Capítulo 31

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Mal os raios de sol atingiram o Egito pela manhã, o céu se escureceu, como se uma nuvem o cobrisse. Ramsés não havia dormido. Apesar de estar livre dos piolhos, a morte de Nefertari o deixara abatido o suficiente para permanecer em claro até que Khepri se levantasse. Manchas escuras se instalaram abaixo de seus olhos, e seu corpo exigia descanso. As feridas estavam abertas e ardiam, mas ao menos não mais coçavam.

Ele estava à janela para ver o nascer do sol quando viu também aquela nuvem estranha. Era escura, mas não parecia nada com uma nuvem comum. Parecia subir da terra e se erguer, vindo do oriente.

— Mas o que é isso?

Não houve resposta àquela pergunta. Ficou assistindo aquela nuvem se aproximar, cobrindo o Egito por todo o lado oriental, vindo em direção a Avaris. Foi quando se deu conta do que se tratava, lembrando-se imediatamente da visita de Moisés no dia anterior.

— Não pode ser...

Tão logo falou, os enxames de moscas invadiram seu quarto pela janela onde estava, e o cobriram.


***


Iana estava em Gósen quando viu o céu escurecer e foi para o largo do poço, onde outros hebreus já se encontravam. Ela havia deixado de usar a peruca egípcia desde a Praga dos Piolhos, com sua cabeça ferida, mas ainda vestia túnicas egípcias. Todos ali sabiam de quem se tratava, mas ninguém havia dito nada. Apenas a olharam, e voltaram seus olhares para o céu, para a nuvem preta de moscas que passava por eles, sem pousar em nenhuma parte da terra dos hebreus.


***


No palácio, Isisnefer tomava seu banho matinal, repleto de óleos aromáticos, quando seus aposentos foram tomados por aquela nuvem de insetos. Ela tentava afastá-los, mas eles eram atraídos pelos óleos em seu corpo e estavam em toda a parte. Mergulhou e, debaixo da água, podia ver centenas de moscas sobre a superfície da água, eclipsando a luz. O asco apoderou-se dela, mas a necessidade de respirar foi pior e ergueu o corpo da água, sendo imediatamente coberto pelas moscas, que eram maiores do que as moscas comuns.

E elas procuravam pousar exatamente nas feridas deixadas pela Praga dos Piolhos.


***


A balbúrdia se instalou no Egito. No Harém, as mulheres corriam de um lado a outro, tentando espantar as moscas, sem sucesso. Khamuaset e Meryaton, na ala dos sacerdotes, tentaram produzir algum preparado para repeli-las, mas de nada adiantou. Elas continuavam pousando em suas feridas, e eles já sabiam qual era sua intenção.

— Estão colocando ovos nas feridas! — gritou Khamuaset.

— Precisamos matá-los agora! — falou Meryaton, correndo para uma garrafa de vinho e derramando nas feridas abertas, gritando de dor em seguida.

— Ajude-me com o preparado para matar os ovos, ou teremos um palácio cheio de doentes, com larvas de moscas comendo suas carnes por dentro!

Eles tentaram espantar as moscas da bancada onde preparavam os remédios e soluções, mas estava cada vez mais difícil. Era ruim até para falar, pois eram moscas demais e tentavam entrar em suas bocas.


***


Bithyah, em seu quarto, estava livre dos enxames, que não entravam ali. Junto com ela estava sua dama cuxita, Makena, que também acabou livre das moscas.

A Princesa de CuxeOnde histórias criam vida. Descubra agora