A situação era insustentável. A gritaria e o desespero não paravam. Ninguém saiu às ruas com medo da escuridão. Finalmente, depois de tanto tempo, Rá perdeu sua luta para a Serpente Apopi, e agora ela vinha devorar o mundo. Esse era o pensamento de cada egípcio em cada canto daquela terra. O medo estava espalhado por todos os cantos. E o pior de tudo era sentir, em alguns momentos, como se a própria escuridão quisesse tocá-los, agarrá-los e arrastá-los dali. A sensação era aterradora.
Ramsés, após sair de seu quarto, foi empurrado de lado por alguém que passava. Praguejou e, em seguida, ouviu essa mesma pessoa cair ao chão e chorar, implorando por sua vida após reconhecer a voz do Soberano. Ramsés apenas ignorou os choros e mandou que a pessoa se levantasse.
— Quem é você?
— Sou apenas um servo do palácio!
— De onde você está vindo?
— De meus aposentos, meu Senhor. Pensei que estava me dirigindo à cozinha, mas acabei vindo parar no corredor dos vossos aposentos! Perdoe-me! Não foi minha intenção, eu me perdi! Não consigo enxergar nada e...
— Basta, servo inútil! Ande, volte por onde veio!
O servo saiu da presença de Ramsés, ele podia ouvir os lamentos e os tropicões pelo caminho. Concentrou-se, mantendo a porta de seu quarto atrás de si. Sabia que se fosse na direção da esquerda, chegaria ao Harém e à Casa Jeneret, bem como aos aposentos das princesas que em breve seriam suas esposas, Henutmire, Meritamon e Henutari; os aposentos de Isisnefer e os de sua mãe, Tye. Seguindo para a direita, chegaria, ao final do corredor, a uma bifurcação. Um corredor seguiria para a Casa de Vida e para a Ala dos Sacerdotes, e o outro o levaria às áreas comuns do palácio, passando ao lado do Salão do Trono. Era por ali que deveria seguir. Haveria uma entrada para a cozinha antes do local onde realizava as audiências.
Com uma mão na parede, Ramsés seguiu para a direita, guiando-se por suas memórias e tomando cuidado para não bater em grandes vasos e estatuetas que ficavam aqui e ali. Por isso, mantinha a mão direita na parede e a esquerda à frente do corpo, reconhecendo os obstáculos a tempo de rodeá-los até chegar à bifurcação.
Lembrava-se de que, nesta bifurcação, havia uma estatueta da deusa Bastet de cada lado. Apalpava cada obstáculo para ter certeza de que se tratava de um vaso ou de outra estátua, até reconhecer o rosto de gato da deusa. Finalmente, havia chegado perto.
Para a esquerda, seguiria para a ala dos sacerdotes. Para a direita, chegaria à cozinha. Tomou o caminho da direita, e seguiu seu caminho. Foi quando viu uma luz em uma sala. Suspirou aliviado. Era uma luz fraca, mas podia vê-la crepitar, lançando sombras no corredor. Logo já podia andar sem precisar segurar na parede.
Quando chegou à porta, viu um homem segurando uma tocha enquanto procurava algo em prateleiras da cozinha. Ele estava sozinho.
— Quem é você? — perguntou Ramsés.
— Soberano! — O homem se curvou. — Meu nome é Quenaz, sou ajudante da cozinha!
— Preciso que me dê esta tocha, Quenaz. Preciso de luz!
Quenaz engoliu em seco.
— Receio que o Soberano não conseguirá segurá-la.
Ramsés franziu o cenho.
— O que quer dizer?
— Quero dizer que não conseguirá segurar a luz acesa. Eu não sei o que exatamente está acontecendo, mas todos os egípcios que me viram com a tocha não conseguiram acender suas próprias velas ou tochas com as chamas desta que está comigo.
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A Princesa de Cuxe
Historical FictionUm romance entre uma princesa sem reino acusada de assassinar a rainha do Egito e um príncipe filho de escravos, ambientada no Egito Antigo, no Reino de Cuxe e nos desertos cativantes de além Mar Vermelho. Esta história começou a ser publicada em 13...