Chegaram a Buhen no final do dia e Iana se sentia extremamente cansada por causa do calor. Os servos descarregaram a bagagem e seguiram para a estalagem. Ao longe, na outra margem do rio, ela viu uma caravana seguir viagem, mesmo com a noite se aproximando. Franziu o cenho. Não conseguia ver de quem se tratava, mas era uma caravana grande. Vinha de cima, e seguia para o Baixo Egito.
Aproximou-se de um funcionário do porto de Buhen, que os auxiliava com as bagagens.
— Você sabe que caravana é aquela?
O homem olhou na direção que Iana apontava.
— Oh, sim. É a segunda caravana militar que desce para o Baixo Egito.
— Militar? São soldados? De onde estão vindo?
— De Cuxe.
Ela olhou de novo. Sim, o homem estava certo. Agora podia perceber que se tratavam de soldados núbios. Mas, por que desciam para o Baixo Egito?
— O senhor sabe de alguma coisa? Por que eles estão descendo?
— Não sei, não senhora.
Ela olhou mais atentamente e percebeu que a caravana toda seguia a pé.
— Não há animais, nem cavalos...
— A senhora não soube? — disse o homem.
— Do quê?
— Todo o gado morreu. Não tem mais vacas, nem cabras, nem ovelhas ou cavalos. Todos morreram de alguma doença inexplicável.
— Mas como?
— Dizem que são as tais pragas. Os comerciantes que vieram de Avaris disseram que as coisas estranhas que aconteceram nos últimos dias estão sendo desencadeadas por um homem, um hebreu. Segundo eu mesmo soube na capital nas minhas viagens, trata-se de um antigo príncipe que voltou ao Egito.
Iana ficou perplexa. A nova praga. E agora? Como estaria Avaris? E Kerma? Ela olhou para o funcionário. Percebeu que alguns camelos foram trazidos para serem carregados.
— E de onde vieram estes? — perguntou ela intrigada com a aproximação dos animais que lhe serviriam de transporte.
— Eles não morreram porque, por milagre, estávamos em caravana no deserto oriental, fora dos limites egípcios. Não foram atingidos pela tal praga.
Iana suspirou aliviada. Mas percebeu que não eram muitos animais. O homem deu instruções para o carregamento dos camelos com algumas bagagens e se afastou, e a comitiva seguiu pela cidade para a estalagem. Iana tinha muitas perguntas. Mas não sabia a quem fazê-las. Só obteria as respostas quando chegasse ao palácio de Kerma. Ainda tinha em sua mente a caravana militar descendo a pé. Se uma caravana militar daquele tamanho descia, e já era a segunda, com certeza seus irmãos a estavam liderando. Mas, qual a razão? Quando estava no palácio do Faraó, não soubera de nenhuma solicitação do Soberano para que os exércitos cuxitas se juntassem em Avaris.
"Será que estão montando um exército para lutar contra os hebreus?" o pensamento passou por sua cabeça, e imediatamente foi abandonado. Não. O Soberano não teria motivos para atacar seus próprios escravos, que estavam sob seu comando. Eles não tinham força, ferramentas ou condições de lutar contra os egípcios, embora tivessem número. Mas, e quanto à morte dos animais? Se um povo decidisse invadir o Egito, após tantas mortes por causa das pragas e sem os animais de guerra, o território seria facilmente conquistado, disso ela sabia. Talvez esta fosse a razão da convocação do exército núbio: fortacelecer o Egito e a sua capital.
Aquela imagem da caravana ainda permaneceria em sua mente por bastante tempo.
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A Princesa de Cuxe
Historical FictionUm romance entre uma princesa sem reino acusada de assassinar a rainha do Egito e um príncipe filho de escravos, ambientada no Egito Antigo, no Reino de Cuxe e nos desertos cativantes de além Mar Vermelho. Esta história começou a ser publicada em 13...