Chegando ao poço central de Gósen, Khamuaset e Meryaton juntaram os sacerdotes numa linha em frente a ele, imitando as ocasiões da Praga do Sangue e da Praga das Rãs. Ouvindo falar que eles estavam ali, hebreus apareceram de diversas partes da vila, amontoando-se nos cantos para ver o que eles fariam, e ficaram com medo por causa dos piolhos. Se eles transformassem o pó da terra de Gósen também em piolhos, será que eles ficariam fora de suas casas?
Khamuaset segurava o cajado de Moisés, e isso também chamou a atenção de todos.
— Vejam! — disse alguém. — Ele está com o cajado que Arão usou para invocar as pragas!
— É o cajado de Moisés — disse outra pessoa.
— Então, se ele invocar a Praga dos Piolhos para nós, não ficaremos livres dela! É o fim! — disse mais um.
Moisés observava a tudo com os braços cruzados, sem nenhuma expressão. Quando os hebreus percebiam o cajado nas mãos de Khamuaset, olhavam para ele, mas não conseguiam saber o que Moisés estava pensando ou pretendendo. Ele sequer demonstrava que lhe haviam tomado o cajado.
— Será que ele o deu ao sacerdote? — perguntou Zicri ao irmão.
Corá fez uma careta de pouco caso, mas não respondeu, nem tirou os olhos do sacerdote, que agora dava um passo à frente, erguendo uma das mãos, assim como Arão. Meryaton e os magos ergueram as mãos em várias direções de Gósen, e Khamuaset ergueu sua voz.
— Assim diz o Senhor de Israel!
Os hebreus estremeceram. Como aquele sacerdote dos deuses egípcios tinha a audácia de falar em nome do Deus de Israel? Estavam atônitos e assistiam ao homem invocá-lO.
— Que venha o julgamento de Deus sobre a terra de Gósen! Que venha a Praga dos Piolhos!
E Khamuaset, imitando Arão, bateu com o cajado sobre a terra.
E nada aconteceu.
Ele olhou para seu irmão Meryaton, que encolheu os ombros. Era ele quem sabia como invocar a Praga da maneira que sua mãe havia lhe contado. Khamuaset tentou novamente, mas obtendo o mesmo resultado. Uniu-se aos demais magos e, juntamente com seu irmão, tentaram reproduzi-la da maneira antiga, invocando Geb, o deus da terra, e Thoth, o deus da magia e da sabedoria oculta.
Sem conseguir nada, alguns hebreus foram se retirando, e voltando para suas casas. Poucos ficaram por ali, e Khamuaset percebeu que não adiantaria. Não conseguiriam fazer nada daquela vez. Com raiva, jogou o cajado de Moisés no chão, ao que ele se aproximou para pegá-lo. Quando se levantou, olhou nos olhos do filho de Ramsés.
— Não é o cajado quem tem poder, nem mesmo eu ou Arão. É o Deus de Israel quem derrama os julgamentos. Diga a Ramsés, seu pai, que Deus derramou a Praga dos Piolhos para que todos saibam que Ele reina acima dos deuses do Egito, e que Ele está acima do Faraó. Se Ramsés não deixar meu povo ir, a Praga permanecerá.
E eles se retiraram.
***
No jardim do Harém, Iana em agonia tira toda a roupa e mergulha completamente nua na piscina, obtendo alívio momentâneo da praga. Sua pele está cheia de feridas, que ardem um pouco, por causa da coceira sem parar. Tenta ficar o máximo possível dentro da água, e depois de emergir, percebeu que havia alguém parada ao lado, na borda da piscina, observando-a. Assustando-se olha para cima.
Era Isisnefer, com cara de poucos amigos. A seu lado, Kéfera, como que pressentindo o perigo, miava.
— Senhora?
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Princesa de Cuxe
Historical FictionUm romance entre uma princesa sem reino acusada de assassinar a rainha do Egito e um príncipe filho de escravos, ambientada no Egito Antigo, no Reino de Cuxe e nos desertos cativantes de além Mar Vermelho. Esta história começou a ser publicada em 13...