Alívio. Físico, emocional, espiritual e tudo o mais que Iana podia citar. Era o que sentia. Alívio total. Os piolhos não a atormentavam mais. Não iria morrer. Infelizmente, sua senhora Nefertari não estava mais ali. Gostava dela. Mas só o fato de haver tido um julgamento justo, e de o Soberano ter acreditado nela e a libertado, aquilo já a deixava aliviada, pois era algo do qual jamais pudesse esperar.
Sabia que Menik tivera algo a ver com isso, e assim que tomou um banho e se alimentou, foi procurá-lo.
— Não sei como agradecê-lo, Menik!
— Não tem que me agradecer. Você é minha princesa, e fiz o que devia ser feito. Eu devo isso a seu pai, à sua família, e ao Reino de Cuxe. Jamais me perdoaria se não tivesse tentado ajudá-la. De qualquer maneira, sempre acreditei em você.
Iana não podia dizer nada, pois estava muito emocionada. As coisas entre eles haviam ficado estranhas, mas mesmo assim, ele se arriscou para ajudá-la.
— Você não tinha mais vínculos com o Reino de Cuxe, havia se desligado do exército núbio e se juntado aos exércitos egípcios, jurando lealdade ao Faraó. E eu, aqui, não sou uma princesa. Além do mais, estava presa, acusada de assassinar a Grande Esposa Real. O que você fez foi muito além, Menik.
— Você não percebe, Iana? Não importa onde você esteja, nem que posição ocupe. Não importa o que eu faça, ou a quem jure lealdade. O que importa é que eu sempre serei fiel a você, e você sempre será minha princesa.
Iana chorou silenciosamente, os olhos focados no olhar de Menik. Sentindo-se forte, ele se arriscou, estendendo o braço e, com as costas da mão, enxugou delicadamente as lágrimas de Iana. Ela não se moveu e nenhum dos dois disse nada. Depois de algum tempo, ela deu um passo atrás, e ele estendeu seu braço ao longo do corpo.
— Desculpe-me, Menik. Eu gostaria de poder corresponder aos seus sentimentos. Mas não posso. Isso não significa que não seja extremamente grata a você. Não quero magoá-lo, por favor! Apenas não posso ir além.
Ele assentiu, sem nada dizer. Sabia disso. Apenas tinha esperanças, mas não podia forçá-la.
— Ainda assim — disse ele após um período de silêncio —, eu faria tudo novamente. Ainda assim, serei fiel a você. Ainda assim, não a deixarei. Eu prometo.
Iana olhou-o longamente, e depois se retirou, voltando aos aposentos das mulheres no Harém, deixando Menik triste, olhando para as costas da mão, onde ainda havia gotas das lágrimas da mulher que amava.
***
Isisnefer estava completamente fora de si. Como aquilo pôde acontecer? Revisava seus passos, mas nada havia sido feito fora do planejado. Simplesmente subestimara seus bailarinos*, e acabou por pensar que eles agiriam conforme ela havia traçado. Mas, na real vida, eles tinham vontade própria. Não contou com Tye, muito menos com a coragem de Anippe em desafiá-la.
Anippe.
Aquela esposa havia contado toda a verdade a Ramsés e agora ela não tinha nada para manipulá-la. Agora, ela estava nas mãos do Soberano, e precisava estar grávida. Do contrário, seria morta. Se não estivesse grávida, se seu sangue descesse, precisaria fingir que não acontecera para ganhar tempo. Precisaria fugir do palácio, sumir. Mas como o faria, se estava sendo vigiada o tempo inteiro?
Esperou algum tempo e olhou por uma fresta na porta. Lá estavam os guardas que protegeram as portas de Nefertari. Agora, eles guardavam suas próprias portas, impedindo-a de sair para qualquer lugar que não fosse o jardim, acompanhada de um eunuco. Aquilo era muito ruim. Muito ruim.
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A Princesa de Cuxe
Historical FictionUm romance entre uma princesa sem reino acusada de assassinar a rainha do Egito e um príncipe filho de escravos, ambientada no Egito Antigo, no Reino de Cuxe e nos desertos cativantes de além Mar Vermelho. Esta história começou a ser publicada em 13...