Menik estava no meio do largo do poço menor, sem saber se aquela era realmente a área onde morava a mãe de Moisés, segundo ouvira. Algumas janelas abriram-se em pequenas frestas, mas ninguém saiu. As rãs subiam em montes por suas pernas, e ele não se importava. Apenas gritava, com espada empunhada, por Moisés.
Foi quando uma das portas se abriu, e ele saiu.
Viu quando as rãs se afastaram num círculo ao seu redor. Ele se aproximou do soldado, calmamente, um passo após o outro, as mãos atrás do corpo, o semblante tranquilo, sem nenhuma alteração. Não dizia nada.
Menik apontou a espada para ele, que tremia de leve. Concentrou-se. Já havia enfrentado exércitos ao lado dos egípcios, tanto hititas quanto hicsos, e não teria medo de um único homem hebreu, exilado, que morara por anos longe do Egito como pastor de ovelhas.
Respirou fundo, acalmando seu coração e focando seu alvo. E atacou.
As rãs atrapalharam, praticamente tropeçava nelas, enquanto Moisés apenas dava passos de lado, desviando de todos os seus golpes à espada, sem que ela lhe tocasse. Não fazia esforço, e não desviava o olhar dos olhos do núbio, que a cada golpe ficava mais nervoso por não conseguir acertar sua vítima.
Menik tentava firmar os pés no chão para atacar, mas as rãs o impediam, se movendo sobre eles, subindo umas nas outras e agarrando-se em suas pernas, enquanto Moisés ficava cada vez mais próximo, desviando-se de seus golpes. Até que, em um determinado golpe, Moisés agarra o braço de Menik, afastando-o de lado, e forçando seu pulso para trás, fazendo com que a espada caísse no chão, partindo algumas rãs no meio por causa da lâmina afiada. Como se fosse um único movimento, Moisés virou o mesmo braço para trás, torcendo-o nas costas de Menik, e com o outro braço prendeu-o pelo pescoço.
— Pare, soldado.
Sua voz era firme, mas não era alta. Tinha o volume suficiente para fazer Menik arrepiar-se de medo. Estava desarmado e Moisés poderia matá-lo sem esforço.
— Há quarenta anos não preciso lutar, mas fui general de tropas no exército dos Faraós Horemheb e do meu avô, o primeiro Ramsés. Lutei mais lutas do que você lutou, e pelo visto, Deus não me tirou minha habilidade com a espada e com as mãos.
Soltou o soldado, empurrando para longe, fazendo-o se desequilibrar e cair sobre as rãs, esmagando algumas, e outras imediatamente subiram por seu corpo. Moisés abaixou-se e pegou a espada, que agora jazia no chão com apenas duas rãs partidas em duas partes cada uma; o círculo de proteção afastando as rãs vivas de perto dela quando ele se aproximou. Tomou-a nas mãos e se aproximou do soldado, fazendo com que as rãs fugissem de cima dele, deixando-o livre por alguns instantes. Apontou a espada para o pescoço do soldado.
— Se eu o quisesse morto, soldado, você estaria morto. Ande, vá embora. Volte para o palácio. Amanhã pela manhã, as rãs não mais o incomodarão.
Moisés deu um passo atrás, e segurou a espada ao lado de seu corpo, demonstrando que não a devolveria. Menik levantou-se rapidamente e correu, atrapalhando-se com as rãs no meio do caminho, mas sequer olhou para trás.
Moisés observou-o até desaparecer dali, deu a volta e se dirigiu para sua casa. Todas as casas daquele largo tinham frestas abertas na janela, por onde seus moradores observaram a cena. Entre eles, Nadabe, filho mais velho de Arão, sobrinho de Moisés.
Ele ficou maravilhado com o que viu.
***
— Durma aqui esta noite, Iana — convidou Bithyah. — Descanse. Você precisa. Amanhã pela manhã o Egito estará livre da Praga das Rãs.
Iana olhou para o aposento grande e luxuoso, e encontrou umas mantas e almofadas, que usou para fazer uma cama ao lado do amontoado de almofadas onde Makena também dormira.
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A Princesa de Cuxe
Historical FictionUm romance entre uma princesa sem reino acusada de assassinar a rainha do Egito e um príncipe filho de escravos, ambientada no Egito Antigo, no Reino de Cuxe e nos desertos cativantes de além Mar Vermelho. Esta história começou a ser publicada em 13...