Ao descer novamente do Monte Sinai, Moisés se dirige para a tenda reservada a Zípora e, juntamente com seus filhos, vai para fora do acampamento, onde se encontra a família real da Núbia. É recebido com alegria pelos reis Zaki e Zarina.
— Quando chegaram?
— Hoje pela manhã — respondeu Zaki. — Pensei que nos receberia tão logo chegássemos...
— Eu disse a meu pai que você estava no monte — disse Iana, se desculpando.
Zaki olhou para a filha sorrindo.
— Eu sei o que você disse. — Voltou-se para Moisés. — Mas também soube que você desceu o monte hoje e voltou para lá. Não houve tempo de vir até aqui falar conosco?
Moisés curvou a cabeça em respeito ao rei.
— Infelizmente, não. Meu Deus me deu ordens específicas, as quais eu havia de cumprir imediatamente, e não poderia parar para atender a ninguém. — Zaki arregalou os olhos diante da demonstração de falta de respeito para com ele, e Moisés não se abalou. — Mas vim até aqui assim que pude, e vim também avisar que haverá um pronunciamento dEle.
Zaki franziu o cenho.
— Dele quem?
— De Deus.
Zaki olhou de Zarina para Iana sem entender.
— Do que está falando? O Deus, Deus mesmo, o próprio irá falar?
Moisés assentiu.
— E como vai ser isso?
— Exatamente o que vim avisar. Daqui a três dias. Mas é necessário se purificar para poder se aproximar do monte e ouvir o que Deus tem a dizer.
— E como deve ser essa purificação? Podemos ouvir também? — perguntou Zarina, curiosa.
— Estão convidados a isso, se assim o desejarem. Mas é preciso lavar as vestes que irão usar em três dias. Marcarei um limite ao pé do monte, do qual ninguém deverá ultrapassar, do contrário será morto.
Zaki e Zarina se olharam e voltaram em seguida a atenção para Moisés.
— Também não deverão, durante este tempo, deitar-se com mulher. Eu consagrarei a todos esta noite, e assim deverão proceder. Já avisei aos anciãos e esta mesma recomendação está sendo transmitida a todos no arraial neste instante. Quando soar a trombeta, é chegado o momento de se aproximarem do monte.
Zaki assentiu, e assim que Moisés se retirou com Iana, os dois foram providenciar com seus servos e os nobres que os assistiam a lavagem das roupas de todos e a transmissão de todas as recomendações para o grande dia.
***
Na manhã seguinte, Makena estava lavando as roupas que usaria no dia do pronunciamento. Estava só, pois Iana havia ficado com seus pais no acampamento cuxita, e Menik fora dar as últimas orientações aos soldados e dispensá-los do treinamento naquele dia. Quando voltou da lavagem de roupas com o cesto repleto de peças molhadas, e as estendeu por trás de sua tenda, foi surpreendida novamente por Betir.
— E então, Amenirdes, pronta para voltar a me servir?
Ela soltou as roupas que ainda tinha nas mãos e tentou correr em vão, pois seus pulsos foram agarrados pelas mãos de Betir como algemas de ferro.
— Deixe-me ir! Vou me casar!
Betir riu alto.
— Não, não vai! Uma mulher como você é difícil de encontrar, você sabe. — Aproximou-se do rosto de Makena e, falando baixo, acariciou sua face com as costas de uma mão, enquanto o outro braço a agarrava e prendia: — Em toda Méroe não havia ninguém como você, que aguentasse o que você aguentava!
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A Princesa de Cuxe
Historical FictionUm romance entre uma princesa sem reino acusada de assassinar a rainha do Egito e um príncipe filho de escravos, ambientada no Egito Antigo, no Reino de Cuxe e nos desertos cativantes de além Mar Vermelho. Esta história começou a ser publicada em 13...