Primeiro uma tosse. Depois, uma falta de ar. Em seguida, uma dor no peito tão forte que parecia estar sendo dissecada antes do tempo. E então, a queda. Tudo bastante rápido. Não havia o que fazer, e nada para socorrer. Zene correu até a porta e gritou por ajuda, mas Tye já estava sem vida no chão. Quando Meryaton foi chamado e chegou com alguns ajudantes, não conseguiu identificar o que acontecera.
Ramsés foi informado e também compareceu ao aposento de sua mãe. O sacerdote examinou-a minuciosamente. Enquanto isso, Zene era mantida presa e vigiada por guardas até que o exame fosse concluído.
— E então? Alguma coisa?
Ramsés estava impaciente. Em menos de um mês perdera muitas pessoas à sua volta. Aquilo não era comum.
— Não há sinais de envenenamento, meu pai — disse Meryaton. — Segundo a dama, ela sentiu uma dor no peito e caiu no chão. Foi tudo muito rápido. Acredito que chegou o momento de seu coração e ela se foi.
Ramsés franziu o cenho. Bem, sua mãe não era uma mulher doente, mas realmente já era velha para os padrões egípcios. Ele mesmo tinha quarenta e nove anos. Cairoshel era a única egípcia tão velha. Nunca ouvira falar de egípcios chegando a uma idade tão avançada. Suspirou. Chegara o tempo de Tye.
— Está bem. Iniciem o processo de embalsamamento e mumificação. Pelo visto, teremos muitos funerais daqui a alguns dias.
Meryaton confirmou com a cabeça, mas algo em seus olhos não compactuava com aquela afirmação. Algo ali não cheirava bem, e ele descobriria. Não tinha provas. Zene não tinha acesso à sala dos sacerdotes, e Khamuaset não saíra de lá um só momento, ele mesmo tinha como verificar. Então, o que acontecera?
Foi quando ele se lembrou da visita estranha que Isisnefer lhes fizera na ala aquele dia. Uma visita que ela nunca faria. Uma serva que desmaia. E ela de repente entra na sala dos sacerdotes. O que Isisnefer estava fazendo passeando pela ala e pelos corredores da Casa dos Homens, justo no mesmo dia em que Tye morre?
Ele iria descobrir.
***
Menik nunca havia ficado tanto tempo do lado de fora depois que escurecia. Sempre sentira temor pela noite, pela ausência de Rá, e pelos perigos que a escuridão podia trazer. Não importava se Khonsu brilhasse em toda a sua glória de lua cheia, ou se as estrelas do ventre de Nut salpicassem o céu com suas luzes. Fora criado a sempre se resguardar quando fosse noite.
Mas naquela noite, ele estava agitado, e a casa de Yoquebed parecia cheia demais para seus pensamentos. Naquele momento, Moisés, sua mãe e sua irmã estavam à mesa, acompanhados da princesa Cairoshel, agora Bithyah – nome com o qual ainda não se habituara – e a dama cuxita Makena. Ele não suportava ficar ali mais um instante, e se retirou para respirar um pouco.
Ele estava sobrando. Sabia. Era demais ali. Nunca gostara de Moisés. E saber que Iana Urbi o amava deixava seu coração ainda mais despedaçado. E agora, ser cuidado por sua família, estar hospedado em sua casa, aquilo era demais para ele. Por isso se retirou. Queria voltar para a Núbia. Queria estar em seu lar novamente.
Mas... Qual era seu lar?
Olhou para as estrelas. Não tinha um lar. Menik vivera a vida inteira para adentrar o exército de Cuxe. E desde a infância amara Iana, desde o primeiro momento em que a viu. Crescera dentro do palácio, sendo educado pelos melhores professores a fim de servir ao exército – tudo isso por generosidade do Rei Zaki, visto que perdera seus pais ainda criança. Ele fora aceito e se tornara um grande general. E quando Iana veio para Avaris, ele também viera. E também fora aceito no exército egípcio.
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A Princesa de Cuxe
Historical FictionUm romance entre uma princesa sem reino acusada de assassinar a rainha do Egito e um príncipe filho de escravos, ambientada no Egito Antigo, no Reino de Cuxe e nos desertos cativantes de além Mar Vermelho. Esta história começou a ser publicada em 13...