Iana foi jogada numa cela quadrada, cujo chão era coberto de palha e não havia janelas. A porta foi trancada e ela se sentou a um canto. As esperanças haviam se esgotado. O que fazer?
Tomou uma pedrinha do chão para ajudá-la a se coçar. Não havia uma cama, e teria de dormir em cima de uma única esteira suja que havia por ali. Como se fosse conseguir dormir com todos aqueles piolhos a atormentando. Sequer sabia quanto tempo duraria sua vida a partir daquele momento. Ramsés estava aturdido, ela sabia. Nefertari sempre fora o amor de sua vida. Alguém a havia matado por envenenamento, mas não fora ela. Alguém mexera no amuleto.
Disso ela tinha certeza, pois a Grande Esposa Real já usara o amuleto antes, e ela mesma o tocara diversas vezes e não fora contaminada. Sequer ficara doente. Lembrou-se do servo que adentrara os aposentos da rainha dias antes, enquanto cuidava de suas perucas. Mas não vira seu rosto. Como saber quem ele era?
Como sair daquela situação?
Não havia meios.
Apenas colocou-se de joelhos, como achava que devia, encostou sua testa no chão e, fazendo o máximo esforço para conservar-se nesta posição sem se coçar, chorou, implorando ao Deus de Moisés que a salvasse daquele trágico fim. Se assim o fizesse, ela o seguiria para sempre, até o fim de seus dias, abandonando os deuses egípcios.
***
Moisés e Arão adentraram o salão, e foram recebidos por Jay, vizir de Ramsés.
— O Soberano não poderá recebê-los.
— Sabemos que Ramsés sofre por causa da morte da rainha Nefertari, e é por isso que estamos aqui.
— O Senhor das Duas Terras — Jay fez questão de enfatizar o título do Faraó ante Moisés, que o chamou pelo nome — já avisou que não receberá ninguém hoje, principalmente o homem que causou tanto sofrimento a todos nós.
Como quem deixa claro, Jay coçava desesperadamente sua cabeça. Moisés assentiu.
— Compreendo. Mesmo assim, você irá avisá-lo de que estamos aqui e que seremos recebidos. Podemos fazer a Praga dos Piolhos desaparecer.
Jay engoliu em seco. Sabia que era verdade, mas não sabia se deveria ou não interromper o Soberano. Ele estava, naquele momento, com os seus filhos sacerdotes, diante do corpo de Nefertari.
Suspirou e resolveu arriscar, indo até o Faraó, deixando os dois hebreus na sala do trono acompanhados de Menik e outro oficial.
***
Husani estava preocupado com Iana. Ela não merecia estar presa. Sabia que a moça jamais faria algo para prejudicar Nefertari. De qualquer maneira, precisava falar com ela. A informação que ela pedira parecia ser importante, ainda que ela não lhe revelasse o motivo. Deu algumas peças de ouro a um guarda e conseguiu vê-la, sem que ninguém mais soubesse.
— Sehpset! — Exclamou Iana. Seus olhos traziam pesar e tristeza.
— Iana Urbi. Precisava vê-la. Lembra-se da pesquisa que me pediu para fazer?
— Sim! Claro! O senhor o conseguiu?
— Sim. Descobri a localização exata da mastaba onde o tal vizir hebreu foi sepultado.
Iana sorriu, mesmo em meio aos problemas e às coceiras.
— Então, faça-me um favor. O último.
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A Princesa de Cuxe
Historical FictionUm romance entre uma princesa sem reino acusada de assassinar a rainha do Egito e um príncipe filho de escravos, ambientada no Egito Antigo, no Reino de Cuxe e nos desertos cativantes de além Mar Vermelho. Esta história começou a ser publicada em 13...