Capítulo 36

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Yoquebed havia acabado de retirar o pão do forno quando Moisés entrou na cozinha em silêncio.

— Acordado tão cedo, filho?

Viu quando ele, com uma pequena espátula de madeira, raspou algumas cinzas de dentro do forno para fora, e as depositou num pequeno vasilhame de barro.

— O que está fazendo? — perguntou Yoquebed, curiosa.

— Fazendo o quê? — perguntou Miriam, entrando na cozinha e espreguiçando-se.

— Seu irmão que está colhendo cinzas do forno.

Miriam franziu o cenho e se aproximou.

— Deve ser o suficiente — disse Moisés.

— Para quê? — perguntou a mãe, ainda observando-o com curiosidade no olhar.

Ele apenas suspirou, olhando as cinzas na vasilha. Olhou para sua mãe, colocando o prato com o pão recém-tirado do forno, e para sua irmã, servindo-se de um copo de água fresca.

— Haverá uma nova praga hoje.

As duas pararam o que estavam fazendo e focaram o olhar nele.

— Outra? — as duas falaram ao mesmo tempo.

— Sim.

— O que será dessa vez? — perguntou Miriam.

— Algo terrível. — Balançou a cabeça — Novamente Deus nos protegerá. Não seremos atingidos.

E se retirou, sem realmente responder à pergunta de sua irmã.


***


De Buhen, a comitiva de Iana subiu, desta vez por terra, em direção a Kerma. O trajeto comum seria acompanhando o rio, mas era impossível fazê-lo por aqueles dias, por causa das carcaças de peixes e rãs, principalmente nas áreas longe das cidades. Então, todos seguiram a uma certa distância, e teriam de fazer um caminho mais longo para chegar até lá. Indo pelo interior do Reino de Cuxe, quase no limite ocidental do Deserto da Núbia, a comitiva seguiu, subindo, e cruzou com alguns viajantes núbios, comerciantes, que desciam para a capital do Egito.

Iana pediu que parassem a caravana de comerciantes e pediu para falar com o dono. Perguntou pelas cidades núbias.

— Estão melhores do que as cidades do Alto e Baixo Egito, seguindo pelo rio, senhora — respondeu o comerciante. — O valoroso Rei Zaki tem cuidado bem das cidades. Kerma tem brilhado, como sempre, e não há mais sinal das maldições que tem caído sobre nós há duas semanas. Dongola também tem sido bem cuidada, bem como Karwa e Napata. Mesmo as cidades mais ao longe, subindo o Nilo, tem sofrido menos com isso. A partir de Musawaraf, no limite sul, já não caem mais as maldições.

— Apenas no território pertencente ao Egito... — disse Iana mais para si mesma, mas o comerciante confirmou.

— Exatamente. Acreditamos que tem sido um castigo dos deuses. Talvez, nós não tenhamos adorado os deuses com maior devoção. Por isso, estou levando toda esta carga.

— Não está descendo para negociar? — perguntou ela, franzindo o cenho.

— Não. Na verdade, meu negócio está quase falido. Perdi meus animais, tendo que comprar outros de reinos mais ao sul de Cuxe. Pouco sobrou para negociar, e poucos querem comprar algo que não seja comida ou bebida. Então, estou levando algumas oferendas em nome de minha família aos deuses na capital Avaris, para que nossa sorte seja alterada para um destino mais auspicioso.

A Princesa de CuxeOnde histórias criam vida. Descubra agora