Capítulo 60

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Tão logo Moisés voltara a Gósen, todos os hebreus já estavam prontos para partir. A caravana era imensa, hebreus vinham de todas as partes daquela terra e se dirigiam para o oriente. Pelas ruas de Avaris, os egípcios saíram de suas casas e gritavam para que os hebreus se apressassem, antes que o Deus de Israel se irasse e derramasse mais mortes sobre o Egito.

Quando o Faraó havia chamado Moisés, ainda noite, para o palácio, a notícia correra entre os hebreus, que tomaram o pão que fizeram sem fermento, e guardaram suas amassadeiras e o que restara em suas casas. Penduraram suas trouxas em suas costas e guiaram as carroças repletas de bens para fora da vila dos escravos, postando-se prontos para partir. Os egípcios que os viam se retirando ainda tinham bens para dar-lhes, dando-lhes também roupas, além de objetos de prata e ouro.

Então, aquela multidão de mais de um milhão de pessoas deixou o Vale do Nilo, guiados por Moisés, em direção a Sucoth. E neste dia completaram-se quatrocentos e trinta anos, desde que seus antepassados, Yussef e Yacob, vieram morar no Egito, e a seus filhos, criadores de ovelhas, foram dadas as terras de Gósen para habitar.

Muitos egípcios e cuxitas também tomaram parte nesta peregrinação. Alguns egípcios, que se afeiçoaram durante anos pelos hebreus, tendo-os como escravos ou empregados em suas casas, acabaram por abandonar a terra do Egito, sem esperanças no Faraó que perdera sua guerra para o Deus Invisível. Vários camponeses, que perderam tudo durante as pragas, também acabaram por seguir a caravana em direção a uma nova terra, com esperanças de uma nova vida. Muitas viúvas, que perderam seus maridos e filhos para essas mesmas pragas, sem nenhuma perspectiva de vida no Egito, também seguiram os hebreus em busca de mudança de vida. Alguns cuxitas fizeram o mesmo, dentre eles, Menik e Makena, que agora estavam lado a lado, prontos para recomeçarem juntos.

A tudo o que vivia, Moisés escrevia em tábuas de argila, e guardava-as em baús numa carroça em separado, que seguia à frente da gigantesca comitiva. Ao seu lado, Iana Urbi, a Princesa de Cuxe, e toda a sua família hebreia: Yoquebed, Miriam, Mered e sua esposa Bithyah, seu irmão Arão, sua esposa e seus quatro filhos, e o jovem Oseias, filho de Num. Também seguiam à frente seus primos Corá, Nefegue e Zicri, bem como suas esposas e filhos.

Todos expressavam sua felicidade e celebravam com cantos e danças durante a jornada que os levaria até Sucoth. A esperança enchera seus corações. Em breve, estariam numa terra onde não seriam escravos, e poderiam trabalhar para construir seus lares e suas famílias. Os sorrisos não deixavam seus rostos, e caminhar não parecia tão difícil àquelas primeiras horas.


***


Enquanto isso, no Egito, Ramsés andava de um lado a outro. O sol subira no horizonte, e não se falava em outra coisa a não ser a grande multidão de escravos que deixara aquelas terras. Todos os egípcios pareciam se sentir aliviados com a saída deles. Naquele dia, chegou ao porto de Avaris a felucca que trazia o vizir Jay, após sua estada em várias cidades egípcias para cumprir ordens administrativas do Faraó. Ele soubera o que estava acontecendo enquanto estava fora, pois vira a grande movimentação de hebreus para a capital do Egito, e chegou a presenciar, assim que chegara, a saída dos escravos para o oriente.

Imediatamente, enviou alguns espias para segui-los de longe e verificar para onde se dirigiam, e correu para encontrar-se com o Soberano. Soube das últimas notícias, da morte dos primogênitos, e percebeu que o Faraó estava bastante desolado para tomar decisões tão fortes naquele momento.

Jay estava convicto de sua responsabilidade. Precisava trazer o Faraó de volta à razão, para que pudesse recuperar sua mão de obra escrava, e preparar o Egito para enfrentar seus inimigos que em breve estariam às portas, prontos para destruí-los. Tanis, a cidade fortificada, precisava de obras para estar apta a enfrentar as hordas que estavam por vir, e também precisavam diminuir a idade militar dos jovens egípcios, a fim de aumentarem a força do exército e lutarem contra tantos que vinham contra eles. Não podia esmorecer, nem permitir que o Egito sucumbisse. Precisava, urgentemente, ajudar o Soberano a tomar a decisão correta em momento tão delicado. Esta era uma de suas funções como vizir, e não deixaria o Egito morrer naquele momento.

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