Capítulo 4

277 19 2
                                    

Os dias no palácio real foram transcorrendo tranquilamente, na medida do possível, para Iana. Aos poucos, foi aprendendo tudo o que podia na Casa Jeneret, e a Grande Esposa Real tornou-se para ela uma quase confidente. A Rainha era muito querida, e gostava de conversar com Iana sobre vários assuntos, jogar senet, passear com ela pelos jardins e sempre a convidava para tomar o lanche, independentemente de ela estar ali apenas como uma Dama de Companhia.

Kefera era sua única lembrança física de Cuxe, e amava estar ao seu lado. A fazia sempre sentir o carinho de sua mãe através de seus olhos sagazes. Nunca saía sem ela, e a própria rainha já havia se afeiçoado à gata. Ela sempre acompanhava os passeios nos jardins da Grande Esposa Real, e Nefertari, por muitas vezes, a tomara nos braços para acariciá-la.

— É uma linda gata. Com certeza Bastet a protege através dela.

Os dias eram bastante agradáveis. Quando não estava ao lado de Nefertari, estava aprendendo com o Sehpset. Estava desenvolvendo cada vez mais suas habilidades, e Husani vinha se surpreendendo com ela. A única coisa que a negava eram aulas da escrita sagrada.

O restante do dia era dividido entre servir à rainha em seus aposentos e passear com ela pelos jardins, ao lado da gata e das aves do palácio. Cada vez mais a amizade das duas se estreitava. Às vezes, ia até o comércio com suas duas novas amigas, as damas Zene e Makena, e compravam perfumes, unguentos e joias para a princesa Cairoshel, a mãe do soberano e a Rainha. E, à noite, conversava com Anippe, a esposa de Ramsés que havia se aproximado dela desde o primeiro dia. As demais esposas a tratavam como uma nobre passando um tempo, sem se importar. Apenas Isisnefer ficava cada vez mais arredia. Quando perguntou a Anippe, ela respondeu:

— Antes de você chegar, Isisnefer fazia companhia a Nefertari.

— Mas... Se Isisnefer é a primeira esposa de Ramsés, e Nefertari é a Grande Esposa Real, a preferida, como Isisnefer fazia companhia para ela?

— Não sei explicar. Desde que Nefertari foi escolhida pelo Soberano como sua preferida, e ele passou a dedicar algumas obras em sua homenagem, Isisnefer passou a tratá-la com dedicação, e a fazer-lhe companhia. A soberana sempre dispensava suas damas para conversar com Isisnefer, e eu diria inclusive até que são amigas. Não sei, realmente, precisar o grau de amizade das duas, elas até que conviviam bastante. Mas desde que você chegou, a soberana dispensa Isisnefer e conversa apenas com você.

— Acredito que isso vá ser um problema para mim...

— Não se preocupe, Iana. Você está sempre ao lado da rainha, e Isisnefer não terá coragem de fazer nada contra você. Além do mais, ela sabe que você estará aqui por pouco tempo. Em seguida, ela voltará a ser a preferida da rainha.

— Eu não entendo — disse Iana, sentando-se em um dos bancos do Harém que se tornara seu favorito. — Se Isisnefer é amarga por ter sido preterida pelo Soberano, por que ela quer tanto ser amiga de Nefertari? Pensei que ela seria sua inimiga...

— Isisnefer é muito astuta, Iana. Não se engane. É uma serpente. Talvez a soberana não saiba quem ela é de verdade, mas não se deixará enganar tão facilmente. Uma mulher que está no cargo de Grande Esposa Real tem, por obrigação, que desconfiar de todos ao seu redor.

— Então por que a soberana a mantém por perto?

— Existe um provérbio egípcio que diz: "Todos têm medo do tempo, e o tempo tem medo das pirâmides". Não existe nada que não venha, com o tempo, a ser esclarecido. Nada pode ser tão imutável a este ponto, a não ser as pirâmides. Não se preocupe. A rainha saberá como tratar de Isisnefer quando chegar a hora.

A Princesa de CuxeOnde histórias criam vida. Descubra agora