juízo sobre todos os deuses do Egito. Eu sou o Senhor.

O assombro tomou conta do coração de todos eles.

Entre os presentes estava Menik, que pela primeira vez ouvia aquela voz vinda dos lábios de Moisés, e sentia o medo tomar conta de seu peito. Então, sentiu uma mão pequena apertar a sua. Olhou ao seu lado, e viu Makena, olhando firme para a frente, fitando Moisés. Ele também apertou sua mão, e voltou sua atenção ao líder hebreu.

A Princesa de CuxeOnde histórias criam vida. Descubra agora