Capítulo 37

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Yoquebed ouviu batidas suaves na porta e foi atender. Quando a abriu, nada disse. A mulher que se encontrava diante dela era uma mulher que costumava vir à sua casa muitos anos antes. A mulher que salvara seu filho da morte.

— Entre, princesa.

Bithyah entrou e, lentamente, caminhou até uma cadeira de madeira, sentando-se em seguida.

— Não tenho muito para lhe oferecer, como já sabe — disse Yoquebed num tom amável e cuidadoso, sem saber o que esperar da princesa que estava ali, em trajes simples —. Tenho pão, que tirei há pouco do forno, e tenho água fresca.

Bithyah olhou para a senhora diante dela, solícita, e lhe sorriu.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou Yoquebed.

Bithyah suspirou.

— Vim visitar Moshe, mas acho que não devia ter feito esta visita.

— Por quê? O que aconteceu? — Yoquebed serviu um copo com água fresca e um prato com pão a Bithyah, e puxou um banco, sentando-se diante dela.

— A nova praga se derramou enquanto eu estava no caminho para cá. Não sabia que teria uma nova praga hoje. Na verdade, saí com o nascer do sol, e não vi Moshe no caminho.

Yoquebed franziu o cenho.

— Bom, ele deve ter ido por outro caminho, e vocês devem ter se desencontrado. Ele saiu cedo, também, e levou cinzas do forno. Disse que ia invocar uma nova praga, mas não disse qual era. Você sabe do que se trata?

— Sim. Minha dama de companhia estava vindo comigo quando foi atingida, assim como vários egípcios que estavam pelo caminho. Uma coisa terrível.

Miriam entrou na sala.

— Oh, princesa. Não sabia que estava aqui. — E fez uma vênia, ao que Bithyah dispensou com um gesto.

— Não precisa dessas formalidades comigo, Puah.

Miriam sorriu diante do antigo nome egípcio de parteira que ela usara. Aproximou-se da egípcia e sentou-se no chão, ao lado da mãe.

— Pois bem. Eu estava dizendo que a praga se abateu sobre o Egito enquanto eu vinha para cá. Minha dama ficou coberta de tumores e pústulas.

— Que horror! — exclamou Miriam.

— Exatamente. Um horror. Ela ainda estava muito ferida por causa das coceiras dos piolhos e por causa de larvas das moscas. Algumas feridas já estavam cicatrizando. Os tumores cresceram nesses locais, abrindo novamente as feridas. As pústulas secretavam líquidos malcheirosos e grudavam as roupas nelas. Mandei-a voltar imediatamente e procurar um sacerdote.

— Acho que não será muito útil — comentou Miriam.

— Sei que não.

— E por que você disse que não deveria ter vindo? — perguntou Yoquebed.

— Ninguém no palácio sabe que as pragas não me atingiram. Ninguém sabe que não fui afetada pelo sangue, ou rãs, muito menos por piolhos. Ninguém entra em meus aposentos, e praticamente não saio de lá desde a praga dos piolhos, pois não tenho uma ferida sequer em meu corpo. E agora, com esta praga de tumores, quando eu voltar ao palácio, se eu cruzar com alguém...

— Saberão a verdade — concluiu Yoquebed.

— Sim. E poderei ser acusada de traição pelo Faraó. Afinal, pelo visto sou a única egípcia que não foi atingida por todas essas pragas. E como sou mãe adotiva de Moshe, eles concluirão que sou leal ao Deus de Israel, e não aos deuses egípcios.

A Princesa de CuxeOnde histórias criam vida. Descubra agora