A cada dia, Nefertari foi ficando mais doente. No começo, as tonturas foram ficando cada vez mais frequentes. Depois, a fraqueza a dominou por completo. Iana tentava ajudá-la, o sacerdote vinha com frequência aos seus aposentos, mas ela não melhorava.
Lembrou-se do amuleto poderoso que adquirira recentemente e falou com a rainha.
— Tem certeza? — perguntou Nefertari.
— Tenho, senhora. Hobabe me garantiu que era de um feiticeiro poderoso no Eufrates. Acho que pode funcionar.
Mas não funcionou. Nefertari usava o amuleto o tempo inteiro, e vinha definhando a olhos vistos. Iana supervisionava, pessoalmente, a comida que vinha da cozinha. Tudo para evitar qualquer problema. Mas a rainha não melhorava. Sem que houvesse qualquer ligação, por causa de seu zelo pelo que a rainha comia, Iana sempre voltava a se lembrar da noite em que um servo estranho entrara nos aposentos da Grande Esposa Real de modo suspeito. Ela desconfiava, mas não tinha como provar nada, nem mesmo como associar uma coisa à outra.
A comida e a bebida de Nefertari eram produzidas sob o olhar minucioso de Iana, e ela mesma a levava aos aposentos reais. Mesmo assim, a rainha emagrecia a cada dia. Iana mesmo chegara, em alguns momentos, a comer a comida da rainha, mas não esboçara qualquer sintoma parecido. Concluiu, então, que não se tratava da comida ou da bebida, mas de outra coisa.
Mas o quê?
Ela não sabia dizer.
Foi quando a rainha passou a não mais comer. Preocupada, Iana passou a cuidar dela com mais afinco, impedindo-a, inclusive, de se embelezar. Não havia necessidade, afinal, havia dias que a rainha não comparecia à sala do trono.
O soberano, inclusive, chegou a visitá-la algumas vezes em seu quarto, preocupado. Não sabia o que fazer. Mandou trazer sacerdotes de outras cidades, para cuidar dela, e ela não emitia melhoras. Iana pensara em falar com o Faraó, para ver a possibilidade de mandar trazer o tal feiticeiro do qual ouvira falar.
Foi quando a rainha, sem nenhum aviso prévio, começou a se restabelecer. Ninguém sabia o que havia mudado. Simplesmente um dia acordou mais corada; no outro, tinha os lábios menos ressecados; em outro, sentiu-se mais forte para comer e; no dia seguinte, conseguiu se levantar e dar um pequeno passeio pelo seu jardim.
Iana comemorou, pensou no amuleto usado pela Senhora. Será que finalmente funcionara? Mas desconfiou do que estava acontecendo.
— Senhora, não quero que fique alarmada, por favor, mas vou pedir-lhe algo.
— Pois não, Iana, diga o que quiser e terá.
— Não é nada para mim, Senhora, mas para a soberana.
Nefertari franziu o cenho.
— E o que seria?
Iana foi até a mesa de toucador de Nefertari. Juntou todos os cosméticos da rainha e colocou-os no centro de um tecido de linho, e os amarrou na ponta, formando uma trouxa.
— Gostaria que me desse sua permissão para jogar todos esses produtos fora.
Nefertari continuou intrigada.
— Não entendo.
— Não tenho como provar, senhora, mas acredito que tenha sido envenenada.
Nefertari sorriu.
— Iana, já disse. Há anos sofro de uma fraqueza. O que tive foi apenas um agravante. Sou uma mulher sem saúde. Graças ao seu amuleto, que foi muito auspicioso, minha saúde foi restabelecida, só isso.
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A Princesa de Cuxe
Historical FictionUm romance entre uma princesa sem reino acusada de assassinar a rainha do Egito e um príncipe filho de escravos, ambientada no Egito Antigo, no Reino de Cuxe e nos desertos cativantes de além Mar Vermelho. Esta história começou a ser publicada em 13...