— Ele está aqui — disse Makena, ao entrar correndo nos aposentos de Cairoshel.
A princesa, apesar de pronta para recebê-lo, se surpreendeu.
— Tem certeza?
— Sim, senhora! Acabei de ouvir um soldado comentar com o outro. Ele está lá no jardim principal do palácio, conversando com o Soberano.
— Ele veio!
A velha senhora sorriu para sua dama, compartilhando sua felicidade com ela.
— Espero que ele consiga permissão para ver-me.
— Não sei, senhora, mas acho que ele não precisa pedir permissão.
— Como assim?
— O oficial de que lhe falei comentava que não conseguira dizer não a Moisés, ou impedi-lo de entrar.
— Como assim? — perguntou novamente Cairoshel, intrigada.
— Não sei dizer, e parece que nem mesmo o oficial sabia. Parece que Moisés simplesmente entrou e ninguém conseguia simplesmente impedi-lo. Não sei, senhora, mas acho que tem algum dedo do Deus dele, aquele que transformou o cajado em serpente, e ela devorou as serpentes dos magos e sacerdotes.
Cairoshel suspirou, cheia de expectativa.
— Estou tão ansiosa!
— Posso imaginar! Acalme-se, senhora. Ele já está aqui. Falta pouco.
***
Ramsés sentou-se ao lado de Moisés, no banco largo e luxuoso da área de descanso do jardim, à sombra de uma figueira, cercados por arbustos e flores. No início não disseram nada. Apenas observaram o jardim, vasto e amplo, com três piscinas retangulares e os vários níveis de plantas, palmeiras, árvores e flores. O Faraó ficou irritado com o silêncio do hebreu e iniciou a conversa.
— O que o faz pensar que tem o direito de vir ao meu palácio e desfrutar do meu jardim sem minha permissão? — apesar da frase, a voz de Ramsés se conservava tranquila, e seu rosto mantinha-se contemplativo.
— Você era uma criança doce. — A voz de Moisés parecia nostálgica. — Convivi pouco com você, mas era um menino inteligente, perspicaz, e muito amável.
— Parece que algumas coisas mudaram depois de sua fuga.
— Como Seti morreu?
A mudança brusca de assunto pegou Ramsés de surpresa. Não queria falar do pai àquele momento. Na verdade, nunca quis falar do pai. Após a morte do Soberano, todos fizeram o que tinham que fazer, os rituais deram-se início e, mais de dois meses depois, quando ocorreu o funeral após os ritos de preparação do corpo e mumificação, ele foi coroado Faraó. Não havia momento ou hora propícia para falar de seus sentimentos. Seu pai havia seguido na companhia de Anúbis para o outro mundo.
Mas, ali, na presença de Moisés, um homem que conheceu seu pai e que, por muito tempo, fez parte da família, sentiu que algo preso dentro de si precisava sair, como a vazante do Nilo, que depois de tanto tempo cheio precisava escoar para que nova vida voltasse a brotar, e as terras do Egito passassem a ser férteis e produtivas de novo.
— Ele não sofreu, se é o que quer saber — disse Ramsés, com a voz baixa. — Caiu doente de repente, e nenhum sacerdote no palácio soube o que fazer. Mandamos chamar sacerdotes de outras localidades, mas não deu tempo de chegarem. Ele morreu dois dias depois.
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A Princesa de Cuxe
Historical FictionUm romance entre uma princesa sem reino acusada de assassinar a rainha do Egito e um príncipe filho de escravos, ambientada no Egito Antigo, no Reino de Cuxe e nos desertos cativantes de além Mar Vermelho. Esta história começou a ser publicada em 13...