Aquela noite havia sido difícil. Após discutir com seus filhos sobre quais estratégias tomar para defender as terras do Egito contra os hititas, recolhera-se a seus aposentos, onde, sob suas ordens, Anippe já o aguardava.
— Meu senhor... — disse-lhe ela de braços abertos.
Ramsés fez-lhe um sinal para que ela se calasse. Ele não queria palavras de consolo ou qualquer outra coisa. A única coisa que desejava naquele momento era o calor dos braços de sua esposa. Mal percebeu os enfeites e adornos que Anippe trazia, pois seus pensamentos haviam sido carregados pelos ventos do deserto. Naquele momento, só desejava estar em seus braços, abandonando-se às carícias de sua mulher. E, quem sabe, outro herdeiro estaria a caminho?
Anippe lhe deu toda sua atenção e amor, e Ramsés descansou ao seu lado pelo restante da noite, dando permissão à sua esposa para tomar o desjejum em seus aposentos e, só então, voltar ao Harém.
A nova serva de Isisnefer veio lhe dar as notícias.
— A senhora Anippe acaba de deixar os aposentos do rei.
Isisnefer continuou em silêncio. Ainda não confiava na nova serva. Aguardou enquanto ela lhe contava sobre sua aparência, como estava ornada, e que havia feito a primeira refeição nos aposentos do Soberano. A tudo, Isisnefer ouviu calada, enquanto tomava seu próprio desjejum. Nenhuma expressão facial, nada. Não sabia se aquela serva lhe servia com lealdade ou se a espionava para entregar-lhe ao Faraó. Por enquanto, aproveitava as informações que trazia sem que ela lhe pedisse, e ficava sempre silenciosa. Dispensou a serva em seguida e planejou seu passeio matinal.
Anippe estava em busca de gerar um filho de Ramsés. Ela teria que pensar em algo para impedir que aquela criança vingasse. Mas como poderia fazer isso, se seu filho Khamuaset não mais estava no palácio, e já havia deixado Avaris para morar no templo de Ptah, em Memphis? Suspirou, lamentando em seu íntimo. Se ainda pudesse contar com a presença dele, com certeza teria em mãos um preparado para inutilizar o ventre de Anippe. E assim, poderia manter seu próprio filho como o próximo herdeiro ao trono egípcio.
Teria de pensar em alguma outra coisa. Evitar que Anippe gerasse um filho a Ramsés, e manter seu lugar naquele palácio. Esperava conseguir pensar em algo rapidamente, ou isso poderia custar-lhe a vida dentro de sete anos.
De qualquer maneira, tinha mais com o que se preocupar. Naquela mesma semana haveria o cortejo fúnebre de Nefertari, Amenhotep, Pahermenef e das esposas e crianças que morreram na Praga do Sangue. Isto significava que Henutari, Henutmire e Meritamon passariam a frequentar os aposentos de Ramsés. E que haveria mais ventres a serem fertilizados, mais herdeiros para competirem com seu filho e, o pior de tudo, esses novos herdeiros seriam em nome de Nefertari, a Grande Esposa Real.
***
Pela manhã, Jetro acompanhou Moisés até a Tenda da Congregação.
— O que você faz todos os dias? — perguntou-lhe.
Moisés sorriu.
— É um trabalho duro, meu sogro. Você o verá.
E realmente Jetro viu o que acontecia. E ficou abismado. Uma fila gigantesca se formou do lado de fora, pessoas de várias localidades do acampamento se aproximaram, chegando cedo para falar com Moisés. Inúmeras causas eram trazidas para que ele resolvesse. Casos de roubo de ovelhas, brigas entre irmãos, discussões entre esposas de um mesmo homem, vizinhos de tendas que se desentendiam por várias razões, desconfiança de um homem por sua esposa, enfim. Casos e mais casos eram trazidos para que Moisés resolvesse, julgasse, desse sua sentença. E aquilo durou todo o dia, não tendo um só momento de descanso.
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A Princesa de Cuxe
Historical FictionUm romance entre uma princesa sem reino acusada de assassinar a rainha do Egito e um príncipe filho de escravos, ambientada no Egito Antigo, no Reino de Cuxe e nos desertos cativantes de além Mar Vermelho. Esta história começou a ser publicada em 13...